O primeiro contato informacional com o filme sueco “Patrik
1.5” (2008, de Ella Lemhagen) deixava entrever que o seu ponto de partida era
tendenciosamente incômodo em termos políticos: um casal homossexual bastante
rico resolve adotar uma criança de um ano e meio, mas um erro burocrático faz
com que eles se deparem com um delinqüente juvenil e homofóbico de quinze anos,
o belo insone loiro da foto. Um dos maridos resolve levar a empreitada adiante,
mas o outro, tendente à violência e ao alcoolismo, se irrita, sai de casa, e
perde o apoio da ex-esposa e de sua filha depressiva de dezessete anos. Por
mais que tudo parecesse previsível e aburguesado, fiquei interessado em saber
como a trama terminaria, visto que a narrativa foi muito bem conduzida.
Infelizmente, o roteiro segue as piores opções.
Apesar das boas circunvoluções enredísticas e da simpatia do
elenco e do ótimo uso da trilha sonora com canções de Dolly Parton (“Here You
Come Again” foi primorosamente executada, mais de uma vez), os clichês abundam.
Exemplo: o estopim para a aproximação definitiva entre um dos homossexuais e o áspero
Patrik foi a jardinagem. As flores do casal estavam definhando e,
coincidentemente, Patrik ocupava-se com este tipo de função num dos orfanatos
em que esteve internado. A partir daí, ele obtém uma ocupação e começa a ganhar
direito e respeito dos vizinhos de seu novo guardião... Até que um deles
suspeite de envolvimento sexual e eu me imagine no lugar do protagonista: por
mais apaixonado que eu estivesse, por quem quer que fosse, seria difícil não se
interessar sexualmente por este lindo jovem, continuamente vigiado através de
uma câmera instalada no que seria o quarto do bebê. Patrik, entretanto, não dorme nem se despe,
até que se aproxima a reconciliação definitiva, quando o estouvado marido do
personagem principal volta para casa, diz que abandonou as bebidas alcoólicas e
resolve adotar um cachorro, a fim de Patrik ficar mais à vontade em seu novo
lar... Não sem antes ele ter se apaixonado pela garota depressiva e
transformar-se em seu confessor pessoal, à beira da cama, claro! Todos os
clichês românticos e familiares foram adotados ao final. Mas, mesmo assim, o
filme tem seus méritos...
Sim, durante a projeção inteira, eu não consegui me esquivar
de me imaginar relacionando-me paramatrimonialmente com alguém ou de desejar
compulsivamente o ator Tom Ljungman, intérprete do personagem-título. Ao
dormir, tive um cabedal de sonhos (ou pesadelos) atordoante, em que eu me via
ostensivamente mergulhado em diversas realidades paralelas e modificáveis a
cada nova percepção gnosiológica. Culpa do que o filme me fez desejar talvez...
Wesley PC>
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