Inspirados por eventos externos que se aglomeram
mundialmente e demonstram que é possível rebelar-se (ao menos formalmente) contra
o sistema tardo-capitalista em sua faceta hodierna, os participantes de um grupo de discussão aracajuano
sobre práticas revolucionárias exibiu o filme “Occupy Love” (2012, de Velcrow
Ripper), como forma de demonstrar a qual processo de construção de demandas
sociais estão afiliados. Não sei até que ponto eu suspeitava (des)gostar do
filme, mas cria que ele seguiria uma linha discursiva similar àquela que está
contida no envolvente “RIP! A Remix Manifesto” (2009, de Brett Gaylor,
afoitamente elogiado aqui). Não foi o que aconteceu: detestei o filme!
Permeado por contradições quase imperdoáveis, como exibir a
destruição oriunda de um veio petrolífero e, logo em seguida, utilizar bastante
plástico para protestar contra essa mesma exploração do petróleo (que serve de
matéria-prima para o plástico, diga-se de passagem) ou apresentar um “jovem
ambientalista” de mais ou menos 10 anos desfolhando sementes e afirmando que “a
natureza não pratica ‘bullying’”, este filme coaduna-se a um viés melodramático
espalhafatoso, que quase faz cair por terra os esforços militantes que ele
apresenta e estimula. Diferentes pessoas são entrevistadas ao longo do filme,
ostentando discursos que se negam em essência, legitimam percursos midiáticos
dominantes e, ainda assim, atingem a proposta mais geral do filme, que é a de “apresentar
uma forma imperfeita de amor, um amor humano”. Entretanto, a narração auto-indulgente
do próprio diretor é péssima, condutiva no sentido mais oportunista do termo, tanto
quanto os seus entrevistados acadêmicos são cuidadosamente exibidos diante de
bibliotecas ou portando jóias e adornos que negam o fervor anticonsumista que
alguns militantes defendem com tanta intensidade. Destarte, é um filme abominável!
Negativamente incomodado que fiquei durante a sessão, explicitei
ao microfone a minha indignação com o filme, mas fui cuidadoso em acrescentar
que o mesmo não fora inútil, que a exibição em pauta foi deveras pertinente,
inclusive no que tange ao debate que se seguiu, cujo tema central, segundo uma falante,
graduada em Direito, seria a desmilitarização da Polícia. Não concordo com ela
nesta definição temática, mas estou longe de não me associar à mesma na defesa
deste pressuposto. O problema é que as questões abordadas no documentário estão
longe da faceta dicotômico-maniqueísta que uns e outros depoentes tentam fazer
crer: esta é uma avaliação em processo, portanto!
Wesley PC>
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