domingo, 8 de setembro de 2013

“CHUPA, MAS NÃO ME BABA!”


“Vou mandar um papo reto,
 Você tem que saber
 Se esculacha as amantes 
Eu te pergunto o porquê

 Pelo que eu te conheço 
 Você não é grande coisa 
Seu ‘lulu’ é tão pequeno
 Pro comentário da outra 

Tu é racista, desnutrido 
A fiel não te alimenta 
Tu dependes das amantes
 Mas pra elas não compensa 

Tu calou, tu consentiu 
Quem gostou, grita ‘U’” 

 Oficialmente, eu nunca prestei a devida atenção ao ‘funk’ carioca. Por mais que o ritmo fosse constante nas festas da eterna Comunidade Gomorra, eu nunca dei muita trela para o que estava por detrás daquela sonoridade, não obstante me divertir bastante com os versos “Dako é bom/ Dako é bom/ calma, minha gente, é a marca do Fogão”... 

 Fiquei entusiasmado ao saber que, mesmo grávida, a cantora Tati Quebra-Barraco fazia seus ‘shows’ incitadores de sexualidade, conforme visto no documentário “Sou Feia, Mas Tô na Moda” (2005, de Denise Garcia). O problema é que este filme, por mais bem-intencionado que fosse e por mais sociologicamente exitoso que se mostrasse, era midiaticamente deslumbrado, não sabia estabelecer uma diferença entre tomada de partido (estabelecida sob o disfarce da objetividade documental, mas, aqui, os termos rimam!) e reflexão acerca dos pré-julgamentos difundidos. Não é o que acontece em “Favela Bolada” (2008, de Leandro HBL & Wesley Pentz), que, conforme anunciado pelo crítico Amir Labaki, oferece uma visão definitiva sobre o fenômeno...

 Vi o filme mais recente na tarde de hoje e, caramba, não consegui parar de dançar! Entretanto, a minha análise acerca do filme não ficará presa a este aspecto percussivo-somático. O filme é muito bom em sua generalidade: fala sobre o ‘funk’ ostentação, os “proibidões”, o “‘funk’-sacanagem” e as demais variações rítmicas. Os diretores entrevistam o onipresente DJ Marlboro, dão crédito aos atropelos discursivos do MC Serginho – que chega a afirmar que “sacanagem não ofende ninguém”, hã?! – e, esperadamente, utilizam um dos sucessos do Bonde do Tigrão (“Só as Cachorras”) durante os créditos finais. Gostei muito!

 Mais de um entrevistado falaram do ‘funk’ como algo que expressa as tensões típicas da favela, um deles [não lembro o nome, quem souber, comenta, por favor!] chegando a estabelecer uma rica comparação com as origens do samba, quando as reuniões em torno deste tipo de música eram precedidos de intervenções policiais, visto que a grande quantidade de negros reunidos num mesmo lugar era preconceituosamente atrelada à criminalidade. Em relação ao ‘funk’, o grau de rejeição e condenação é muito maior, de modo que um deles argüiu para a câmera: “como é que vocês querem que eu cante coisas como ‘alvorada, lá no morro que beleza...’ quando o que vemos da janela não tá pra brincadeira? Eu só fico com pena de ter esse tipo de inspiração, que não era pr’eu ter”... Tem como não concordar? Mesmo ainda sendo leigo em relação ao tema e ao contexto, comprei a briga dos favelados, dos funkeiros. E faço questão de adquirir um disco da Deize Tigrona (autora dos versos que servem de epígrafe a esse texto) o quanto antes. O que ela diz me representa, caralho! E, como canta a Gaiola das Popozudas, que também aparece no filme: "eu dou prá quem eu quiser, que a pôrra da buceta é minha!". Tenho dito!

 Wesley PC>

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