À minha frente, amigos se divertiam altissonantemente, com instrumentos musicais. Ao meu lado, jogavam 'video game', num torneio virtual de futebol entre as seleções de Brasil e Argentina. Perto de mim, um frescor de ar condicionado indicava que a dona da casa conferia o estado de saúde de sua mãe, confinada ao leito, em estado vegetativo. E, de repente, sinto um beijo carinhoso em minha testa. Eu estava com fones de ouvido: via "Operação Concreto" (1954), o primeiro curta-metragem de Jean-Luc Godard. A qualidade do som estava péssima, não entendia nada (a cópia estava sem legendas, para piorar), mas deu para perceber que o filme abordava (politicamente, claro) a construção de uma barragem, cuja altura equiparava-se à Torre Eiffel. Mas, ao invés de aço e apelo turístico, encontrávamos concreto, muito concreto. E trabalhadores realizando as mesmas atividades enfadantes, horas após horas...
Não gostei muito do filme. Ele enfada, principalmente se comparado com o estilo genial e surpreendente dos posteriores filmes godardianos. Sentia amor pelos meus companheiros: gostava de estar onde estava, mas queria fazer outras coisas, o que pude pôr em prática tão logo a sessão do filme acabou. Dezesseis minutos e alguns segundos. E eu não gostei muito. A liberdade, enquanto concessão, tende a rimar com o tédio. Depois falo sobre isso, aliás. Muitas vezes. Muitas vezes...
Wesley PC>
DOIS É DEMAIS EM ORLANDO (2024, de Rodrigo Van Der Put)
Há uma semana
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