Conforme costumo pôr em prática, cá estou eu a resenhar um
livro que estou a ler quando me falta justamente a apreensão do derradeiro
capítulo: “Todos os Nomes”, publicado em 1997 por José Saramago, é uma obra que
me atingiria profundamente fosse qual fosse a época em que eu o adquirisse.
Tive acesso ao mesmo graças a um amigo mais velho, que disse que o protagonista
(Sr. José, o único nomeado em todo o romance!) tinha muito a ver comigo,
justamente quando eu confessei que tinha ereções ao alisar cédulas de
identidade. É uma piada, mas não incondizente com a realidade: de fato, o meu
respeito à burocracia é tão extremado que tendo a me excitar quando me deparo
com os documentos oficiais das pessoas por quem me apaixono ou, no mínimo, me
atraio sexualmente...
Tal qual sói acontecer em relação às obras saramaguianas, a primeira
metade difere bastante da segunda, como se houvessem duas tramas inter-relacionadas:
assim foi em “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995) e em “As Intermitências da Morte”
(2005). Em “Todos os Nomes”, o que começa como a saga de um burocrata em busca
da resolução de uma pendenga burocrática envolvendo a ficha incompleta de uma
mulher supostamente desquitada termina com uma reflexão pertinaz sobre (a
ausência de) sentido da vida, onde se lê que “há mesmo quem afirme que um Cemitério
assim é como uma espécie de biblioteca onde o lugar dos livros se encontrasse
ocupado por pessoas enterradas, na verdade é indiferente, tanto se pode
aprender com elas como com eles” (página 230).
Na redação do livro, o estilo mui pessoal de seu autor é
levado ao extremo: não há travessões, não há distinções entre os interlocutores
de um diálogo, é tudo misturado, vírgulas se misturam com frases soltas, que
respondem às outras ao mesmo tempo em que acrescentam novas interrogações, que
confundem, que emocionam, que me flagravam absolutamente emocionado tamanha a
quantidade de identificações pessoais e tangenciais... O livro não apenas diz
respeito ao meu elã burocrático, de caráter sexual (visto que o protagonista,
em dado momento, se declara apaixonado pela mulher correspondente ao verbete
que pesquisa), como o percurso angustiante do Senhor José tem muito a ver com
um violento dilema acadêmico que vivencio, sobre o qual não posso me pronunciar
publicamente ainda, mas que periga explodir de forma polêmica em breve, tamanha
a quantidade de conseqüências alarmantes. Tomara que não seja preciso algo
parecido, o que redundará não apenas em prejuízos para mim, mas em incômodos
para outrem...
Voltando ao livro, em relação ao qual planejo ler o último
capítulo após o almoço, adianto que estou perpetuamente agradecido a quem mo
emprestou pelo potente auxílio moral e existencial que ele vem me prestando nos
dias que correm... De alguma forma, eu aprendo, eu sigo aprendendo... “Ninguém
que seja feliz se suicida”, li na página 257. Viver é bom!
Wesley PC>
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