domingo, 18 de agosto de 2013

“O ATO DE FAZER CINEMA NO BRASIL É UM ATO POLÍTICO! EU QUERIA QUE O ATO DE VER CINEMA TAMBÉM FOSSE...” (OU COMO PODE HILTON LACERDA NÃO TER SIDO PREMIADO COMO O MELHOR DIRETOR?!)

Ter assistido à transmissão do 41º Festival de Cinema de Gramado pela TV foi um sonho: sempre quis acompanhar deste evento, por mais que a relevância de sua premiação tenha decaído bastante nos últimos. Como bem disse uma das falantes no evento, “nos últimos anos, a premiação não estava muito importante. Este ano, o que importava eram os filmes!”. Sim, eram! A seleção brasileira era muito boa: filmes que eu realmente quero ver!

O que me chamou a atenção no evento foi a rapidez com que ele é apresentado. Por mais que minha mãe, presente à sala comigo, brincasse que não havia o mesmo ‘glamour’ do Oscar (o que não é um defeito da premiação, quando o que importa mesmo são os filmes), tive de concordar com ela que o Jefferson De se comportou de maneira um tanto estranha quando entregou a segunda metade dos prêmios para curtas-metragens (a primeira parte deste segmento da premiação foi entregue por Vladimir Brichta, que estava indicado a Melhor Ator neste ano!), mas soube que ele compôs o júri, de modo que fez sentido a sua empolgação ao entregar o prêmio de melhor atriz a uma de suas musas, a maravilhosa Léa Garcia.  Esta atriz, inclusive, recebeu tal prêmio por um curta-metragem de nome “Acalanto” (2013, de Arturo Saboia), que, além deste, recebeu os prêmios de Melhor Trilha Musical, Melhor Direção de Arte, Melhor Diretor e Melhor Filme de Curta-Metragem, tanto pelo júri popular quanto pelo júri oficial. Os demais premiados neste segmento foram: o documentário sobre o crítico Enéas de Souza “Os Filmes Estão Vivos” (2013, de Fabiano de Souza e Milton do Prado), também vencedor do Prêmio Especial do Júri e do Prêmio da Critica, e que, obviamente, eu quero muito ver; o curta-metragem dramático protagonizado por Jean-Claude Bernardet “A Navalha do Avô” (2013, de Pedro Jorge), que recebeu um prêmio especial oferecido pelo Canal Brasil, além de Melhor Roteiro (para Francini Barbosa e Pedro Jorge) e Melhor Ator, para um tal de Kauê Telloli; “Arapuca” (2012, de Hélio Vilela Nunes), Melhor Fotografia; “Tomou Café e Esperou” (2013, de Emiliano Cunha), Melhor Desenho de Som; “Merda!” (2013, de Gilberto Scarpa), Melhor Montagem; e o documentário “Carregadores de Monte Serrat” (2012, de Cássio Santos & Julio Lucena), que levou o prêmio de Menção Honrosa. Faço questão de ver todos, assim que possível.

Se, nesta premiação, houve o predomínio de um filme em relação aos outros, na premiação de longas-metragens estrangeiros, isso ficou ainda mais evidente, visto que o filme colombiano “Cazando Luciérnagas” (2013, de Roberto Flores Pietro) recebeu os prêmios de Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (para a garota Valentina Abril) e Melhor Diretor; a co-produção brasileiro-argentina “A Oeste do Fim do Mundo” (2013, de Paulo Nascimento), recebeu os prêmios de Melhor Ator (para César Troncoso), Melhor Filme segundo o júri popular e um prêmio especial, chamado Dom Quixote, entregue pelo presidente da Federação Internacional de Cineclubistas, um afetado de nome Claudino de Jesus). Este último prêmio foi dividido entre os filmes “Venimos de Muy Lejos” (2012, de Ricardo Piterbarg, também vencedor do Prêmio Especial do Júri), o que mais quero ver dentre todos os estrangeiros, e “Repare Bem” (2012, de Maria Medeiros), documentário sobre a ditadura brasileira, que também recebeu os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro segundo o Júri Oficial e o Prêmio da Crítica. O que nos leva a mais interessante e melhor parte da premiação, os filmes brasileiros.

No derradeiro segmento, Murilo Rosa, Léa Garcia e o veterano homenageado Othon Bastos entregaram os prêmios, bastante divididos, nem sempre com justiça, entre os oito filmes selecionados: o favorito “Tatuagem” (2013, de Hilton Lacerda) recebeu o Prêmio da Crítica, além dos merecidíssimos prêmios de Melhor Ator (para Irandhir Santos), Melhor Trilha Musical (para o sergipano DJ Dolores) e Melhor Filme segundo o Júri Oficial. O filme perdeu o prêmio de Melhor Roteiro para “Primeiro Dia de um Ano Qualquer” (2012, de Domingos Oliveira), o que não é tão aberrante assim; e o de Melhor Direção [absurdo, absurdo!] para “A Bruta Flor de Querer” (2013, de Andradina Azevedo & Dida Andrade). Estes diretores juvenis – e pretensiosos – até que conseguiram o meu afeto por causa do maravilhoso curta-metragem “A Triste História de Kid Punhetinha” (2012), mas duvido que este filme seja interessante. Dentre todos os exibidos, era o que mais me desagradou, ainda mais que “Os Amigos” (2013, de Lina Chamie), que recebeu o prêmio de Melhor Montagem; “A Coleção Invisível” (2012, de Bernard Attal), que recebeu os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante (Clarisse Abujamra), Melhor Ator Coadjuvante (o recém-falecido e ovacionado Walmor Chagas) e Melhor Filme segundo o Júri Popular. Este último prêmio foi compreensivamente dividido com o longa-metragem gaúcho de animação “Até que a Sbórnia nos Separe” (2013, de Otto Guerra & Ennio Torresan Jr.), que também recebeu o inusitado prêmio de Melhor Direção de Arte. O Prêmio Especial do Júri foi para o documentário “Revelando Sebastião Salgado” (2012, de Betse de Paula), que perdeu o prêmio de Melhor Fotografia (dado como barbada para Jacques Cheuiche) justamente para o jovem Gallo Ribas, pelo já citado e até então defenestrado “A Bruta Flor do Querer”. E, por fim, o outro grande filme em competição era “Éden” (2012, de Bruno Safadi), que estou louco para ver, por motivos religiosos pessoais, que recebeu os prêmios de Melhor Desenho de Som e de Melhor Atriz (Leandra Leal). Segundo os apresentadores do Canal Brasil, todos estes filmes já têm data anunciada de lançamento no circuito comercial brasileiro. É só aguardar!

Por mais que uma ou outra escolha tenha sido desagradável, foi lindo ter acompanhado esta cerimônia, foi maravilhoso ter estado em contato com esta nova leva de filmes latinos, que trazem à tona a pujança das declarações do gracioso Hilton Lacerda, responsável pelo brado militante que intitula esta publicação. Que “Tatuagem” chegue logo diante de mim e me possibilite o direito de ver um filme enquanto ato político. Viva o cinema brasileiro de guerrilha – e um Kikito especial para a excelente transmissão do Canal Brasil!


Wesley PC>  

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