quinta-feira, 23 de maio de 2013

SOBRE NÃO SABER O QUE SOU OU TALVEZ NEM PRECISE (MAIS) SER...

Uma das reflexões mais profundas a que me submeti durante esta inesquecível viagem a Goiânia foi a dificuldade hodierna em estabelecer a minha condição de classe: depois de ficar quatro horas preso num aeroporto, por conta de um atraso, senti-me irmanado com aquelas pessoas ricas desesperadas para chegarem aos seus destinos. Havia velhos, mulheres recém-chegadas dos Estados Unidos da América com crianças de colo nos braços, grávidas, professores universitários, usuários de remédios que custavam mais de R$ 1.000,00, e eu, observando toda a baderna que se instaurou, sem saber o que fazer. Ofereceram um ônibus para continuar o trajeto de Brasília até Goiânia, mas esta solução precipitada causou polêmica e ira entre os passageiros confinados no aeroporto. Com razão, aliás. E eu lá no meio...

 Apesar do atraso, cheguei em segurança ao meu destino e vivi como um príncipe popular por alguns dias. Sorri e amei, fui feliz e assim continuo. Mas não sei mais como me definir enquanto associado a uma determinada classe social: desde que me entendo por gente, sinto-me merecedor da pecha de pobre, no sentido aquisitivo do termo. Hoje, outras preocupações me dominam...

 Pensei novamente nestas questões na tarde de ontem, quando uma vizinha mais velha que me molestara sexualmente na infância perguntou se eu havia “pego” alguma guria quando estive na capital de Goiás. Ao invés de uma resposta direta e irritada, preferi conversar com ela sobre as nossas diferenças de valores e anseios. Ao final do diálogo, ela estava tão (ou mais) reflexiva quanto eu...

 Não obstante eu ter odiado o filme “Cores” (2012, de Francisco Garcia), que vi lá em Goiânia, ao lado de amigos e de um muso de beleza incandescente, a minha resistência discursiva em relação ao mesmo foi trazida à tona: em minha opinião particular, o que engendra uma paralisia na pobreza (em qualquer sentido do termo) é a opção voluntária por isto: no filme, seus três personagens medíocres escolhem permanecer no vazio em que arrastam as suas vidas. E, para além das deficiências formais do filme, foi isso o que mais me distanciou dele, o que mais me irritou. É um filme ruim (este foi o consenso entre os espectadores da sessão), mas, para mim em particular, ele funcionou um pouco em sua obviedade. Pena que este seja exatamente o seu maior defeito: ao invés de diagnosticar a ruína de uma geração, associar-se a ele, imitá-la naquilo que ela tem de mais pútrido! Fazer o quê? Foi a escolha dos responsáveis pelo filme...

Wesley PC>

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