sexta-feira, 16 de agosto de 2013

DUAS ESTRELAS POR CAUSA DO TÍTULO - E, PRATICAMENTE, SÓ POR CAUSA DISSO!

Quando “Belinda dos Orixás na Praia dos Desejos” (1979, de Antonio Bonacin Thomé) começou a ser exibido, pensei que ele pudesse compor, em minhas memórias apaixonadas de cinéfilo, uma espécie de trilogia, ao lado de “Juliana do Amor Perdido” (1970, de Sérgio Ricardo, elogiado aqui) e “Janaína, a Virgem Proibida” (1972, de Olivier Perroy, comentado exclamativamente aqui), sobre o uso erótico do candomblé no cinema brasileiro. Comentei, inclusive, com alguns amigos, ao final da sessão, o quanto o tema é ainda sub-explorado. Com certeza, merece melhor atenção...

O filme que vi há pouco até que começa bem: numa praia, seis meninas dançam nuas ao pôr-do-sol. Quando voltavam para a sua cabana, deparam-se com um ritual de candomblé na praia. Uma delas fica tão fascinada com o que vê que se aproxima da mãe-de-santo. Era a Belinda do título, vivida pela lindíssima Nicole Puzzi. Ela recebe uma flor branca da personagem que a acolhe como filha e fica atordoada. Não quer mais se divertir com as amigas, que arrumam qualquer pretexto para ficarem desnudas sob o sol...

De repente, uma subtrama policial invade o enredo: um delegado honesto é obrigado a soltar três bandidos perigosos e endinheirados, que o ameaçam e, enquanto vingança, decidem seqüestrar os seus dois filhos. Acabam levando Belinda e seu namorado recém-conhecido, que é justamente o filho do delegado. Antes, um dos bandidos, apelidado Chaim (Clayton Silva), estupra a irmã do seqüestrado da forma mais ridícula possível, num consentimento depressivo que não convence. Mais tarde, ela é consolada por um ex-namorado, amigo de seu pai, e fode novamente. Vôte!

Se o filme começa “exótico” em sua abordagem místico-religiosa, quanto mais ele avança na subtrama policial, mais precário ele se demonstra. Até que uma hippie de cabelos vermelhos e sanha monetária é possuída pelo espírito da mãe-de-santo e resolve denunciar os criminosos. Decora a placa do carro deles e tudo. Seguem-se perseguições e aparições fantasmagóricas da mãe-de-santo, que redundam na morte dos bandidos. Antes, eles haviam dopado o casal seqüestrado: o filho do delegado é salvo, Belinda morre. Uma flor branca aparece em sua cama. O final é uma reconciliação ritualística à beira do mar. Muito ruim? Talvez, mas que tem seu charme, ah, tem!


Wesley PC> 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O HOMEM QUE AGORA AMO:

Eu costumava me demonstrar fortemente irritadiço quando lia algo escrito pelo crítico nascido na Bélgica mas radicado em São Paulo Jean-Claude Bernardet. Achava-o afetado, estouvado, geograficamente limitado. Quando comecei a ler sobre a região cinematográfica que pesquiso no Mestrado, a Boca do Lixo, percebi que este crítico era um dos poucos que a defendiam irrestritamente, inclusive preocupado em referir-se às pornochanchadas apenas em seu âmbito genérico cinematográfico, ou seja, enquanto comédia erótica com características bastante definidas. Hoje, portanto, sou fã do Jean-Claude Bernardet!

A minha devoção por este autor tornou-se tão confessadamente exagerada que minha orientadora tem receio que eu imite as suas práticas pessoais que lhe conduziram à contaminação com o vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Quem sabe? (risos) Algumas de nossas aparentes práticas sexuais e/ou passionais são, de fato, muito semelhantes, porém, por enquanto, a minha relação com ele é predominantemente intelectual: fico impressionado com o modo como este crítico é simultaneamente polemista e comprometido com o seu objeto de defesa, muito mais que a glória pessoal. No livro “Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro”, publicado em 1995 e que terminei de ler na manhã de hoje, há, por exemplo, algumas propostas ousadas de pedagogia cinematográfica, em que ele prioriza os temas concêntricos à diacronia historicista, defendendo inclusive que o cinema brasileiro não seja estudado apartado das demais cinematografias mundiais, a fim de não confiná-lo numa guetificação bem-intencionada. Ainda não sei o quanto isto me afetou defensivamente, mas prometi a mim mesmo e a meus amigos que, na minha primeira aula oficial enquanto professor universitário (um de meus previsíveis sonhos profissionais, diga-se de passagem), utilizarei este texto como proposta de discussão com os meus alunos!

Lendo obsessivamente o Jean-Claude Bernardet, entendi o quanto ele tem razão em sua insistência na análise das condições de exibição e distribuição como sendo essenciais para o entendimento das condições subdesenvolvimentistas do cinema brasileiro, aproveitando aqui a famosa fórmula do Paulo Emílio Salles Gomes. Dedutivamente, esta é uma causa à qual já estou afiliado. E, diante deste sorriso terno do crítico, quase me estendo a afirmar que, sim, estou apaixonado por ele: enquanto amante idiossincrático do cinema (principalmente, o brasileiro), ele é lindo, um exemplo singular!

Há pouco, assisti ao clássico cinemanovista “O Bravo Guerreiro” (1968, de Gustavo Dahl), em relação ao qual o crítico prestou bastante atenção, visto que o diretor do filme é um de seus contemporâneos de atividade. Percebo agora que não é por acaso que a coletânea de artigos reunidos sob o título “Trajetória Crítica” não homenageia por acidente a derradeira imagem do filme em pauta. Este foi o primeiro livro do autor que li, assim que ingressei na universidade, e, à época, desgostei, mas, hoje, já penso em adquiri-lo (risos). O quanto antes, aliás. Porém, se mencionei este filme é porque estou escandalizado com o que li há pouco, uma comparação destacada por Fernão Ramos em seu capítulo no extraordinário livro que organizou em 1987, “História do Cinema Brasileiro”, no qual dois artigos do diretor Gustavo Dahl, então apenas crítico, postula diferentes abordagens do Cinema Novo: no primeiro, datado de 1961, ele apregoa a autoralidade suprema, não obstante as dificuldades de apreensão pelo público; no segundo, publicado em 1966, ele promulga a necessidade de fazer as pazes com o mercado, equiparando o “povo” que os filmes defendiam ao público que os rejeitava. “O Bravo Guerreiro”, entretanto, está longe de ser um fácil querido pelo público e, menos ainda, bem-recebido mercadologicamente. Fiquei com a pulga inquiridora atrás da orelha, ainda extasiada com os gritos contra o silêncio legitimador da opressão que são elevados a cabo pelo excelente personagem de Paulo César Pereio no filme. Ter me apaixonado pelo Jean-Claude Bernardet me deixou mais inteligente ou, no mínimo, mais sensível!


Wesley PC> 

HORA DE PENSAR NO QUE INTERESSA, VOU TENTAR ESTUDAR UM POUCO...


Lembrando do que eu sempre digo: eu sou desses que amam - e, como tal, amo a ti também. Eis o que importa: eu amo! 

Wesley PC>

A DOR DA GENTE SAI NO JORNAL?



Na manhã de hoje, um Oficial de Justiça esteve em minha casa, em busca do meu irmão, a fim de lhe entregar uma intimação judicial, ele teria de ir à Polícia responder por algo que ele fez. Não sei ainda do que se trata (suspeitamos de que seja uma dívida mal-resolvida num bar), mas ficamos alardeados com esta intimação. Na verdade, eu estava alardeado desde bem antes, visto que, antes de dormir, conversei com um amigo goiano acerca de meu ponto de vista sobre esta matéria jornalística criminal. O amigo em pauta é irmão da estudante noticiada como criminosa, não obstante não haver provas contra ela e a sua inocência não ter sido aventada, segundo a indignação do meu amigo. De minha parte, achei a notícia particularmente bem-escrita, dado o seu distanciamento opinativo a partir do uso do depoimento do delegado, de verbos em tempo condicional e na insistência de outrem pelos fatos relatados. Ao contrário do meu amigo goiano, com quem conversei via SMS boa parte da noite, não me opus ao modo como a jornalista Sarah Teófilo se comportou em seu texto. Achei a abordagem respeitosa, aliás, tamanha a gravidade do crime noticiado, em termos quantitativos. Já pude experimentar a sensação de estar vinculado a alguém envolvido num acontecimento noticioso criminal e sei o quanto isto é delicado, mas sigo torcendo para que a Mariana seja libertada em breve. Segundo o meu amigo, ela sai da prisão na terça-feira, depois de ter sido acolhida como filha pelas internas. A família dele quer processar o jornal. Eu não concordo com isso, mas... Cada um sabe a dor que sente! De minha parte, volta e meia ouço comentários de vizinhos que me viram recentemente num telejornal (exemplo recém-descoberto aqui). Quando criança, eu tinha certeza de que seria preso em minha maioridade etária. Tenho 32 anos agora. Que os anos prossigam...

Wesley PC>

terça-feira, 13 de agosto de 2013

"OUVI AGORA, DEPOIS REPETI... E LEMBREI DE TI!" (OS OLHOS QUE EU ABRI)


"Quelles sont encore ces frontières 
Qui peuvent séparer les êtres 
Comme d'autres prières
 Ou d'autres manières 
Mais qu'est-ce qui toujours nous pousse 
A dresser tant de barrières
 La peur, l'honneur ou l'orgueil

 Fermons les yeux, fermons les si l'on veut 
Voir au-delà des visages 

 Mais quel est donc le miroir 
Qui nous donnera le pouvoir 
De se voir en somme 
Tel que nous sommes
 Mais qu'est-ce qui nous aidera
 A vivre autrement 
Des gestes, des mots ou du temps"


A letra acima é um trecho de "Fermons les Yeux", décima primeira faixa do álbum "Kyo" (2000), disco de estréia da banda francesa de mesmo nome, que ouço agora, e fico repetindo... Lembrei de meu amigo Américo Nascimento enquanto ouvia a canção. Mas não somente dele: abrir os olhos  
 quando parece que estamos fechando-os  –  é mais que importante: é urgente, é bonito, é musical!

Wesley PC>

PARA ALÉM DA MERDA (MAIS UMA VEZ, UM ASSUNTO COMO ESTE):

Ontem eu vi “Círculo de Fogo” (2013, de Guillermo del Toro – crítica aqui) e detestei o filme!  Por mais que eu goste de seu diretor, por mais que eu tenha lido comentários mui elogiosos sobre ele, achei o filme insuportável, o roteiro péssimo, os efeitos especiais confusos em sua pletora imagética (de)formadora de daltônicos. Só não fiquei muito irritado durante a sessão porque estava muitíssimo bem-acompanhado, mas duas cenas merecem destaque positivo (e irônico) em meio à projeção: numa delas, perto do final, um cientista prestes a vomitar encontra um vaso sanitário em meio aos escombros de uma cidade destruída pelo ataque de um ‘kaiju’; noutra, logo no início, um fotograma telejornalístico explica o quão venenoso era o excremento desse tipo de monstro. O filme não era de todo ruim: algumas boas idéias estavam evidentes em meio àqueles péssimos diálogos! Enquanto isso, eu e meu amigo da esquerda temíamos a invasão de atiradores na sala de cinema em que estávamos...

No dia seguinte a esta sessão, conversei com um admirador de ‘heavy metal’ e música sertaneja por quase duas horas. Estávamos em aula, mas pudemos entrar em assuntos delicados, como a admiração dele pelo sistema político nazista, a sua convincente explicação de que a umbanda não é uma religião politeísta, a insistente (e polêmica) declaração de que “trauma é coisa de retardado!” e seus comentários surpreendentes sobre a irritação que lhe causa a homofobia de seus colegas de classe. Enquanto a professora exibia um documentário televisivo sobre a influência de Joseph Goebbels no cinema alemão da década de 1940, nós falávamos sobre filmes, música, espiritismo e problemas familiares. Ele é um rapaz bonito – como muitos são no mundo! – e desapreciado por alguns, em razão de seus comportamentos um tanto abestalhados (o que, para mim, está longe de ser um problema – nos tempos atuais, é quase uma virtude!), de modo que fiquei muito contente por termos avançado dialogisticamente para além dos estereótipos. Foi como eu comecei a conversa: “sempre pensei que tu fosses apenas um ‘poser’, mas gosto de teu estilo”. Ele retribuiu com um comentário parecido e mais incisivo em sua defesa observacional de minhas idiossincrasias. Olhar duas vezes e entrar em contato é essencial neste mundo de (falsas) impressões: aprende-se bastante assim! E isso vale para o filme também...


Wesley PC> 

domingo, 11 de agosto de 2013

PARA ALÉM DOS PESADELOS, A MÚSICA, O CINEMA, A ARTE...

Antes de dormir, eu via um filme ruim. Era chato, mas tinha lá seus interesses, queria vê-lo até o final. Faltando pouco mais de vinte minutos para encerrar a sessão televisiva, falta energia elétrica. Tive que dormir. Deitei-me com o telefone celular ao meu lado, no afã que a energia voltasse a tempo. Não voltou...

Quando acordei na manhã de hoje – depois de ter me levantado para ir ao banheiro diversas vezes! – as lembranças dos pesadelos intercalados me assombravam: no primeiro, eu estava numa casa interiorana, acompanhado por meu amigo Rafael Coelho. De repente, dois homens com aparência de matadores rurais começam a brigar na cozinha em que estávamos. Um deles enfia o outro num forno e o liga. O fogão explode, mas deu para ver o homem carbonizado. Coelho começa a chorar compulsivamente depois de ter visto o corpo e vomita sobre mim. Mas não era vômito, e sim lágrimas!

Levantei apavorado, fui ao banheiro, mijei e deitei novamente. Novo sonho, continuado: estava agora numa casa simples, de apenas dois cômodos. Um amigo que não mais fala comigo (um ex-amigo, portanto?) estava no quarto, com uma rapariga bem mais jovem que ele. A fim de deixá-lo sossegado, visitei uma antiga vizinha, que hoje está com os dentes completamente deteriorados por causa do vício em ‘crack’. No sonho, porém, ela ainda era uma pré-adolescente. Conversamos um tempo e, quando volto para casa, estava tudo revirado. Talvez o meu (ex-)amigo tivesse brigado com a sua companheira sexual. Na porta do quintal, encontrei um produto branco, numa embalagem onde se lia “anti-cocaína”. Ouço alguém me chamando: era a filha da vizinha do fundo, me entregando alguns frangos congelados, para que eu os guardasse na geladeira e os cozesse para os cachorros depois. Quando abro a geladeira, duas surpresas: não apenas ela não estava funcionando como havia um aparelho quebrado de ar condicionado em seu interior. Como assim? Despertei!

Assustado com tudo o que experimentei nos sonhos (a impressão dominante era a de que eu precisava me ausentar de lugares e amigos queridos), ouvi um disco que havia adquirido na tarde anterior: “O Jardim”, do português Tiago Bettencourt. Faixa inicial: “Canção Simples”. Trecho que mais me emocionou:

“Tens os raios fortes a queimar
Todo o gelo frio que construí
Entras no meu sangue devagar
E eu a transbordar dentro de ti

Tens os raios brancos como um rio
Sou eu quem sai do escuro para te ver
Tens os raios puros no luar,
Sou eu quem grita fundo para te ter.

Fazes muito mais que o sol!


Repeti a canção mais de cinco vezes. Agora, estou tomando mingau. “Se tens medo da dor, vem ver o que é o amor/ se não sabes curar, vem ser o que é amar/ quero ver-te amanhecer, quero ver-te amanhecer...”, cantou o artista na faixa 09 do disco, “O Campo”. O que mais dizer, senão sentir?


Wesley PC>