sexta-feira, 31 de maio de 2013

DE COMO UM HOMEM PODE SER RASGADO POR UM FILME:

Já tive diversas oportunidades de confessar que a minha afeição temática pela Boca de Lixo adveio inicialmente de um contato tão escandaloso quanto benfazejo com a genitália do David Cardoso (vide descrição da experiência aqui): desse dia em dia, mergulhei cada vez mais nesta cinematografia brasileira tão rica quanto ignorada. Hoje, debruço-me academicamente sobre a região, a ponto de estar quase confirmada uma viagem para conhecer o lugar onde foi realizada a maior parte destes filmes, hoje correspondente à Cracolândia paulistana. Pressinto que chorarei devastadoramente quando pisar no referido local, mas é importante para a minha pesquisa e para o meu desenvolvimento afetivo pessoal.

Estudando sobre o assunto, resolvi dar uma pausa na confecção de minha dissertação – já consegui adiantar dezessete páginas – e assistir a uma variante carioca do subgênero erótico equivocadamente rotulado como pornochanchada. O filme escolhido foi “Giselle” (1980), dirigido pelo mesmo Victor di Mello que conhecera mui recentemente. O protagonista era o Carlo Mossy, um correspondente local muito menos sensual que o sul-mato-grossense David Cardoso. Tinha baixíssimas expectativas em relação ao filme, considerado uma imitação tupiniquim do clássico feminista “Emmanuelle” (1974, de Just Jaeckin), o que se transformou num temor diante da mensagem inicial, que associava a permissividade sexual à decadência de uma cultura. Sodoma e Gomorra, obviamente, eram utilizadas como exemplos que confirmavam a regra. O filme, entretanto, seguia um caminho inverso...

Protagonizado por uma jovem Alba Valéria, por uma madura e linda Maria Lúcia Dahl, pelo calvo Nildo Parente, pelo próprio Carlo Mossy e pelo afetado Ricardo Faria, a primeira seqüência do filme já me escandalizou: um ritual de acasalamento eqüino assistido por diversas pessoas. Logo ficamos sabendo que se trata de marido e mulher, ao lado da filha do primeiro, recém-chegada da Europa e logo se envolvendo sexualmente com o capataz da fazenda, conforme acontecia desde que eles eram crianças. Ato contínuo, a madrasta da garota faz sexo com ela, apaixonando-se perdidamente pela mesma. O capataz resolve se juntar às duas em rituais libertinos de prazer, que se estenderão ao filho homossexual da madrasta da protagonista, enquanto o dono da propriedade em que eles vivem seviciam os garotinhos do local. Tudo parece sem problemas e julgamentos até que o ciúme que a madrasta de Giselle sente em relação a uma vizinha comunista (Monique Lafond) torna-se inconveniente. Mas ela morrerá numa situação trágica de represália contra-revolucionária, deixando Giselle livre para retornar ao palco erótico de outrora, tendo a oportunidade de assistir a um de seus estupradores linchado pela população da cidade interiorana em que passa as suas férias de verão.  Contar mais talvez não seja necessário: fiquei absolutamente surpreso e gostei muito do que vi/senti/experimentei neste filme. Preciso revê-lo e discuti-lo, ao lado de meus amigos, o quanto antes. A “Boca do Lixo carioca”, capitaneada pelo machão Carlo Mossy (que não hesita em beijar apaixonadamente outro homem na boca), não é tão desprovida de interesse quanto eu pensava, afinal!


Wesley PC> 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

MANCANDO SE VAI AO LONGE...

Por conta de pendências dissertativas relacionadas a uma diferença de ênfase entre aquilo que descubro em relação à Boca do Lixo paulistana e aquilo que me sinto apto a discorrer teoreticamente, estou atrasado no que tange à entrega do material necessário para a minha qualificação no Mestrado em Comunicação Social de que faço parte. Isso explica a minha contribuição exígua em relação a este 'blog' nos últimos dias. Porém, ter visto "Os Maridos Traem... e as Mulheres Subtraem!" (1970, de Victor di Mello) na tarde de ontem crente de que seria uma pornochanchada desagradável me deixou empolgadíssimo: não apenas gostei muito da direção do filme como amei a participação tragicômica do David Cardoso (que satiriza a fama do galã musical Ronnie Von) e gargalhei com as intervenções da linguagem televisiva no filme, como, por exemplo, quando é repetida a piada do "no mato sem cachorro".

O protagonista José Vasconcelos é exageradamente histriônico e prejudica um tanto do frescor lingüístico do filme, mas o instante em que um dos maridos traídos (e traidores) pergunta à amante se há um militar no prédio, a constatação de que, numa cena de multidão de fãs do cantor vivido por David Cardoso, "a concentração de pessoas não era vista desde os campos de concentração", e a inteligência anárquica dalgumas 'gags' impulsionaram uma perspectiva de escrita necessária para a correção de meus prazos acadêmicos. Assim sendo, nesta quinta-feira ausentar-me-ei do espaço internético para redigir o meu trabalho. Desejem-me dedicação: irei precisar!

Wesley PC>

segunda-feira, 27 de maio de 2013

COMO NÃO FICAR PERPETUAMENTE PERPLEXO QUANDO O AMOR BRUTO EXPLODE NA TELA?!

Finalmente assisti ao aguardadíssimo "Holy Motors" (2012, de Leos Carax) na noite de ontem! Estive entre amigos durante a sessão, que gargalharam de perplexidade, tal qual eu,nas seqüências iniciais absolutamente alucinantes do filme, que mostravam um homem fingindo-se de velha pedinte numa rua movimentada francesa e simulando sexo virtual com uma bela moça. Porém, no terceiro segmento, diretamente relacionado a "Tokyo!" (2008), filme em episódios co-dirigido por Michel Gondry e Bong Joon-Ho, é que tudo fez sentido, é que tudo me fisgou emotivamente: no mesmo, o versátil Denis Lavant fantasia-se de monstro, seqüestra a modelo vivida por Eva Mendes, despe-se diante dela, exibindo uma estrondosa ereção e se deita em seu colo, derramando pétalas de flores sobre seu corpo, numa reedição da "Pietà" michelangelaniana. Era o suficiente para que eu me derretesse: é um filme sobre cinema, uma obra-prima originalíssima sobre emoções fortemente possibilitadas pelo cinema clássico.

Daí por diante, o filme emula diversos gêneros canônicos: desde um musical sobre uma aeromoça suicida (magnificamente vivida pela cantora australiana Kylie Minogue) até um dramalhão familiar sobre um homem casaco com uma macaca, com quem tem um lindo filhinho símio pequeno, passando por tramas policiais em que banqueiros e bandidos muito assemelhados ao protagonista são assassinados à queima-roupa. Ao final, as limusines que transportavam os atores vistos e não-vistos no filme conversam entre si sobre a instabilidade de seus futuros. E rezam, na esperança de que ainda sejam lembrados por seus usuários, tal qual o cinema como hoje ainda o entendemos. Uma obra-prima indubitável! Dormi em estado de estupor após a sessão: preciso revê-lo ao lado de meus melhores amigos!

Wesley PC>

PALMAS PARA O PRESIDENTE DO JÚRI DO FESTIVAL DE CANNES 2013!

Quando eu soube que o cineasta estadunidense Steven Spielberg seria o presidente do Festival Internacional de Cinema de Cannes deste ano, fiquei preocupado com a voltagem ideológica do mesmo, temendo que suas escolhas fossem exageradamente anglofílicas. Quando soube dos resultados da premiação da edição deste ano do festival, fiquei impressionado com a versatilidade das escolhas do júri, que contava, além do referido cineasta, com as participações de Nicole Kidman, Naomi Kawase, Ang Lee, Daniel Auteuil, Christophe Waltz, Lynne Ramsay, Vidya balan e Cristian Mungiu: malgrado todos suspeitarem que o principal prêmio fosse para “Inside Llewin Davis” (2013, de Ethan & Joel Coen, vencedor do Grand Prix, afinal), o que não parecia de todo injusto, o grande vencedor do evento foi “A Vida de Adèle” (2013), dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche (vide foto, sendo beijado por suas duas atrizes), que já realizou sete longas-metragens elogiados pela crítica, mas não vi nenhum deles até agora. O seu filme mais recente, com quase três horas de duração, é baseado numa história em quadrinhos e conta o envolvimento com sexo explícito entre uma garota de 15 anos (vivida pela novata Adéle Exarchopoulos) e uma moça de cabelos azuis (a diva juvenil Léa Seydoux) e não foi muito bem aceito tematicamente pelo governo do país natal do cineasta, apesar de ter vindo a calhar na conturbada situação política francesa atual, em que o presidente socialista François Hollande aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que gerou protestos violentos de ontem para hoje.

 Ambas as atrizes de “A Vida de Adèle” eram favoritas ao prêmio de atuação feminina, mas este foi para Bérénice Bejo, por “O Passado” (2013, de Asghar Farhadi), enquanto o prêmio de atuação masculina foi para o norte-americano Bruce Dern, por “Nebraska” (2013, de Alexander Payne), apesar de ser quase certeira a premiação de Michael Douglas ou Matt Damon por “Behind the Candelabra” (2013, de Steven Soderbergh). O prêmio de Melhor Roteiro foi para o mais recente filme do chinês Jia Zhang-Ke, “Um Toque de Pecado” (2013), pelo qual já estou deveras ansioso para ver, enquanto que um Prêmio Especial do Júri foi para “Tal Pai, Tal Filho” (2013, de Hirokazu Kore-Eda). Vale lembrar que estou adotando aqui as possíveis traduções dos títulos internacionais dos filmes premiados.

A minha maior surpresa em relação aos premiados deste ano esteve na categoria de Melhor Direção, que foi para o desconhecido Amat Escalante, pelo filme mexicano “Heli” (2013), o qual passou despercebidíssimo para mim nas diversas vezes em que reli a lista com os vinte filmes indicados ao prêmio principal, mas em relação ao qual já estou deveras curioso, sem contar que, dentre as breves imagens do filme a que tive acesso, achei o seu jovem protagonista descamisado lindo. Aliás, por falar em imagens do Festival, é mister destacar que assistir a diversos telejornais na manhã de hoje, ansioso por notícias do evento, mas só fui encontrá-las num programa da TVE espanhola. Os canais estavam muito mais preocupados em falar sobre a despedida do jogador Neymar (que, eu confesso, acho bastante sensual!), que deixou a equipe do Santos, onde jogou por nove anos, para ser contratado pelo time europeu do Barcelona.

Dentre os filmes selecionados para o festival que instigaram bastante a minha curiosidade cinefílica, menciono: o irregularmente elogiado “A Grande Beleza” (2013, de Paolo Sorrentino), um dos supostos favoritos; os mais recentes trabalhos de Roman Polanski [“Venus in Fur” (2013)], François Ozon [“Jeune & Jolie” (2013)], Jim Jarmusch [“Only Lovers Left Alive” (2013)] e Arnaud Despleschin [“Jimmy P.” (2013)]; e os vaiados “Only God Forgives” (2013, de Nicolas Winding Refn), “O Imigrante” (2013, de James Gray), “Wara no Tate” (2013, de Takashi Miike) e “Borgman” (2013, de Alex van Warmerdam). Porém, dentre todos os que foram exibidos nos festivais paralelos, “Les Salauds” (2013, de Claire Denis) e “Enquanto Agonizo” (2013, de James Franco), me deixaram entusiasmadíssimo, além do vencedor da Palma de Ouro Queer deste ano, o elogiadíssimo “O Desconhecido do Lago” (2013, de Alain Guiraudie). Que estes títulos comecem logo a ser exibidos pelas telas de cinema do mundo!


Wesley PC>