sábado, 2 de março de 2013

GOSTO DA COUVE-FLOR EMPANADA, ACRESCENTARIA COMO COMPLEMENTO PESSOAL EXTRA-FÍLMICO...

A frase-título nada tem a ver com o quase ótimo “Rudo e Cursi – A Vida é uma Viagem” (2008, de Carlos Cuarón), que vi antes de dormir, mas, como este foi um comentário relevante em minha manhã de sábado, quando meu irmão e minha mãe voltaram da feira, trazendo couve-flor para mim, achei de bom tom destacar a minha satisfação familiar. Afinal de contas, desde a pertinente narração inicial, família é uma instituição posta em xeque no bem-amarrado roteiro do filme: “dizem que a primeira guerra foi travada entre irmãos. Então, inventaram o jogo, que a imitava simbolicamente, mas eles insistiam em confundir a guerra com o jogo e o jogo com a guerra”...

No filme, Beto (Diego Luna, excelente) e Tato (Gael García Bernal, sensual) são meio-irmãos. Ambos trabalham numa transportadora de bananas para sobreviver. O primeiro dedica-se fanaticamente ao futebol na posição de goleiro; o segundo é um exímio atacante, mas prefere sonhar em ser músico. O primeiro é casado e viciado em apostas; o segundo é solteiro e deslumbrado. Depois que ambos conhecem um finório e simpático descobridor de talentos apelidado Batuta (Guillermo Francella), ambos se mudam para a Cidade do México e envolver-se-ão com os problemas decorrentes do vício em cocaína e da paixão irrestrita por uma mulher lasciva e mentirosa, respectivamente. Gostei muito do que vi no filme!

Irmão do inteligente e politizado Alfonso Cuarón (que atua como produtor do filme, ao lado dos famosos Alejandro González Iñarritú e Guillermo Del Toro), Carlos Cuarón oferece-nos um filme jovial, muito bem-dirigido (o ‘travelling’ no interior de um campo improvisado de futebol que antecede os créditos finais, ao som de uma versão em inglês da canção que Tato insistia em cantar é genial!) e efetivo em sua explicação formal do porquê dos apelidos dos protagonistas: Beto é Rudo [“rude”] porque se exaspera com facilidade, no jogo e na vida, e Beto é Cursi [“brega”] porque ama e se equivoca. E cada um deles é “iniciado” nos chuveiros dos estádios quando chegam à metrópole mexicana, visto que “a cidade grande é um monstro, mas até mesmo um monstro possui algo que não seja feio”. Apesar de o roteiro cair nalgumas armadilhas composicionais na segunda metade do filme, este filme é tão bom e empolgante (como uma legítima partida de futebol) que, a qualquer momento, eu perigava levantar do sofá e gritar: “gooooooooooooooool!”. Devo tê-lo feito em mais de uma cena, aliás!

Wesley PC> 

sexta-feira, 1 de março de 2013

“SEMPRE RESTA ALGUMA COISA NO JARDIM DAS ILUSÕES”... (OU UM POUCO MAIS DE MACHADO DE ASSIS PARA CONSOLAR CORAÇÕEZINHOS AFLITOS):


“O sentimento penoso que acompanha a dúvida não é a dor, mas a angústia. A angústia nasce na incerteza de um perigo temido; ao passo que a dor é a certeza de um mal já realizado” (J.-D. Nasio – “A Dor de Amar” (2005) – página 84 da edição que ganhei de presente).

Tive acesso à citação psicanalítica supracitada logo após ter visto “Que Estranha Forma de Amar” (1978, de Geraldo Vietri), surpreendentemente baseado num romance de Machado de Assis que ainda não li. O procurei aqui em casa, mas não o encontrei. Por ora, consolar-me-ei, portanto, com as belas e dramáticas imagens dirigidas por um dos diretores honorários da Boca do Lixo paulistana, mais conhecido pelos seus trabalhos como condutor de telenovelas na extinta emissora Tupi.

No filme, protagonizado por um jovem e muito bonito Paulo Figueiredo, um rico e maduro viúvo, de nome Luiz Garcia (Wilson Fragoso), adentra um sarau promovida pela rica senhora Valéria (Dina Lisboa), que deseja casar o seu filho recém-formado em advocacia com uma jovem pianista, Eulália (Márcia Maria). Ele, porém, está apaixonado por sua irmã de criação, Estela (Berta Zemel), mais velha e modesta que ele, que, por estes motivos, afasta-se, retrai-se. O bacharel em Direito, de nome Jorge, alista-se então na recém declarada Guerra do Paraguai (1864-1870), de modo a suplantar o seu amor perdido. Cinco anos depois, quando volta para o Rio de Janeiro, encontra a sua amada casada com Luiz, com quem se correspondia. Como ele nunca revelara o nome de sua amada, o melhor amigo de Jorge permanece alheio acerca do objeto feminino de desejo do rapaz, que, aos poucos, deixa-se atrair pela filha de Luiz, Iaiá Garcia (Solange Theodoro), já deslumbrada por ele. Talvez não seja sempre que um novo amor cura uma paixão não cicatrizada...

Apesar de um tom enredístico e interpretativo relativamente frio, o filme me encantou pela sobriedade, pela ótima reconstituição de época, pelas atuações adequadas, pela fidelidade temática ao argumento machadiano. Sem contar que, por algo que não me atrevo a tachar de coincidência, os desmazelos amorosos desta trama têm muito a ver com o que eu próprio sentia no momento e que compartilhava sutilmente com uma correspondente amargurada, justamente a encantadora rapariga que me presenteou com o livro psicanalítico em pauta. Para mim e para ela, sigo lendo “A Dor de Amar”:

“A angústia é a reação à ameaça da perda de objeto, isto é, à idéia de que nosso amado pode faltar. Assim, a angústia é associada à representação consciente daquilo que pode ser a ausência do outro amado. Em termos lacanianos, diríamos: a angústia surge quando imagino a falta; ela é uma resposta à falta imaginária”.

Eu outras palavras, tanto eu quanto ela imaginamos e sentimos a falta. Fazer o quê? Este é o nosso carma, esta é a nossa estranha forma de amar! Próximo passo: buscar e ler “Iaiá Garcia” (1898).

Wesley PC> 

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

UMA BUNDA COMO QUALQUER OUTRA...

Murcha, sem muitos atrativos, e, sobretudo, similar a uma grande quantidade de bundas que desfila diuturnamente por aí, a minha região glútea esconde um orifício anal surpreendente intacto, ao menos no plano penetrativo sexual, para aqueles que me associam, não sem razão, aos exageros do comportamento homoerótico. Nada que me incomode tanto, talvez, mas, de anteontem para ontem, pensamentos envolvendo este buraquinho escondido entre as bandas murchas de minhas nádegas instalaram-se poderosamente em minha mente reflexiva, atingindo um ápice insuspeito durante a audiência ao potencialmente ótimo “O Mestre” (2012), filme dirigido por Paul Thomas Anderson que seduziu e encantou, com razão, vários amigos próximos em tendência cinefílica.

 Indubitavelmente genial nos patamares técnico, actancial e directivo, este filme me incomodou sobremaneira – principalmente no cotejo com “Sangue Negro” (2007), do mesmo diretor, em relação ao qual apresenta esquemas enredísticos bastante assemelhados – por causa da ambigüidade proposital de seu enredo, no qual um deslocado marinheiro, magistralmente vivido por um Joaquin Phoenix completamente entregue ao personagem, depara-se com um mentor para-religioso (vivido imponentemente por Philip Seymour Hoffman) que se aproveita de sua inaptidão social para tentar dominá-lo mentalmente, utilizar a sua força física em prol de sua seita reencarnacionista. Tal resumo conflitivo, entretanto, incorre numa simplificação hedionda da complexa trama do filme, que me perturbou justamente por não se render às soluções fáceis, por deixar as conclusões para a formulação do espectador e não para uma mera mastigação do que é expelido pelo diretor e roteirista. O problema pessoal: para além da inconteste supremacia roteirística do filme, ele trouxe-me à tona não apenas lembranças problemáticas de uma frustração relacional parafamiliar, mas principalmente projeções temerosas de uma insistência aparentemente vã numa tentativa prematuramente derruída de assimilação passional. Não é nenhum segredo o que eu confesso aqui (quem tiver visto o filme e conhecer os meus dilemas pessoais, reconhecerá rapidamente os alvos humanos de ambas as identificações), mas é ainda mais factual que, de fato, o filme me deixou angustiado, impressionado... Saí da sessão sentindo medo, o que só não foi piorado porque tive amigos íntimos e desafiadores a meu lado!

 O que nos traz de volta à minha bunda murcha, ao meu cu virgem, aos meus devaneios continuados, aos traseiros despidos de Bradley Cooper e David Gail em “Quebrando Todas as Regras” (2002, de Peter Knight & Morgan Klein), estranhíssimo e quase enfadonho filme independente a que assisti na noite anterior à de ontem: a culpa é minha, por não saber efetivamente a que equivale estar apaixonado!

Wesley PC>

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MAIS DE UMA MÚSICA EM MEU FINAL DE NOITE (POIS EU NÃO TENHO MEDO DE ASSUMIR QUE SOU IDIOTA!):

Apesar dos elogios de vários amigos à cantora espanhola Lourdes Hernández, que canta em inglês e se esconde - ou melhor, se mostra - sob a alcunha Russian Red, somente hoje tive coragem de baixar um de seus discos. Comecei com "Fuerteventura" (2011), até agora executado cinco vezes consecutivas, na íntegra, em meu aparelho de som...

 Poderia colocar a culpa desta audição repetida em faixas como "Brave Soldier" (04), "Tarantino" (07) ou "My Love is Gone" (08), mas depositarei tudo sobre a maravilhosa faixa 03, "I Hate You But I Love You", que tem tudo a ver com a angústia que me afligiu após a sessão do perturbador "O Mestre" (2012, de Paul Thomas Anderson). Se tudo der certo, amanhã explico melhor o porquê de o filme ter me incomodado tanto, mas, por ora, eu canto, para um "recém-chegado":

"I hate you but I love you
 I just can't take how beautiful you are
 I hate to say this 
But my eyes go blind 
I hate you but I love you 
My favorite sun becomes a healing sign
 I have to tell you this
 Cause my heart goes wild"

Eu sou mesmo um idiota! Quando foi que eu disse que não era? Desculpa, desculpa... E lá vai o disco, ser executado pela sexta vez!

Wesley PC>

“AGONIA É SEMPRE AGONIA (LORCA)”, DIZIA A MENSAGEM DE CELULAR QUE RECEBI PELA MANHÃ...

Como discordar de tão poderosa tautologia? Ao invés de fazê-lo, fiz companhia à minha mãe, na sala, que assistia a uma cerimônia religiosa presidida pelo papa Bento XVI, que renunciou oficialmente a seu posto máximo na Igreja Católica. O meu interlocutor fez questão de frisar, inclusive, que não era cristão. Nem eu (no máximo, sou um cristista!), mas esta a situação mais do que adequada para terminar de ver “Uma Cruz à Beira do Abismo” (1959), filmaço do Fred Zinnemann que tentei ver durante o Carnaval, mas que enganchou devido a uma incompatibilidade de meu aparelho reprodutor de DVDs...

No filme, Audrey Hepburn interpreta magnanimamente (em todos os sentidos do termo) uma doce rapariga belga que, apesar de rica, decide se tornar freira. Ingressa num convento, financiada por seu pai médico e renomado, mas, por mais bondosa e bem-intencionada que fosse, não consegue se esquivar de certa vaidade ou de um incerto orgulho. Torna-se uma especialista em enfermagem, é enviada a um hospital no Congo, envolve-se problematicamente com um médico cético que cuida dela quando a mesma adquire tuberculose e, tendo sido enviada a um hospital-mosteiro na Holanda, decide renunciar aos seus votos religiosos depois que não consegue se esquivar dos sentimentos iracundos depois que sabe que seu pai foi assassinado por soldados alemães no apogeu da II Guerra Mundial. “Tu entraste no convento para ser freira, não uma enfermeira”, diz-lhe uma de suas superioras. Segundo os guias de vídeo que consultei, este é o único filme da produtora Warner a não possuir música na cena final. O motivo: os produtores não queriam se posicionar diante da decisão final da freira, afinal baseada numa história real...

Não por coincidência, calhei de ter acesso ao filme justamente no entretempo relacionado ao anúncio da renúncia do Papa - que voltará a ser conhecido como Joseph Ratzinger - e sua consecutiva remissão do cargo. Nada é por acaso! E, enquanto isso, rezo sutilmente para que não seja odiado por aquele(s) que amo, pronome no singular e no plural ao mesmo tempo, enquanto o Sol brilha, minha mãe costura, o rádio executa uma canção, meus cães dormem, meu nariz coriza e o mundo é lindo!

Wesley PC> 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

QUEM DERA O TÍTULO FOSSE APENAS UM ÍNDICE...

Na manhã de hoje, tive o prazer (por falta de palavra melhor) de abraçar fortemente uma moça linda enquanto esta chorava copiosamente. Eu a sentia tremer enquanto a apertava carinhosamente, beijando os seus cabelos e pedindo para que ela se ocupasse com seus estudos. Minutos depois, o objeto humano responsável por seu choro era apelidado de “rio caudaloso de brilhantismo” por seu orientador, num sobejo panegirista (justificado?) relacionado à defesa de monografia do mesmo. Ao chegar em casa, não podia me furtar a uma obrigação referencial: hoje eu precisava ter visto o curta-metragem chinês “Cry Me a River” (2008, de Jia Zhang-Ke, cineasta que empresta um de seus componentes nomenclaturais a minha cadela ‘poodle’ no cio). Dito e feito: acabo de ver o filme e ainda estou organizando em minha mente as impressões sobre ele...

 Na obra, dotada de mais ou menos vinte minutos de projeção, dois casais se reencontram após alguns anos. Tendo estudado juntos na universidade e editado um jornal de poesia intitulado “Minha Geração” (que, por motivos políticos, durou apenas uma edição), eles não se sentem mais jovens e, ao passearem pela cidade onde viveram, agora debaixo d’água, eles pensam no passado, eles lamentam o futuro, eles aceitam o presente. Relacionando as impressões dos personagens diante da realidade que se descortinava à frente deles aos eventos narrados no primeiro parágrafo, eu digo: entendi as lágrimas daquela garota tão bonita, sentindo-me na obrigação de falar novamente com ela antes de ir para casa. Ao telefone, ouvi que ela esboçava alguns sorrisos. Menos mal...

 Wesley PC>

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

“O AMOR É IMORTAL: DEUS É UM CANTEIRO DE VIOLETAS CUJA ESTAÇÃO NÃO PASSA NUNCA!”

E Alberto Lourenço é lindo! Sendo lindo, ele amplia a dramaticidade do filme “A Casa Assassinada” (1971, de Paulo César Saraceni), ao interpretar tanto o jardineiro Alberto quanto o incestuoso e atormentado André, seu filho proveniente de um adultério forçado. Na trama, adaptada de um excelente livro do Lúcio Cardoso, magistralmente fotografada por Mário carneiro e brilhantemente musicada por Antônio Carlos Jobim, Norma Bengell interpreta Nina, a moça da cidade que se casa com Valdo, um dos integrantes mais passivos da abastada porém decadente família mineira Menezes. Obnubilado pelo irmão estouvado Demétrio, Valdo não percebe a angústia que toma de assalto a sua esposa, que encontra refúgio nas conversas demoradas com Timóteo, irmão afeminado e obeso que vive aprisionado num quarto, a fim de que a sua bizarrice seja oculta do restante da família. A governante Betty serve de intermediária entre estas conversas, que enche de inveja a esposa de Demétrio, a macambúzia Ana, tão apaixonada pelo jovem e belo jardineiro Alberto quanto os demais personagens que apreciam a nudez masculina. E, assim, eu me constatei emocionado, além de profundamente identificado, perante este ótimo filme.

 Merecidamente premiado nos festivais de Brasília, de Gramado e em tantos outros, ”A Casa Assassinada” consegue condensar em apenas 103 minutos as mais de quinhentas páginas do excelente romance, um dos meus favoritos e um dos mais difíceis de serem lidos. Uma obra-prima literária que, convertida em filme, não se tornou menos solene, menos trágico, menos genial. A extensão do personagem Timóteo no filme, magnificamente interpretado por Carlos Kroeber, é um dos maiores méritos do mesmo, que encanta, seduz, apaixona, fisga quem já está apaixonado. O tema do filme é a beleza, a ressurreição da beleza, a eternidade da beleza, a fragilidade da beleza, a eterna luta da beleza contra a hipocrisia. A direção de Paulo César Saraceni, em comunhão com os primorosos aspectos técnicos anteriormente destacados, é, sem dúvidas, uma das melhores do Brasil. Estou em transe: culpa da beleza! 

 Wesley PC>

E, CONFORME EU PREVIRA...

Dito e feito: o favorito e aparentemente imbatível, ao menos no que tange a premiações anglofílicas,”Argo” (2012, de Ben Affleck) recebeu o Oscar de Melhor Filme, além de Melhor Montagem e Melhor Roteiro Adaptado. Como eu não gosto do filme (e muitíssimo menos do que ele representa ideologicamente, a ponto de ter sido apresentado diretamente da Casa Branca!), achei tais lauréis injustos, mas como os mesmos eram previamente suspeitos, não me irritei tanto. A talentosa Jennifer Lawrence ter sido considerada expressivamente superior à impressionante entrega actancial de Emmanuelle Riva também é injusta, mas a queda da jovem atriz no palco compensou o despautério (risos). O prêmio de Melhor Roteiro para Quentin Tarantino também não foi de todo insuportável porque o recebimento do mesmo prêmio no Globo de Ouro deste ano e era esperável, mas, de resto, eu e meus amigos consentimos que esta foi a melhor cerimônia em anos (teve até empate!), tanto pela ótima apresentação cômica do fofo Seth MacFarlane quanto pelo bom nível da maioria dos indicados e pelos números musicais calorosos. Valeu a pena: Hollywood ainda tem muito a oferecer e cabe a nós prestar atenção nos índices a ela relacionados. E viva o cinema e quem sabe se erguer muito bem das próprias quedas!

 Wesley PC>

domingo, 24 de fevereiro de 2013

OFICIALMENTE, VAMOS FALAR DO SOCAR 2013!


Hoje, domingo, como é praxe há vários anos, eu e meus melhores amigos estaremos reunidos para ver e comentar a cerimônia de entrega dos prêmios Oscar. Momento máximo da indústria hollywoodiana – por mais que, ideologicamente, esta premiação não corresponda efetivamente à láurea dos melhores do ano, mas sim um elogio àqueles filmes que possuem os melhores estrategistas publicitários – não há como um cinéfilo não se deixar influenciar nalgum instante do mês de fevereiro pelos indicados do ano.

 No que tange aos filmes indicados à 85ª edição da premiação, programada para hoje à noite, surpreendeu-me positivamente que alguns dos principais nomeados fossem embasados em pressupostos históricos e/ou políticos, ainda que enviesados. Pode-se reclamar que filmes interessantíssimos como “O Mestre” (2012, de Paul Thomas Anderson – ainda não visto, mas com sessão programada para ainda hoje), “O Vôo” (2012, de Robert Zemeckis) e “Moonrise Kingdom” (2012, de Wes Anderson) não tenham sido mais valorizados, mas, ainda assim, dentre os nove filmes indicados à categoria principal, algumas observações positivas devem ser enumeradas:

  • ·         “Amor” (2012, de Michael Haneke) – nota aproximada: 10,0. Indubitavelmente, o melhor em qualquer categoria, indicado a cinco prêmios, favorito na categoria Melhor Filmes Estrangeiro e muitíssimo bem cotado para Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz (Emmanuelle Riva). É um filme emocionante, visto numa maravilhosa sessão entre amigos (comentada aqui), que surpreende pela rigorosa demonstração do título a partir de uma trama dolorosa, em que o marido apaixonado e idoso de uma senhora que sofre um derrame cerebral lida com o avanço degenerativo de sua doença. Uma obra superlativa, impecável em mais de um aspecto, para ser revista mais de uma vez, preferencialmente ao lado de quem se ama...;


  • ·         “Os Miseráveis” (2012, de Tom Hooper) – nota aproximada: 9,5. Fiquei absolutamente apaixonado por este filme, quando o vi pela primeira vez, ainda sem legendas e que, de lá para cá, já foi visto mais duas vezes, uma delas no cinema, com incremento lacrimal e passional de uma sessão para outra. Admito que o filme é problemático em seu conflito interno mal-resolvido entre pulsões políticas e adesões namorativas, mas, ainda assim, ele me encanta, me seduz, me faz suspirar... Torço para que ele receba alguns prêmios (a vitória de Anne Hathaway na categoria Melhor Atriz Coadjuvante é mais do que certeira e merecida!), é o meu favorito dentre os anglofílicos.


  • ·         “As Aventuras de Pi” (2012, de Ang Lee) – nota aproximada: 9,0. Por ser um trabalho sobre religião, ele me tocou pessoalmente, mas o que me surpreendeu aqui foi como o diretor Ang Lee, obcecado pelo tema do questionamento da autoridade paterna, eleva isto a uma categoria mais elevada, evocando as palavras de Jesus Cristo quando estava sendo crucificado. Tecnicamente, aliás, o filme é arrebatador e talvez receba alguns lauréis nas categorias sonoras, e em Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia;


  • ·         “Lincoln” (2012, de Steven Spielberg) – nota aproximada: 9,0. Apesar de o filme incomodar pelas aparições inconvenientes de um garotinho que atravessava a tela o tempo inteiro, apenas para lembrarmos que se trata de um elogio familiar, e por causa da trilha sonora xaroposa e triunfalista do envelhecido e desgastado John Williams, Daniel Day-Lewis está mediúnico como o protagonista, Tommy Lee Jones está excelente como um parlamentar rabugento e o roteiro foi bastante acertado ao evitar uma biografia tradicional e focar nas atividades legislativas do presidente. É um dos filmes mais sérios e adultos do diretor. Vale muito a pena, apesar de não efetivamente entretenedor (no sentido mais senso-comunal do termo);


  • ·         “A Hora Mais Escura” (2012, de Kathryn Bigelow) – nota aproximada: 8,0. Tenho certeza de que, se eu revir este filme, eu gostarei bem mais dele, visto que a sua longa duração e o estilo frio me intimidaram num primeiro contato, mas é muitíssimo bom, magistralmente dirigido, mas, infelizmente, peca pela má escolha da protagonista, visto que a competente Jessica Chastain não dota de suficiente interesse e/ou vigor a sua impávida personagem. Vale a pena ser revisto. Se ele receber qualquer prêmio (torço por ele em Roteiro Original, dada a impressionante pesquisa de Mark Boal), fico contente!;


  • ·         “Django Livre” (2012, de Quentin Tarantino) – nota aproximada: 7,0. Apesar de este filme ter me irritado deveras (por causa de sua conversão da monogamia em instrumento genocida), tenho que admitir que ele não é ruim, que a direção tem bons momentos, que a trilha sonora anacrônica é divertida e que, num ou noutro aspecto, ele funciona enquanto cinema, sendo melhor que a atrocidade nomeada “Bastardos Inglórios” (2009), que o diretor realizou há alguns anos. Digo para outrem que não gosto deste filme, mas ele não é ruim. É mau!;


  • ·         “O Lado Bom da Vida” (2012, de David O. Russell) – nota aproximada: 5,0. Bradley Cooper é (e está) lindo e verossímil, Jennifer Lawrence está soberba em sua personagem ninfômana e descontrolada e as cenas em que eles contracenam justificam o sucesso do filme, mas a direção é regressiva em relação a outros trabalhos do diretor, Jacki Weaver e Robert De Niro estão péssimos como os pais do protagonista, Chris Tucker dá nos nervos sempre que está em cena e os diálogos são pura reiteração do ideal estadunidense de enfrentamento economicista de situações privadas. Um porre, mas, ainda assim, gracioso em seus aspectos românticos;


  • ·         “Argo” (2012, de Ben Affleck) – nota aproximada: 5,0. Ben Affleck está muito bem (e bonito, claro!) como protagonista e a direção não é ruim, admito, mas o filme é vergonhoso em sua infantilização de eventos políticos basilares, oportunamente trazidos à tona num momento em que Irã e EUA enfrentam-se novamente no cenário internacional. Este é um lamentável filme de propaganda, que, pelo visto, receberá prêmios relevantes, apesar de ter sido em algumas categorias em que tinha tudo para ser o favorito. Não gosto do filme, acho-o precário, mas, infelizmente, é disto o que a Academia de votantes do Oscar precisa: autocelebração!;


  • ·         “Indomável Sonhadora” (2012, de Benh Zeitlin) – nota aproximada: 4,0. Pior que qualquer outro filme indicado em qualquer categoria (pelo menos, dentre os que eu já vi até então), este filme é uma vergonha crassa, uma obra de exploração alheia (ao contrário do que dizem, a garotinha de 6 anos Quvenzhané Wallis não atua bem, o que nem é um problema, já que ela é uma criança, deveria ser tratada como tal), uma pífia abordagem despolitizada dos conflitos pessoais que se instauram em regiões geográficas afligidas por catástrofes naturais. Um nojo!


Estas são as minhas opiniões gerais. Mais tarde, volto para falar sobre o que achei da premiação. Conforme antecipei no primeiro parágrafo, estou empolgado: a entrega de prêmios desta noite tem tudo para ser imprevisível e justa – a não ser que, conforme esperado, o panfletário e racionalmente limitado “Argo” triunfe!

Wesley PC>