Profundamente coerente em sua velhice, vivendo na França,
Sybila insiste em tachar a sua sobrinha de ingênua, por crer que as atividades
militantes em que ela se envolvera na juventude – e das quais não se arrepende –
sejam encaradas como terrorismo. Quando a sobrinha diretora insiste em
interromper os seus depoimentos para afirmar a sua discordância ideológica,
Sybila não se contém: “tu estás a falar como se fosse o Bush!”. A diretora
corta a cena neste ponto. Ele é um pouco mais que ingênua: ela nega-se a
entender a tia militante, por mais que seu discurso proponha o contrário. Sybila recusa-se a admitir que o Sendero Luminoso era uma célula terrorista, recusando inclusive esta antonomásia, segundo ela um apelido pejorativo para um Partido Comunista Peruano legítimo!
Ao declarar esta raiva contra o posicionamento regressivo da
diretora, não me atenho apenas às suas palavras, mas ao gesto reacionário que é
o filme como um todo, que quase ameaça calar a imponente personagem real,
envelhecida porém segura em suas crenças e atitudes: construído sob o signo da
saudade e sob o elogio ferrenho da noção de família, Teresa Arredondo confessa
que quase não ouviu falar sobre a tia na infância porque seus pais evitavam
falar dela. Ela acha isso justificado e, quando confronta a sua tia, pergunta
se ela não passa em como a sua filha Carolina lidou com a dor de sua prisão. Sybila
não arrefece: “o que ela experimentou foi algo que fez com que ela tivesse uma
vida, que ela relacionasse a sua própria vida com os apelos da nação!”. Teresa
discorda, Sybila não passa a mão em sua cabeça conservadora: elas divergirão, a
não ser que o diálogo se prolongue, mas a diretora é quem manda no filme, e
encerra a projeção quando ele prova que pode ser vívido e interessante. Uma
vergonha, um despautério. Mas o filme sobrevive, o filme grita, Sybila é uma personagem
maravilhosa, para o País pelo qual ela lutou (apesar de ser chilena), para o
mundo, para mim... E isso diz muito mais que ser a tia de alguém!
Apesar de forçar a emoção a todo custo, o filme obtém legitimamente - mesmo em sua faceta aburguesada - em momentos como aquele em que Carolina, a filha da protagonista, encontra uma carta da mãe escrita num pedaço de papel higiênico, ou quando a diretora focaliza uma escultura em miniatura que mostra atrocidades infanticidas atribuídas aos radicais socialistas. Por estes momentos e pela magnífica personagem real, o filme vale muitíssimo (muitíssimo mesmo!) a pena!
Apesar de forçar a emoção a todo custo, o filme obtém legitimamente - mesmo em sua faceta aburguesada - em momentos como aquele em que Carolina, a filha da protagonista, encontra uma carta da mãe escrita num pedaço de papel higiênico, ou quando a diretora focaliza uma escultura em miniatura que mostra atrocidades infanticidas atribuídas aos radicais socialistas. Por estes momentos e pela magnífica personagem real, o filme vale muitíssimo (muitíssimo mesmo!) a pena!
Wesley PC>
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