domingo, 24 de novembro de 2013

“EU HEI DE ENTRAR NO CÉU, NEM QUE SEJA DE PORRETE!”

Hoje eu dedicarei o dia ao cineasta Roberto Santos (1928-1987): motivado por algum instinto, encasquetei de ver “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1965) logo pela manhã. E não errei: o filme é maravilhoso, apesar de duro, difícil, árduo, triste, diferente das sagas sertanejas que marcaram o Cinema Novo. O protagonista, por exemplo, é um fazendeiro rude que, após ser espancado por fazendeiros rivais, torna-se um beato, devoto de uma variação interiorana do Catolicismo, com o desejo premente de imitar a mansidão supostamente associada ao coração manso de Jesus Cristo... Amei o filme!

Leonardo Villar está soberbo como o protagonista e Jofre Soares também está ótimo como o antagonista que instaura o conflito final. Mas é Maurício do Valle quem se destaca quando aparece como um padre bruto, que impede que homens valentes invadam a sua igreja para bater num homem. O filme é cerceado pelo tema da vingança. E pela tentação, pela violência que rodeia inclementemente quem tem fé. Um filme que veio a calhar!

Juro que estou me esforçando para tentar analisar objetivamente o filme, mas precisarei revê-lo: além de o filme ser narrativamente difícil, ritmicamente lento, a sua apreensão temática foi permeada por uma identificação que beira o langor: eu também terei a minha hora e a minha vez, penso. A trilha sonora de Geraldo Vandré é magistral, antológica!

Para o restante do dia, agoniado que estou com o que o filme me causou, planejo ver “O Homem Nu” (1968) e “Um Anjo Mau” (1971), ambos do mesmo diretor. Hoje é dia de Roberto Santos, de quem recentemente vi o seminal “O Grande Momento” (1958), inclusive!


Wesley PC> 

4 comentários:

neomautusiano disse...

Ouvi dizer que esse filme maravilhoso não pode ser lançado em DVD nem passar no Canal Brasil porque o Roberto Santos e o Guimarães Rosa fizeram apenas um acordo verbal pelos direitos do filme e agora a viúva cobra uma quantia exorbitante para que o filme possa ser exibido. Me parece que ela só permite que o filme seja exibido em mostras de cinema.
Lamentavel.

Gomorra disse...

Não sabia disso... Porém, a cópia a que tive acesso foi justamente exibida no Canal Brasil. Está no YouTube. Mas não deixa de ser lamentável: o filme é genial e perturbador! (WPC>)

Gilberto Carlos disse...

Também gostei muito do filme. Vi duas vezes. Gosto da parte que ele tenta abrandar seu coração com a oração:
"Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso."
Já vi os filmes de Roberto Santos que você citou: Um anjo mau, O grande momento e O homem nú, também são bons.

Abraços.
Gilberto
www.gilbertocarlos-cinema.blogspot.com

Gomorra disse...

Estas frases repetidas de que o Augusto se vale para tentar resistir às tentações vingativas são geniais...

E a maratona Roberto Santos que empreendi neste domingo foi deveras proveitosa, mas não gostei muito de "Um Anjo Mau" não: soou como uma imitação canhestra dos filmes metafóricos e geniais do Sérgio Ricardo, principalmente "Juliana do Amor Perdido" (1970), do qual o Roberto foi justamente co-roteirista.

Mas valeu pelo comentário!

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