domingo, 9 de junho de 2013

A MINHA VAIDADE DE SANTO VERSUS “O IDIOTA SOCIAL” (UM TESTEMUNHO RELIGIOSO):

Para além de eventos emocionalmente desagradáveis que me ocorreram na noite de sábado e que tiveram a sua continuidade narrativa assegurada aqui, declaro-me vitorioso numa pendenga idiotizada entre eu mesmo, em relação interdependente com outrem, e aquilo que eu entendo como minha fé: por volta das 19h, estava no interior do automóvel de um rapaz que acho bastante bonito, porém um tanto intransigente em relação ao modo como despeja a sua inteligência no modo. Falávamos sobre a minha crença em Deus, que ele acha relativamente estapafúrdia, e eu disse-lhe que o fato de eu ser religioso não implica que eu não leve em consideração que Deus possa não existir. Ou seja: eu acredito plenamente em Deus, mas também cogito que esta crença seja prioritariamente subjetiva, formulada a partir de situações e questões que se adéquam com facilidade à minha própria realidade interior, ao meu modo de organizar receptivamente os fenômenos (sociais, inclusive) ao meu redor.

Pois bem, depois de termo-nos despedido sem resolver as nossas pendências – o que é bom, pois assegura que ainda tenhamos muito o que conversar – pensei bastante no referido rapaz quando cheguei em casa, depois de uma lancinante interrupção numa atividade divertida entre novos amigos: estava querendo reassistir ao filme “A Rede Social” (2010, de David Fincher), que encetou este novo meandro dialogístico assimétrico entre eu e o rapaz, por quem ouso me confessar tangencialmente apaixonado, quando o proprietário do quarto onde eu estava chegou, bêbado e ferido. O aparelho reprodutor de DVDs encontrava-se lá, de modo que precisei protelar a sessão. De modo um tanto chistoso, liguei a TV, pedindo, quase inconscientemente, para Deus que, se ele existisse e entendesse o quanto aquela pendenga me era psicologicamente importante, ele permitisse que o filme desejado estivesse sendo exibido nalgum canal fechado...

Apesar de constatar o tom herético deste chiste em forma de oração, vasculhei os canais coma esperança de ser atendido. Depois, desculpei-me silenciosamente para o mesmo Deus, levemente culpado e chateado pelo que me ocorrera anteriormente, quando, de supetão, deparei-me com uma paródia absolutamente genial do filme em pauta no anárquico programa animado “Mad TV”, do canal Cartoon Network. Mais: o tom crítico da paródia confirmava justamente a minha alegação acerca do filme, a de que o seu personagem biografado (o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg) estava sendo sutilmente denegrido, o que era discordante do que pensava o meu opositor, um assumido “super-egoísta” que disse que, ao término do filme, quis ser igualzinho ao protagonista. 

Não entrarei aqui em divergências morais longevas entre eu e o rapaz, mas tendi às gargalhadas enquanto via o episódio paródico, cujas situações zombavam da apatia societal do protagonista, escarnecia de sua índole questionável, fazia patuscada dos componentes técnicos do filme (inclusive comparando a verborragia do ator Jesse Eisenberg à languidez de Michael Cera, que supostamente teria se sentido inversamente imitado na atuação do primeiro) e julgou negativamente a conduta advocatícia do personagem real, tachado de sacana, de oportunista, de traiçoeiro. Senti-me quadruplamente contemplado com este programa humorístico: tanto no que diz respeito ao entretenimento legítimo que ele me proporcionou quanto à confirmação irônica de minhas impressões sobre o filme (que considero ótimo, apesar de não tê-lo compreendido adequadamente no viés formal convertido em discurso - vide crítica), passando pela justificação intelectual de meus argumentos contra o entusiasmo imitativo do rapaz com quem discutia e pela confirmação inconteste de meu amor por Deus, que pode ser uma mera hipertrofia da associação de acasos, mas, ainda assim, é sincero e interminável. Obrigado por existir em mim e através de mim, algo que eu entendo como Deus!

Wesley PC> 

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