Esta é uma das questões moralmente paradigmáticas que
ficaram reverberando em minha mente após ter visto o surpreendente e obsedante “Obsessão”
(2012, de Lee Daniels). Duvidava que este filme fosse tão interessante, mas o
modo como o diretor se serve de estratagemas do ‘sexploitation’ para narrar uma
trama entrecortada por questões raciais me cativou: o foco, perceptivelmente,
são as tensões de classe (e raça) que arregimentaram as regiões pantanosas dos
EUA no final da década de 1960, mas o diretor, quiçá influenciado por Russ
Meyer e/ou Larry Clark, mais que por Melvin Van Peebles e/ou Spike Lee, deu
atenção muito especial ao erotismo rasteiro (e bem-vindo), fazendo com que Zac
Efron vista uma tentadora cueca branca durante quase toda a extensão do filme,
em que cita suas masturbações compensatórias o tempo inteiro. Noutra cena, a
personagem de Nicole Kidman arreganha as pernas para fazer com que o presidiário
interpretado por John Cusack ejacule de tesão. O jornalista vivido por Matthew McConaughey
tem uma ereção, enquanto o londrino pedante vivido por David Oyelowo se
incomoda com a situação. De minha parte, fiquei excitadíssimo também: gostei
muito do filme!
O que mais me impressionou no roteiro é como o sexo oral é
elevado a uma condição motivacional de personalidade: é através dele que uma
mulher pressupõe a inocência de um suposto assassino; é através dele que uma
perpétua relação afetiva se instala; é através dele que um rapaz abandonado
pela mãe se constata homossexual e aficionado por relações inter-raciais de caráter fetichista. Não posso
falar mais, mas este precisa ser visto e discutido: é muitíssimo atraente – e não
deve estar sendo tão perseguido pela crítica por acaso!
Não obstante as cenas mais consagradas do filme serem aquela
em que Nicole Kidman mija no rosto de Zac Efron ou o instante lindo em que
ambos dançam juntos, a narração firme e intervencionista de Macy Gray e as
situações secundárias (e erotizadas) que circunvizinham a ebulição rácica e
criminal do contexto histórico-político de que o roteiro baseado num romance de
Pete Dexter (que contribuiu diretamente na reescritura do mesmo) se serve
também são extremamente relevantes para a sedução do espectador. O filme é
muito audacioso em sua introdução de elementos tão pervertidos no
conservadorismo hollywoodiano. O estupor metonimizado na imagem que o diga! E,
felizmente ou não, o que eu tinha para dizer (em relação à minha insônia existencial)
a partir do título desta publicação fica para outro dia... O filme fala mais
alto por ora!
Wesley PC>
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