Na manhã de hoje, achei de bom tom publicizar um esquete humorístico que funcionou como eficiente ilustração de uma discussão sobre o
descompasso entre os arcabouços técnico e teorético dos cineastas brasileiros
atuais. O exemplo dos realizadores juvenis sergipanos, moldados por institutos
para-profissionalizantes ou por um curso de Comunicação Social com Habilitação
em Audiovisual ainda buscando as suas características constitutivas foi
imediatamente evocado, de modo que fiquei surpreso quando recebi o convite de
assistir ao recente curta-metragem “Terror no Interior” (2013), realizado por
meu amigo e ex-vizinho de bairro Joel Costa.
Depois de nos enfrentarmos bastante nos encontros iniciais –
mais por decisão dele que minha – hoje mantemos uma boa relação de convivência cinematográfica
(risos): ele possui os referenciais dele – e, cada vez mais, luta com afinco
para defendê-los entre os intelectualóides intransigentes – e eu, de minha
parte, transito consumivelmente entre os referenciais ‘pop’ que o Joel defende
e as contrapartidas ‘cult’ daqueles que o atacam. Antes de ver o filme que ele
realizara, portanto, suspeitei que encontraria seqüências e diálogos irônicos, direcionados
contra os seus detratores estilísticos, em relação aos quais Joel Costa argumenta
com cada vez mais substância conteudística. Discordo dele em mais de uma perspectiva,
mas entendo e defendo o seu direito de resposta. Diante do seu filme,
entretanto, a minha reação compactuante foi difícil de ser posta em prática...
Apesar de eu ter gargalhado no ‘mini-flashback’ afetado do
filme, que explica a sanha assassina de um dos personagens (o momento em que
ele empurra uma colega efusiva é hilária!), o sobejo de “piadas internas”
contra situações reais que foram vivenciadas por ele entre alguns de seus
colegas de classe mais esnobes me incomodou: conhecendo o referencial
mnemônico-traumático e, principalmente, discordando do estratagema vingativo adotado
pelo referido personagem, não me pareceu adequado legitimar o vale-tudo
defensivo com um elogio transviado, cuja concordância tangencial escamotearia
diversos problemas do curta-metragem como um todo.
Protagonizado por um elenco bonito e com acentuado sotaque
nordestino (realçado na dublagem do filme, ostensiva nalguns momentos), “Terror
no Interior” se divide entre a reiteração dos clichês e a zombaria proposital
dos mesmos – não à toa, uma famosa cinessérie similar do Wes Craven é
mencionada de forma tão entusiástica por uma personagem. Tendo como principais
problemas uma montagem rústica e uma conjunção de trilha sonora um tanto
precipitada (que tem como exceção qualitativa o momento em que o assassino
atende ao seu telefone celular numa das cenas finais), o filme elimina os seus motivos
narrativos muito abruptamente, de modo que os dezessete minutos de duração
parecem curtos para as variações genéricas adotadas pelo diretor e roteirista (que
também é o intérprete do personagem assassino, adotando alguns dos cacoetes
actanciais vilanescos de que se servira na peça teatral aqui comentada), que, mais que
contar uma estória (trivial, afinal de contas, como boa parte dos filmes do
terror), quer acertar as contas com ‘pimbas’ agressivos e preconceituosos,
conforme deixa claro num diálogo reclamante do único personagem que não é morto
pelo assassino travesti e videasta. Neste sentido, as melhores idéias se perdem
rapidamente em meio à urgência do direito de resposta: vide a seqüência em que os
colegas de classe, no interior de um automóvel, conversam sobre o cinema de Cláudio
Assis e o protagonista, um tanto chateado com a conversa, liga o seu ‘walkman’
e imerge solitariamente numa canção anglofílica grudenta e simpática.De
repente, a música torna-se altissonantemente não-diegética e a câmera permanece
parada, focalizando a estrada onde o carro se locomove... Muito boa esta
seqüência: dadas as devidas e gritantes diferentes, até me fez pensar no Júlio
Bressane!
Apesar de discordar da catarse de Joel Costa e de não ter
apreciado o filme como um todo, “Terror no Interior” não é irritante. Pelo
contrário, é até bastante divertido, merecendo ser acusado, justamente por
conta disso, de dois graves defeitos: 1 – não identificar as canções adotadas
na trilha sonora, visto que alguns dos clássicos ‘pop’ retrabalhados em ritmo
de arrocha são engraçados; e 2 – não listar, durante os créditos finais, os
nomes dos atores relacionados aos seus devidos intérpretes, de modo que eu
redijo esse texto sem saber qual é o nome do jovem que dotou o traiçoeiro
Victor de tamanha lascívia descartável (no sentido mais homoerótico do termo):
da próxima vez, Joel, pense nos atributos desejosos de pesquisa de seus
espectadores (risos). E, sobretudo, continue tentando: não desista de mostrar
ao mundo quem você é. Nada é mais autoral do que isto, não importa o que (lhe)
digam!
Wesley PC>
2 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, morri de rir tbm quando ele empurra a colega, lendo aqui ri de novo! kkkkk
Também gostei da cena do carro e do discman. Pena o personagem ter sumido no meio da trama. Mas reviravoltas de personagens acontecem! Olha 'senhores do crime'! rs
Go Joel!
kkkkkkkkkkkkkkk
Pois é: os personagens mereciam um delineamento mais demorado: o personagem que ouve a canção do Simple Plan é ótimo (agora já sei qual era a canção - hehehehe) e o intérprete do Victor (Lukas Reis é o nome dele) é um verdadeiro pitéu masturbacional. Tomara que ele volte noutro filme (risos)
E, apesar de eu não ter gostado deste filme em, particular, dou o maior apoio ao Joel: de coração!
WPC>
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