sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

MUITO MAIS (OU MENOS) QUE “UM RASKÓLNIKOV DO AUTO-EROTISMO” (TEXTO ESCRITO ÀS 23h08’ de 19/12/2013):

Em pouco mais de dois dias, consumi avidamente as duzentas e cinqüenta e oito páginas que compõem “O Complexo de Portnoy”, romance de Philip Roth que, quanto lançado em 1967, causou celeuma por ser “uma epopéia da masturbação”. A minha obsessão mui pessoal por este tema me obrigava a devorar o livro, devidamente recomendado por este resenhista, que, afinal, foi quem fez o imenso favor de me emprestar o livro. Apesar do talento inquestionável de seu elogiado autor, entretanto, o livro não funcionou muito comigo: ele envelheceu pessimamente, por causa da diluição da neurose hebraica tão bem levada a cabo por Woody Allen a posteriori, em seus filmes e livros de contos que abordam praticamente os mesmo temas...

No romance, acompanhamos uma longa sessão de análise de Alexander Portnoy, o complexado protagonista, que se confessa para o seu psicólogo, enfatizando o quanto o comportamento dominador de sua mãe (e também a passividade de seu pai, constantemente vitimado por prisões de ventre) o transformou num homem atormentado por ser incapaz de constituir família, tendo passado, conforme ele mesmo admite, “metade da sua adolescência num banheiro”. Por mais enumerativo que o narrador seja em relação aos seus atos masturbacionais, o livro enfada: é judeu demais, guetificador em excesso! Ao final do romance, inclusive, há um glossário de termos iídiche que são utilizados nos diálogos. Pensava que o livro faria jus às suas antonomásias, mas é um compendio de frustrações familiares edipianas. Não me atrevo a dizer que ele seja ruim, mas me frustrou deveras!

Seja como for, a leitura me trouxe à tona minhas reminiscências particulares com a masturbação: quando a descobri, aos doze anos de idade, aderi compulsivamente à sua prática, tendo sido flagrado em ato por dois vizinhos numa oportunidade quase esquecida... Já houve dias em que eu me masturbei mais de quatro vezes, que nem o protagonista do livro, mas asa minhas crises de culpabilidade eram diferentes: o meu catolicismo ferrenho de outrora me obrigava a uma constante negociata com a idéia do Deus punitivo desta religião, de modo que, até os vinte anos de idade, tenho relatos quantificados de quantas vezes ejaculei solitariamente. Hoje, sou muitíssimo mais tranqüilo em relação a esta prática – até porque tenho o saudável hábito de ingerir o próprio esperma, o que me proporciona um bem-estar duplicado – mas, na noite em que eu avançava o nono décimo de leitura do romance, deparei-me com uma situação pitoresca: estava numa cozinha, observando um rapaz que amo interagir com a sua namorada, que agora se instalou em sua casa como se fosse sua esposa. Ele a abraçava, a beijava, demonstrava que, se não a ama, ao menos compensa muitíssimo bem os seus favores sexuais. Quando ele foi banhar-se, prostrei-me à janela, na esperança de vê-lo nu. Consegui, o que, com certeza, redundará num ato onanista anterior ao sono. Porém, flagrei-me atordoado por sentimentos que se assemelhavam a um arremedo de ciúme. Não gostei disso! Tomara que a ejaculação em sua homenagem me expurgue desta sensação ruim. “Ven der putz shteht, ligt der sechel in drerd”, acrescentaria Alexander Portnoy, numa definição contida da página 124 da edição do livro que me emprestaram. Sabe o que quer dizer esta sentença? “Quando a pica se levanta, o cérebro se enterra no chão!”. Eu discordo deste determinismo pusilânime. O protagonista, além de desagradável e neurótico, trata de forma malévola as mulheres com quem se relaciona ao amadurecer, quando exerce uma função acessória na secretaria de Direitos Humanos da prefeitura da cidade em que vive, culpando à sua mãe por seus comportamentos. Ele é um hipócrita, um vilão ressentido. Não quero ficar assim: o Deus em que acredito (mas não o personagem) que me livre disso!


Wesley PC> 

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