Em pouco mais de dois dias, consumi avidamente as duzentas e
cinqüenta e oito páginas que compõem “O Complexo de Portnoy”, romance de Philip
Roth que, quanto lançado em 1967, causou celeuma por ser “uma epopéia da
masturbação”. A minha obsessão mui pessoal por este tema me obrigava a devorar o
livro, devidamente recomendado por este resenhista, que, afinal, foi quem fez o
imenso favor de me emprestar o livro. Apesar do talento inquestionável de seu
elogiado autor, entretanto, o livro não funcionou muito comigo: ele envelheceu
pessimamente, por causa da diluição da neurose hebraica tão bem levada a cabo
por Woody Allen a posteriori, em seus filmes e livros de contos que abordam
praticamente os mesmo temas...
No romance, acompanhamos uma longa sessão de análise de
Alexander Portnoy, o complexado protagonista, que se confessa para o seu
psicólogo, enfatizando o quanto o comportamento dominador de sua mãe (e também
a passividade de seu pai, constantemente vitimado por prisões de ventre) o
transformou num homem atormentado por ser incapaz de constituir família, tendo
passado, conforme ele mesmo admite, “metade da sua adolescência num banheiro”.
Por mais enumerativo que o narrador seja em relação aos seus atos
masturbacionais, o livro enfada: é judeu demais, guetificador em excesso! Ao
final do romance, inclusive, há um glossário de termos iídiche que são
utilizados nos diálogos. Pensava que o livro faria jus às suas antonomásias,
mas é um compendio de frustrações familiares edipianas. Não me atrevo a dizer
que ele seja ruim, mas me frustrou deveras!
Seja como for, a leitura me trouxe à tona minhas
reminiscências particulares com a masturbação: quando a descobri, aos doze anos
de idade, aderi compulsivamente à sua prática, tendo sido flagrado em ato por
dois vizinhos numa oportunidade quase esquecida... Já houve dias em que eu me
masturbei mais de quatro vezes, que nem o protagonista do livro, mas asa minhas
crises de culpabilidade eram diferentes: o meu catolicismo ferrenho de outrora
me obrigava a uma constante negociata com a idéia do Deus punitivo desta
religião, de modo que, até os vinte anos de idade, tenho relatos quantificados
de quantas vezes ejaculei solitariamente. Hoje, sou muitíssimo mais tranqüilo
em relação a esta prática – até porque tenho o saudável hábito de ingerir o
próprio esperma, o que me proporciona um bem-estar duplicado – mas, na noite em
que eu avançava o nono décimo de leitura do romance, deparei-me com uma
situação pitoresca: estava numa cozinha, observando um rapaz que amo interagir
com a sua namorada, que agora se instalou em sua casa como se fosse sua esposa.
Ele a abraçava, a beijava, demonstrava que, se não a ama, ao menos compensa
muitíssimo bem os seus favores sexuais. Quando ele foi banhar-se, prostrei-me à
janela, na esperança de vê-lo nu. Consegui, o que, com certeza, redundará num
ato onanista anterior ao sono. Porém, flagrei-me atordoado por sentimentos que
se assemelhavam a um arremedo de ciúme. Não gostei disso! Tomara que a
ejaculação em sua homenagem me expurgue desta sensação ruim. “Ven der putz
shteht, ligt der sechel in drerd”, acrescentaria Alexander Portnoy, numa
definição contida da página 124 da edição do livro que me emprestaram. Sabe o
que quer dizer esta sentença? “Quando a pica se levanta, o cérebro se enterra
no chão!”. Eu discordo deste determinismo pusilânime. O protagonista, além de
desagradável e neurótico, trata de forma malévola as mulheres com quem se
relaciona ao amadurecer, quando exerce uma função acessória na secretaria de
Direitos Humanos da prefeitura da cidade em que vive, culpando à sua mãe por
seus comportamentos. Ele é um hipócrita, um vilão ressentido. Não quero ficar
assim: o Deus em que acredito (mas não o personagem) que me livre disso!
Wesley PC>
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