sábado, 14 de setembro de 2013

DA VONTADE DE TER UM NAMORADO BONITO (OU A EVASÃO FANTASIOSA DO CINEMA SUECO ‘POP’ CONTEMPORÂNEO)

O primeiro contato informacional com o filme sueco “Patrik 1.5” (2008, de Ella Lemhagen) deixava entrever que o seu ponto de partida era tendenciosamente incômodo em termos políticos: um casal homossexual bastante rico resolve adotar uma criança de um ano e meio, mas um erro burocrático faz com que eles se deparem com um delinqüente juvenil e homofóbico de quinze anos, o belo insone loiro da foto. Um dos maridos resolve levar a empreitada adiante, mas o outro, tendente à violência e ao alcoolismo, se irrita, sai de casa, e perde o apoio da ex-esposa e de sua filha depressiva de dezessete anos. Por mais que tudo parecesse previsível e aburguesado, fiquei interessado em saber como a trama terminaria, visto que a narrativa foi muito bem conduzida. Infelizmente, o roteiro segue as piores opções.

Apesar das boas circunvoluções enredísticas e da simpatia do elenco e do ótimo uso da trilha sonora com canções de Dolly Parton (“Here You Come Again” foi primorosamente executada, mais de uma vez), os clichês abundam. Exemplo: o estopim para a aproximação definitiva entre um dos homossexuais e o áspero Patrik foi a jardinagem. As flores do casal estavam definhando e, coincidentemente, Patrik ocupava-se com este tipo de função num dos orfanatos em que esteve internado. A partir daí, ele obtém uma ocupação e começa a ganhar direito e respeito dos vizinhos de seu novo guardião... Até que um deles suspeite de envolvimento sexual e eu me imagine no lugar do protagonista: por mais apaixonado que eu estivesse, por quem quer que fosse, seria difícil não se interessar sexualmente por este lindo jovem, continuamente vigiado através de uma câmera instalada no que seria o quarto do bebê.  Patrik, entretanto, não dorme nem se despe, até que se aproxima a reconciliação definitiva, quando o estouvado marido do personagem principal volta para casa, diz que abandonou as bebidas alcoólicas e resolve adotar um cachorro, a fim de Patrik ficar mais à vontade em seu novo lar... Não sem antes ele ter se apaixonado pela garota depressiva e transformar-se em seu confessor pessoal, à beira da cama, claro! Todos os clichês românticos e familiares foram adotados ao final. Mas, mesmo assim, o filme tem seus méritos...

Sim, durante a projeção inteira, eu não consegui me esquivar de me imaginar relacionando-me paramatrimonialmente com alguém ou de desejar compulsivamente o ator Tom Ljungman, intérprete do personagem-título. Ao dormir, tive um cabedal de sonhos (ou pesadelos) atordoante, em que eu me via ostensivamente mergulhado em diversas realidades paralelas e modificáveis a cada nova percepção gnosiológica. Culpa do que o filme me fez desejar talvez...

Wesley PC>



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