sábado, 9 de novembro de 2013

“NÃO ESQUEÇA: QUEM MERECE É QUEM TEM MERECIMENTO...”

Às 21h31’, vi um rapaz chegando em casa. Pensei em falar com ele. Estava bastante emocionado com uma conversa ainda fresca e não consegui interpelá-lo. Há pouco, fui em sua casa. Verifiquei o histórico de seu computador: ele utilizou diversos ‘sites’ pornográficos a partir das 21h34’. Se eu tivesse chegado perto dele, quem sabe não teria masturbado-o, ingerido seu sêmen, convertido um amor mais geral numa demonstração de afeto atravessado pela manipulação genital... Quem sabe?

Antes de me deparar com a imagem que emoldura esta publicação confessional, tinha organizado mentalmente alguns pontos de partida discursivos sobre ele: tinha como intento estabelecer uma diferenciação entre anonimato e publicidade na contemplação da pornografia, pensava em discorrer sobre os limites relacionais advindos de relações condenadas a uma perpétua assimetria. Neste momento específico, entretanto, sou atravessado por outra gana: sou um novo homem, o mesmo e novo homem!

Na tarde de ontem, fui submetido a um enfrentamento vigoroso de opiniões, impressões e sentimentos, que só se confirmaram na manhã de hoje, diante do filme “Depois de Lúcia” (2012, de Michel Franco), no qual uma rapariga mexicana é hostiliza por todos os seus colegas de classe depois que é filmada fazendo sexo com um companheiro. Ela não conta nada para seu pai, visto que ele ainda se recupera da morte dolorosa de sua esposa. As agressões ficam mais severas. Ela se cala cada vez mais. Cortam o seu cabelo, trancam-na num banheiro de hotel, estupram-na repetidas vezes. Até que ela foge. Concretiza uma fuga depois de tê-la ensaiado e desistido mais de uma vez. Ela foge. Com isso, seu pai, também calado, rapta o garoto que fez sexo com ela, o amarra e o atira em alto-mar. Câmera distante e parada, sem trilha musical. Fim?

De repente, tudo o que eu tinha para falara, para agradecer, foi substituído por uma necessidade intensa de debate. Preciso conversar, ao mesmo tempo em que, agora, neste exato instante, sinto-me pleno, preenchido por um amor violento, daqueles que chegam a ferir de tão veementemente manifestos. Mudaria alguma coisa se eu dissesse que conheço um dos estranhos que interagem sexualmente nesta conversa pornocibernética? Ao invés de uma resposta, deixo uma determinação: não quero ser culpado por calar. Muito menos por não agir. E eu amo, filhos da puta, eu amo!

Wesley PC>


Nenhum comentário: