Às 21h31’, vi um rapaz chegando em casa. Pensei em falar com
ele. Estava bastante emocionado com uma conversa ainda fresca e não consegui
interpelá-lo. Há pouco, fui em sua casa. Verifiquei o histórico de seu
computador: ele utilizou diversos ‘sites’ pornográficos a partir das 21h34’. Se
eu tivesse chegado perto dele, quem sabe não teria masturbado-o, ingerido seu
sêmen, convertido um amor mais geral numa demonstração de afeto atravessado
pela manipulação genital... Quem sabe?
Antes de me deparar com a imagem que emoldura esta
publicação confessional, tinha organizado mentalmente alguns pontos de partida
discursivos sobre ele: tinha como intento estabelecer uma diferenciação entre
anonimato e publicidade na contemplação da pornografia, pensava em discorrer
sobre os limites relacionais advindos de relações condenadas a uma perpétua assimetria.
Neste momento específico, entretanto, sou atravessado por outra gana: sou um
novo homem, o mesmo e novo homem!
Na tarde de ontem, fui submetido a um enfrentamento vigoroso
de opiniões, impressões e sentimentos, que só se confirmaram na manhã de hoje,
diante do filme “Depois de Lúcia” (2012, de Michel Franco), no qual uma
rapariga mexicana é hostiliza por todos os seus colegas de classe depois que é
filmada fazendo sexo com um companheiro. Ela não conta nada para seu pai, visto
que ele ainda se recupera da morte dolorosa de sua esposa. As agressões ficam
mais severas. Ela se cala cada vez mais. Cortam o seu cabelo, trancam-na num
banheiro de hotel, estupram-na repetidas vezes. Até que ela foge. Concretiza
uma fuga depois de tê-la ensaiado e desistido mais de uma vez. Ela foge. Com
isso, seu pai, também calado, rapta o garoto que fez sexo com ela, o amarra e o
atira em alto-mar. Câmera distante e parada, sem trilha musical. Fim?
De repente, tudo o que eu tinha para falara, para agradecer,
foi substituído por uma necessidade intensa de debate. Preciso conversar, ao
mesmo tempo em que, agora, neste exato instante, sinto-me pleno, preenchido por
um amor violento, daqueles que chegam a ferir de tão veementemente manifestos. Mudaria
alguma coisa se eu dissesse que conheço um dos estranhos que interagem sexualmente
nesta conversa pornocibernética? Ao invés de uma resposta, deixo uma
determinação: não quero ser culpado por calar. Muito menos por não agir. E eu
amo, filhos da puta, eu amo!
Wesley PC>
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