quarta-feira, 11 de setembro de 2013

E A PERGUNTA QUE FICA É: COMO UM FILME QUE FEZ APENAS – DESCULPEM-ME PELO "APENAS", DEVERIA UTILIZAR UM ADVÉRBIO POLISSILÁBICO DE MODO AQUI – REITERAR AQUILO QUE JÁ HÁ EM MIM PODE TER MUDADO A MINHA VIDA? (ADAPTANDO UMA CONFISSÃO FACEBOOKIANA)

Saí da sessão de “Além das Montanhas” (2012, de Cristian Mungiu) em estado de choque. Literalmente! Tanto pelo que o filme em si me causou quanto pela minha inaptidão para caminhar sozinho pelo centro comercial da cidade de Aracaju à noite, eu estava correndo, caindo, desesperando-me pelas ruas. Adentrei às pressas o primeiro ônibus que apareceu diante de mim e, tão logo peguei o celular para suplicar a alguns amigos minuciosamente escolhidos para suplicar que eles vissem o mesmo filme, a mulher mal-encarada à minha frente deixa cair uma Bíblia. Eu a pego do chão e comecei a tremer... Não conseguia me libertar das imagens, textos, sons, sentimentos indefiníveis do filme... Deus agia em mim, o supra-sumo da sexualidade (poderia escrever aqui "amor", daria na mesma) também! Eu tremia!

 Para quem ainda não sabe do que se trata o filme, eis a sinopse: “Alina regressa da Alemanha para ficar com a amiga Voichita, a única pessoa no mundo que já amou e por quem foi amada. Mas Voichita encontrou Deus – e no amor é muito difícil ter Deus como rival”. Não é difícil imaginar o quanto uma trama como esta me afetaria, né? Religioso que sou, sexualizado que sou...

 Desci num terminal rodoviário e uma chuva súbita e intensa caiu... Eu tremia ainda mais! Subi num ônibus lotado de gente emburrada e molhada e admirei um belíssimo surdo-mudo que estava sentado no colo de um amigo e alisava o seu braço, alheio ao que pensavam dele, exceto que ele era bonito. Bonito não, lindo! Eu estava absolutamente encantando por ele, impressionado... De repente, vozes exaltadas: uma evangélica e uma católica brigavam. A última, ao descer do veículo, berrou: "os profetas vêm à Terra para abençoar e amaldiçoar". E, novamente, eu tremi, como se tivesse parado de fazê-lo durante o percurso epifânico...

 Cheguei em casa tremendo e fui repreendido por minha mãe: "para que tu foste ver um filme que te deixa assim tão angustiado?". Mal sabia ela (e eu não conseguia explicar) que a angústia que me tomava de assalto era a de ser feliz, dolorosamente feliz, por ser aquilo que eu sou, pensar aquilo que eu penso, sentir aquilo que eu sinto... O filme é soberbo!

 Obviamente, nesta noite eu não consegui dormir. Filme que me radiografou, naquilo que fui, que sou, que serei e no que se esgueira pelos três estágios temporais... Suplico que meus amigos vejam este filme: é soberbo, insisto! E eu estou na tela, subdividido em N partículas!

 Para além do ideal monástico e do extremismo homossexual, exacerbações sentimentais que se diferenciam apenas em objeto, não em grau de intensidade, impressionou-me a genialidade com que o diretor radiografou os traumas da burocracia, a inaceitação de ambas as exacerbações sentimentais anteriormente mencionadas pelo mundo pragmático que nos rodeia: ver um padre sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade para um delegado é algo que eu nunca imaginei, por mais realisticamente possível que tão ato simples seja! Estou me controlando aqui, aliás, para não revelar mais detalhes sobre o filme: ele precisa ser visto, compartilhado, sentido... Sinto-me diferente, transformado, por estar cada vez mais parecido com mim mesmo. Ave Cristian Mungiu, que já havia conseguido me deixar assim no magnânimo “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007). Deus existe! 

 Wesley PC>

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