sexta-feira, 26 de abril de 2013

EU TE AMO, JEAN ROLLIN!


Tendo visto "As Uvas da Morte" (1978, de Jean Rollin) na manhã de hoje, com a cabeça doendo por não ter dormido direito três noites consecutivas, em razão da carência de afagos de uma cachorrinha doente, eu fiquei encantado com a beleza que existe na tristeza projetada na tela. O horror convertido em arte e devolvido a mim, espectador, enquanto avatar de minha própria catarse. No enredo, pessoas morriam e matavam por conta de um envenenamento ocasionado por pesticidas em vinhedos, mas, quem conhece a cinematografia particular do genial e rebuscado Jean Rollin, bem sabe que o que lhe interessa é o erotismo que abunda nestes contextos necrofílicos. Saí da sessão encantado, consolado, excitado... Pressinto que reverei este filme muito em breve, ao lado de pessoas que não hesitarão em se excitarem diante do que verão também. Afinal de contas, aquilo que dói (ou assusta) não deixa de ser belo. Às vezes, dói (ou assusta) justamente porque é belo!

Wesley PC>

quinta-feira, 25 de abril de 2013

TER INICIATIVA NÃO É NADA MAIS QUE PODER CONTAR COM OS ERROS DE NOSSO CHEFE?

A provocação é lançada num diálogo do filme “Sweet Sixteen” (2002), de Ken Loach, visto na manhã de ontem, às pressas, antes de eu adentrar a sessão de outro filme do mesmo diretor “A Parte dos Anjos” (2012), no cinema. Pouco antes de o filme começar, fui advertido que um “desafeto amoroso” se encontrava na sala. O rapaz em pauta comportou-se de forma tão reles que nem sei por que estou a mencioná-lo aqui. O que importa é o que ambos os filmes, em seguida, me causaram...

Apesar de eu insistir que não sou fã do diretor e de, oficialmente, ambos os filmes terem me desagradado (de formas diferentes, claro!), proíbo-me de não admitir que o extremo afeto que Ken Loach nutre por seus personagens me enche de júbilo. Mais que um sindicalista, ele é, de fato, um humanista, como bem diz um professor com quem converso eventualmente.

No primeiro dos filmes, o chamariz principal era a beleza física do protagonista Martin Compston, mas também tinha muita curiosidade para saber como o diretor transferiria as suas questões proletárias tradicionais para o universo adolescente. Se o primeiro quesito satisfaz bastante, não se pode dizer o mesmo acerca do segundo, que redunda num roteiro simplista, em que, a fim de assegurar conforto para a sua mãe presidiária e viciada em drogas, o garoto protagonista torna-se justamente um traficante de drogas, numa trama inconvincente em mais de um aspecto.

Em relação ao segundo filme, gostei bem menos que o primeiro, a ponto de ter enfrentado dificuldades para clarificar os meus pontos de vista na crítica do mesmo, publicada aqui. Aliás, este díptico de obras loachianas, ambas roteirizadas por Paul Laverty, fez com que eu sentisse vontade e/ou necessidade de abordar diversos assuntos tangenciais, mas tudo se misturou à doce melancolia trazida pela chuva que cai lá fora...

Wesley PC> 

terça-feira, 23 de abril de 2013

“ALTA TRAIÇÃO É APENAS O NOME JURÍDICO DO QUE CHAMAM DE REVOLUÇÃO!”

Na manhã de hoje, eu não me recordava de ter ouvido o nome do cineasta carioca Sérgio Bernardes Filho em algum momento de minha vida. Filho de um conceituado arquiteto, ele realizou apenas um longa-metragem até hoje: “Desesperato” (1968), protagonizado por Raul Cortez, o qual vi há algumas horas e, apesar de tê-lo apreciado bastante esteticamente, desagradei-me de seu viés discursivo um tanto forçado e pragmaticamente tardio.

Se, pela manhã, uma prova de graduação sobre os conchavos jornalísticos durante a época da ditadura militar me obsedava, à noite, as conseqüências e esquecimentos geracionais destes mesmos conchavos assumiram uma nova faceta, através de um desentendimento sufocado que ameaçou eclodir durante o debate sobre o filme supracitado. Um desentendimento sufocado mas não esquecido: ele voltará, ele assombrará (positivamente, inclusive) quem esteve presente ao evento!

Ao invés de deter-me sobre as controvérsias do debate – e as contradições político-ideológicas que o circundaram – preciso ampliar o meu desconforto em relação ao filme, que, em seu desfecho inspirado pelas guerrilhas de países latino-americanos, plagia o final de “Terra em Transe” (1967, de Glauber Rocha), substituindo a crise ética que não é resolvida pelo protagonista para o terreno do amor carnal, aburguesado, monogâmico. Um nome de mulher é proferido antes que a derradeira frase do narrador seja completada: ela era a causa de tudo!

Se, em essência e guardadas as devidas proporções, “Desesperato”, em seus fundamentos ativos para a construção dos personagens, me fez lembrar bastante do ótimo filme contemporâneo “Dia Noite Dia Noite” (2006, de Julia Loktev – comentando pessoalmente aqui), em substância, ele explica por si mesmo o porquê de não ser conhecido por mim: ele fora ultrapassado em sua própria época, datado mesmo em seu ano de realização, vencido por sua própria pusilanimidade, não obstante alguns “atos falhos” formais e conteudísticos bastante inspirados compensaram positivamente a audiência e afastá-lo da fórmula em que “a quantidade tem mais importância que a qualidade”, conforme o seu próprio protagonista denuncia.

Muito mais focado na ‘Nouvelle Vague’ que no ‘Cinema Novo’, este filme lateja em minha cabeça neste exato instante menos por seus méritos que pelas derivações hermenêuticas que engendrou: é um filme que fala pouco, mas exprime muito e, por isso, merece ser redimido. De hoje em diante, Sérgio Bernardes Filho talvez seja um nome recorrente em minhas análises históricas do cinema brasileiro, mas enquanto contra-exemplo, enquanto operário pouco inspirado de um momento de transição que clamava por atitudes mais enérgicas. Ele preferiu refugiar-se na catarse romântica de seu alter-ego equivocadamente suicida em nome feminino de uma causa supostamente nobre. Não me convenceu, mas o debate ainda está aberto...

Wesley PC> 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O MUNDO É BOM! O MUNDO É BOM! O MUNDO É BOM! O MUNDO É BOM! O MUNDO É BOM! O MUNDO É BOM!

Eis o que eu repetia compulsivamente para mim mesmo na manhã de hoje, antes de ver “Trash Humpers” (2009, de Harmony Korine), cineasta que é alvo de minha paixão desde que roteirizou os dois melhores filmes do Larry Clark [“Kids” (1995) e “Ken Park” (2002, co-direção: Edward Lachman)] e realizou o maravilhoso “Vida sem Destino” (1997). Não gostei muito de “Julien Donkey-Boy” (1999) nem de “Mister Lonely” (2007), ambos contando com o genial cineasta Werner Herzog no elenco, mas parece que o diretor voltou à inspiração anárquica em “Spring Breakers” (2012), que ainda não estreou no Brasil, mas pelo qual estou ansioso...

Seja como for, em minha opinião o diretor está arrasador em “Trash Humpers”: vi o filme um tanto por acaso, mas me deslumbrei desde o início, com a utilização ostensiva de imagens desgastadas de fita VHS como efeito fotográfico persistente. As atuações dos idosos sociopatas e mascarados não são tão boas, mas as musiquinhas que eles cantarolam, as cenas de perversão inaudita (vide o momento em que os velhinhos andam de bicicleta arrastando bonecos pela grama e, em seguida, masturbam-se diante de árvores) e o desfecho “feliz” são excelentes, de modo que não apenas o filme me comprovou, por extensão inversa, que o mundo é, sim, muitíssimo bom (apesar de cruel às vezes, por conta de seus habitantes) como também assegurou que o seu jovem diretor e roteirista ainda é genial. Estou contente, neste exato momento. E, lá fora, chove. Êba!

Wesley PC> 

domingo, 21 de abril de 2013

O AMOR OU A SUSPEITA OU O PÓS-BLOQUEIO E A MÚSICA:

Quando eu fico repetindo o mesmo disco muitas vezes, minha mãe logo desconfia que eu estou sob efeito dalgum problema, dalgum feitiço passional ou ambos. Dito e feito: nos últimos dias, “Lero-Lero” (2010), da paulistana Luísa Maita, não sai da minha lista de execução!

 Conheci esta cantora por causa do desengonçado (no mau sentido) filme “Estamos Juntos” (2011, de Toni Venturi), no qual ela aparece cantando justamente a faixa-título, a obra-prima do álbum, para além da simplicidade das gírias e expressões contidas em sua curta letra:

 “Quem vem ali, agora 
É lero-lero, olho no olho 
E nada mais

 Esse é do mesmo time 
Não tem pressa e nem atraso 
Tudo é em paz

 Parece o mesmo sangue 
Quando penso, o outro sabe 
Nem fala não 

E quando a vida aperta 
É lero-lero, olho no olho
 E me volta a paz 

Quero dizer: Valeu irmão! 
Quero dizer: Valeu irmão!
 E nada mais!” 

 Mas nem apenas de “Lero Lero” é composto “Lero-Lero”: as faixas 03 (“Aí Vem Ele”) e 07 (“Maria e Moleque”) são também excelentes, num disco que cumpre muitíssimo bem o que é emulado em suas demais faixas [“Alento” (02); “Desencabulada” (04); “Um Vento Bom” (09); “Alívio” (10); e por aí vai!], que vão além da fôrma de neo-MPB sambista e descolada ao qual a artista parece se encaixar... Muito bom este disco: minha mãe tem razão em estar desconfiada!

 Wesley PC>