A frase-título nada tem a ver com o quase ótimo “Rudo e
Cursi – A Vida é uma Viagem” (2008, de Carlos Cuarón), que vi antes de dormir, mas,
como este foi um comentário relevante em minha manhã de sábado, quando meu
irmão e minha mãe voltaram da feira, trazendo couve-flor para mim, achei de bom
tom destacar a minha satisfação familiar. Afinal de contas, desde a pertinente narração
inicial, família é uma instituição posta em xeque no bem-amarrado roteiro do
filme: “dizem que a primeira guerra foi travada entre irmãos. Então, inventaram
o jogo, que a imitava simbolicamente, mas eles insistiam em confundir a guerra
com o jogo e o jogo com a guerra”...
No filme, Beto (Diego Luna, excelente) e Tato (Gael García
Bernal, sensual) são meio-irmãos. Ambos trabalham numa transportadora de
bananas para sobreviver. O primeiro dedica-se fanaticamente ao futebol na
posição de goleiro; o segundo é um exímio atacante, mas prefere sonhar em ser
músico. O primeiro é casado e viciado em apostas; o segundo é solteiro e
deslumbrado. Depois que ambos conhecem um finório e simpático descobridor de
talentos apelidado Batuta (Guillermo Francella), ambos se mudam para a Cidade
do México e envolver-se-ão com os problemas decorrentes do vício em cocaína e
da paixão irrestrita por uma mulher lasciva e mentirosa, respectivamente. Gostei muito do que vi
no filme!
Irmão do inteligente e politizado Alfonso Cuarón (que atua
como produtor do filme, ao lado dos famosos Alejandro González Iñarritú e Guillermo
Del Toro), Carlos Cuarón oferece-nos um filme jovial, muito bem-dirigido (o ‘travelling’
no interior de um campo improvisado de futebol que antecede os créditos finais,
ao som de uma versão em inglês da canção que Tato insistia em cantar é genial!)
e efetivo em sua explicação formal do porquê dos apelidos dos protagonistas:
Beto é Rudo [“rude”] porque se exaspera com facilidade, no jogo e na vida, e
Beto é Cursi [“brega”] porque ama e se equivoca. E cada um deles é “iniciado”
nos chuveiros dos estádios quando chegam à metrópole mexicana, visto que “a
cidade grande é um monstro, mas até mesmo um monstro possui algo que não seja
feio”. Apesar de o roteiro cair nalgumas armadilhas composicionais na segunda
metade do filme, este filme é tão bom e empolgante (como uma legítima partida
de futebol) que, a qualquer momento, eu perigava levantar do sofá e gritar: “gooooooooooooooool!”.
Devo tê-lo feito em mais de uma cena, aliás!
Wesley PC>