Ontem eu vi “Círculo de Fogo” (2013, de Guillermo del Toro –
crítica aqui) e detestei o filme! Por
mais que eu goste de seu diretor, por mais que eu tenha lido comentários mui
elogiosos sobre ele, achei o filme insuportável, o roteiro péssimo, os efeitos
especiais confusos em sua pletora imagética (de)formadora de daltônicos. Só não
fiquei muito irritado durante a sessão porque estava muitíssimo
bem-acompanhado, mas duas cenas merecem destaque positivo (e irônico) em meio à
projeção: numa delas, perto do final, um cientista prestes a vomitar encontra
um vaso sanitário em meio aos escombros de uma cidade destruída pelo ataque de
um ‘kaiju’; noutra, logo no início, um fotograma telejornalístico explica o
quão venenoso era o excremento desse tipo de monstro. O filme não era de todo
ruim: algumas boas idéias estavam evidentes em meio àqueles péssimos diálogos! Enquanto
isso, eu e meu amigo da esquerda temíamos a invasão de atiradores na sala de
cinema em que estávamos...
No dia seguinte a esta sessão, conversei com um admirador de
‘heavy metal’ e música sertaneja por quase duas horas. Estávamos em aula, mas
pudemos entrar em assuntos delicados, como a admiração dele pelo sistema político
nazista, a sua convincente explicação de que a umbanda não é uma religião
politeísta, a insistente (e polêmica) declaração de que “trauma é coisa de
retardado!” e seus comentários surpreendentes sobre a irritação que lhe causa a
homofobia de seus colegas de classe. Enquanto a professora exibia um
documentário televisivo sobre a influência de Joseph Goebbels no cinema alemão
da década de 1940, nós falávamos sobre filmes, música, espiritismo e problemas
familiares. Ele é um rapaz bonito – como muitos são no mundo! – e desapreciado
por alguns, em razão de seus comportamentos um tanto abestalhados (o que, para
mim, está longe de ser um problema – nos tempos atuais, é quase uma virtude!),
de modo que fiquei muito contente por termos avançado dialogisticamente para
além dos estereótipos. Foi como eu comecei a conversa: “sempre pensei que tu
fosses apenas um ‘poser’, mas gosto de teu estilo”. Ele retribuiu com um comentário
parecido e mais incisivo em sua defesa observacional de minhas idiossincrasias.
Olhar duas vezes e entrar em contato é essencial neste mundo de (falsas)
impressões: aprende-se bastante assim! E isso vale para o filme também...
Wesley PC>
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