sábado, 27 de julho de 2013

HÁ UM DEUS (E, PARA ALGUNS, UM DIABO TAMBÉM!):


“It's a dream 
Only a dream 
And it's fading now
 Fading away 
It's only a dream 
Just a memory without anywhere to stay”…

 Por incrível que pareça, este refrão da canção “It’s a Dream”, do canadense Neil Young – faixa 05 do disco “Prairie Wind” (2005), que baixo neste exato instante – resume muito bem o espírito que permeia a trama de “Post Tenebras Lux” (2012), obra-prima do Carlos Reygadas e um dos melhores filmes que vi em toda a minha vida. Assisti a este filme na tarde de ontem, em companhia de dois grandes amigos, e, tamanho foi o meu estupor durante e após a sessão que, ao chegar em casa, eu precisei dormir, precisei sonhar: o filme é magno!

 No enredo do filme, acompanhamos as diversas fases do envolvimento familiar do casal formado por Natália (Nathalia Acevedo) e Juan (Adolfo Jimenéz Castro): eles possuem dois filhos pequenos, Rut e Eleazar, ambos interpretados pelos filhos do próprio diretor. Ela possui um olhar melancólico e eventualmente briga com seu marido por estar indisposta para o sexo; ele reclama que não agüenta mais masturbar-se todas as noites e não consegue se controlar quando começa a espancar os seus cães por qualquer bobagem. Seus filhos crescem e tornam-se belíssimos adolescentes, que brincam e flertam numa praia paradisíaca. Antes de morrer – em conseqüência de um tiro no pulmão, cujo artífice foi justamente o seu funcionário mais zeloso, que roubava a sua casa quando o casal estava em viagem pela França, e participando de uma orgia de luxo numa sala – Juan pede que Natália execute a sua canção favorita ao piano. E, mesmo sentindo muita dor, ele também canta, pois começa a sentir uma nostalgia intensa, lembrando de sua infância numa casa rica, antes de migrar para o campo. Depois que morrer, seus filhos brincam no jardim. Arrependido, o alcoólatra Sete (Willebaldo Torres) arranca a própria cabeça com as mãos. Fora tudo culpa do Diabo, que adentra a residência do funcionário numa noite aparentemente calma? Como culpar alguém pela destruição da própria vida e das vidas de outrem? Pelo sim, pelo não, responsabilizo o grandioso Carlos Reygadas pela magnificência de sua obra-prima. “Post Tenebras Lux” mudou a minha vida!

 Wesley PC>

quinta-feira, 25 de julho de 2013

“UM HOMEM NÃO É MACHO DE VERDADE ENQUANTO NÃO CONHECE O CINEMA DO CHICO CAVALCANTI!”

Assim exclamou o personagem do Canal Brasil Tonhão Borracha, que apresenta alguns filmes produzidos pela Boca do Lixo paulistana nas madrugadas de quarta para quinta-feira. Por motivos óbvios, relacionados à tese do pesquisador Nuno César Abreu acerca da eqüidade entre as classes populares dos realizadores destes filmes e seus espectadores, o borracheiro é fã incondicional do cineasta Francisco Cavalcanti, ao mesmo tempo, um dos mais interessantes e  medíocres do Brasil, a ponto de sempre lhe conceder um bonequinho de pé (no sentido erétil do termo – risos). Filme em pauta: “O Cafetão” (1983).

Protagonizado pelo próprio cineasta e Zilda Mayo, este filme difere da estrutura narrativa desgastadamente tradicional de seus filmes moralistas por causa da demora em aparecer seu personagem: o filme aborda uma violenta briga de gangues de financiadores de prostituição, centrada nos vilanazes Juarez e Gaspar. Logo no começo, um personagem é baleado até ficar em coma e ser aprisionado pela Polícia, que aguarda que o mesmo retome a consciência para entrar em ação. Enquanto isso, os dois arqui-inimigos digladiam-se, sendo que um deles ajunta uma enorme quantia em dinheiro para pagar um grupo de capangas para assassinar o seu rival. Porém, uma alcaguete que trabalhava como empregada doméstica revela os planos à cambada oposta, cujo representante é alvejado por noventa e seis tiros numa cabine telefônica! Antes de morrer, ele havia deixado duas malas contendo uma metralhadora e uma vasta quantia em dinheiro nas mãos de um engraxate solícito, que aceitou cuidar das mesmas, sem saber o que havia dentro, enquanto o mesmo disse que ia ao banheiro. Aí o filme abre uma interessantíssima brecha narrativa...

Morando num barraco em companhia de sua esposa lúbrica (que pode até sentir fome ou fadiga, mas nunca falta de vontade de fazer sexo!), o personagem vivificado pelo diretor, de nome Pedro, não tem sequer o que comer, mas defende a honestidade a todo custo. Deixa cair o único ovo disponível em sua casa, mas não perde a chance de foder com a mulher e com uma vizinha, quando a primeira sai para o trabalho. Até que, depois de tentar em vão vender as malas para um penhorista, arromba as mesmas, encontra o dinheiro, vive como milionário esbanjador ao lado de sua mulher por um tempo e, ao final, estará associando a vida a uma merda novamente, depois de ser perseguido pelos bandidos e torturado quando o troncudo Satã (vivido pelo homônimo ator habitual do cineasta) ameaça estuprar a sua esposa. Dentro da lógica moral da narrativa, portanto, o desfecho é feliz... Violentíssimo, mas paradoxalmente pornográfico e moralizador, como o diretor nos acostumou a esperar de suas obras!

Apesar de reeditar alguns dos clichês “autorais” de sua cinematografia bastante prolífica e estilisticamente reconhecível, a demora para que apareça o mocinho humilde que o diretor comumente encarna, a utilização de serestas na banda sonora (uma delas, diegética, quando um homossexual afetado pede para que um violeiro vicinal toque um chorinho) e a ausência de um filho por parte do protagonista, que aqui é desavergonhadamente adúltero, são elementos que diferem dos filmes de Francisco Cavalcanti anteriormente comentados neste 'blog'. “O Cafetão” não é um filme que possa ser chamado de bom, mas está longe de merecer a pecha de indigno de atenção. Alguns momentos são mais que pitorescos, merecedores de nossas excitação espectatorial em mais de um quesito. Francisco Cavalcanti é realmente um bem-intencionado (e sacana) [re]formador de machos, não posso discordar do borracheiro!


Wesley PC> 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

“DERRUBAR UM DITADOR NÃO É A MESMA COISA QUE DERRUBAR O NEOLIBERALISMO”!

Inspirados por eventos externos que se aglomeram mundialmente e demonstram que é possível rebelar-se (ao menos formalmente) contra o sistema tardo-capitalista em sua faceta hodierna, os participantes de um grupo de discussão aracajuano sobre práticas revolucionárias exibiu o filme “Occupy Love” (2012, de Velcrow Ripper), como forma de demonstrar a qual processo de construção de demandas sociais estão afiliados. Não sei até que ponto eu suspeitava (des)gostar do filme, mas cria que ele seguiria uma linha discursiva similar àquela que está contida no envolvente “RIP! A Remix Manifesto” (2009, de Brett Gaylor, afoitamente elogiado aqui). Não foi o que aconteceu: detestei o filme!

Permeado por contradições quase imperdoáveis, como exibir a destruição oriunda de um veio petrolífero e, logo em seguida, utilizar bastante plástico para protestar contra essa mesma exploração do petróleo (que serve de matéria-prima para o plástico, diga-se de passagem) ou apresentar um “jovem ambientalista” de mais ou menos 10 anos desfolhando sementes e afirmando que “a natureza não pratica ‘bullying’”, este filme coaduna-se a um viés melodramático espalhafatoso, que quase faz cair por terra os esforços militantes que ele apresenta e estimula. Diferentes pessoas são entrevistadas ao longo do filme, ostentando discursos que se negam em essência, legitimam percursos midiáticos dominantes e, ainda assim, atingem a proposta mais geral do filme, que é a de “apresentar uma forma imperfeita de amor, um amor humano”. Entretanto, a narração auto-indulgente do próprio diretor é péssima, condutiva no sentido mais oportunista do termo, tanto quanto os seus entrevistados acadêmicos são cuidadosamente exibidos diante de bibliotecas ou portando jóias e adornos que negam o fervor anticonsumista que alguns militantes defendem com tanta intensidade. Destarte, é um filme abominável!

Negativamente incomodado que fiquei durante a sessão, explicitei ao microfone a minha indignação com o filme, mas fui cuidadoso em acrescentar que o mesmo não fora inútil, que a exibição em pauta foi deveras pertinente, inclusive no que tange ao debate que se seguiu, cujo tema central, segundo uma falante, graduada em Direito, seria a desmilitarização da Polícia. Não concordo com ela nesta definição temática, mas estou longe de não me associar à mesma na defesa deste pressuposto. O problema é que as questões abordadas no documentário estão longe da faceta dicotômico-maniqueísta que uns e outros depoentes tentam fazer crer: esta é uma avaliação em processo, portanto!


Wesley PC> 

ENQUANTO ISSO, NA VIDA REAL, LONGE DE SÃO PAULO: SIM, ISTO É UM SUBTERFÚGIO!

A cidade em que moro amanheceu um tanto caótica: a ausência prolongada de pagamento para os funcionários de uma dada empresa rodoviária local, associada à revolta decorrente dos aumentos sucessivos da passagem de ônibus, engendrou algumas impossibilidades de locomoção veicular, além de engarrafamentos enormes em alguns pontos de Aracaju. Em frente à Universidade Federal de Sergipe, automóveis e mais automóveis se acumulavam, enquanto eu assistia a uma interessantíssima aula sobre valores-notícia e questões relacionadas à continuidade de um dado fato jornalístico através de coberturas sucessivas e informativamente progressivas...

Por conta desta situação complicada, penso que seja melhor cancelar alguns dos planos que havia feito para mais tarde. Porém, não pretendo abdicar de minha imersão pesquisadora nos detalhes sobre a Companhia Cinematográfica Maristela, que, no início da década de 1950, competia com a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, imitando inclusive alguns de seus procedimentos de financiamento e produção de filmes. Nesta companhia pesquisada, inclusive, o cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti (1897-1982), famoso por seus documentários e filmes de terror britânicos, realizou três longas-metragens como diretor, incluindo o filme mostrado na imagem, "O Canto do Mar" (1953), que acabo de salvar num DVD. Planejo vê-lo muito em breve, enquanto acompanho o acirramento ou apaziguamento da situação citadina ao meu redor...

Wesley PC>

terça-feira, 23 de julho de 2013

UM DESCOMPASSO (FILMO)BIOGRÁFICO:


Se o fotógrafo libanês Benjamin Abrahão foi assassinado em 10 de maio de 1938, num misterioso esfaqueamento até hoje inexplicado, como pode a imagem acima, tirada no dia 28 de julho de 1938, quando foram assassinados e degolados os membros do bando de Virgulino Ferreira da Silva, constar do filme "Lampião (O Rei do Cangaço)", captado em 1936 e lançado (mas logo interditado pela censura getulista) em 1937? Mais que uma pergunta técnica, visto que as diversas restaurações posteriores da obra explicam o porquê da inserção do referido fotograma de mau gosto, o questionamento acima faz côro em relação ao meu desespero purista: o que é uma obra de arte autêntica hoje em dia? Uma obra de arte pura, como destacava o psicólogo da percepção Rudolf Arnheim (1904-2007) noutros tempos? Para além das respostas possíveis, fica o impacto advindo da audiência a este interessantíssimo e basilar documento cinematográfico brasileiro. Obrigado, libanês!

Wesley PC>

segunda-feira, 22 de julho de 2013

ANSIEDADE (E NÃO PRECISO DE UM TESTE DE RORSCHACH PARA IDENTIFICAR ISSO!)



Sem conseguir controlar o dedo, enviei uma longa mensagem, antecipando que eu estava surtando: eu desejava, eu precisava dizer algo! Era mais de 22h, nesse mesmo dia eu vira um filmaço do Brian De Palma, o recente “Passion” (2012). Nele, duas mulheres que pareciam amigas e/ou amantes terminam se odiando. Uma delas morre. O final é aberto, arreganhado, escancarado, psicanalítico, regado a pílulas e ansiedade e desejo e vontade e medo e temor e tremor... No rádio, um disco do Dead Can Dance. E a ansiedade crescente: “queria muito te ver amanhã... ou depois... ou agora... ou todos os dias”. Para piorar, a Internet de minha casa está defeituosa. O prazo para conserto era segunda-feira às 15h55’. Às 15h20’ foi transferido para 14h22’ da quarta-feira. Ou algo parecido. Nada é por acaso nesta vida. À minha frente, uma estudante de Psicologia pede a bênção à sua mãe... E eu querendo dizer que te amo, ansiosamente!

Wesley PC>