sábado, 14 de setembro de 2013

DA VONTADE DE TER UM NAMORADO BONITO (OU A EVASÃO FANTASIOSA DO CINEMA SUECO ‘POP’ CONTEMPORÂNEO)

O primeiro contato informacional com o filme sueco “Patrik 1.5” (2008, de Ella Lemhagen) deixava entrever que o seu ponto de partida era tendenciosamente incômodo em termos políticos: um casal homossexual bastante rico resolve adotar uma criança de um ano e meio, mas um erro burocrático faz com que eles se deparem com um delinqüente juvenil e homofóbico de quinze anos, o belo insone loiro da foto. Um dos maridos resolve levar a empreitada adiante, mas o outro, tendente à violência e ao alcoolismo, se irrita, sai de casa, e perde o apoio da ex-esposa e de sua filha depressiva de dezessete anos. Por mais que tudo parecesse previsível e aburguesado, fiquei interessado em saber como a trama terminaria, visto que a narrativa foi muito bem conduzida. Infelizmente, o roteiro segue as piores opções.

Apesar das boas circunvoluções enredísticas e da simpatia do elenco e do ótimo uso da trilha sonora com canções de Dolly Parton (“Here You Come Again” foi primorosamente executada, mais de uma vez), os clichês abundam. Exemplo: o estopim para a aproximação definitiva entre um dos homossexuais e o áspero Patrik foi a jardinagem. As flores do casal estavam definhando e, coincidentemente, Patrik ocupava-se com este tipo de função num dos orfanatos em que esteve internado. A partir daí, ele obtém uma ocupação e começa a ganhar direito e respeito dos vizinhos de seu novo guardião... Até que um deles suspeite de envolvimento sexual e eu me imagine no lugar do protagonista: por mais apaixonado que eu estivesse, por quem quer que fosse, seria difícil não se interessar sexualmente por este lindo jovem, continuamente vigiado através de uma câmera instalada no que seria o quarto do bebê.  Patrik, entretanto, não dorme nem se despe, até que se aproxima a reconciliação definitiva, quando o estouvado marido do personagem principal volta para casa, diz que abandonou as bebidas alcoólicas e resolve adotar um cachorro, a fim de Patrik ficar mais à vontade em seu novo lar... Não sem antes ele ter se apaixonado pela garota depressiva e transformar-se em seu confessor pessoal, à beira da cama, claro! Todos os clichês românticos e familiares foram adotados ao final. Mas, mesmo assim, o filme tem seus méritos...

Sim, durante a projeção inteira, eu não consegui me esquivar de me imaginar relacionando-me paramatrimonialmente com alguém ou de desejar compulsivamente o ator Tom Ljungman, intérprete do personagem-título. Ao dormir, tive um cabedal de sonhos (ou pesadelos) atordoante, em que eu me via ostensivamente mergulhado em diversas realidades paralelas e modificáveis a cada nova percepção gnosiológica. Culpa do que o filme me fez desejar talvez...

Wesley PC>



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SAINDO DA CAMA DISPOSTO A TER UM BOM DIA...

Hoje eu tive um sonho erótico que foi além dos meus anseios masturbacionais típicos:estávamos eu e um colega de classe (chamado Baruc, nome bíblico) comprando calções de moletom, quando eu me demonstrei sexualmente interessado no vendedor, falicamente bem-dotado e muito bonito. O problema é que eu tinha nojo dele: quis chupar o seu pau, mas tive nojo e/ou medo de pegar doenças, visto que eu sabia que ele era promíscuo. Excitado que estava, entretanto, só dei por mim quando ele ejaculou em minha barriga - e, sim, pela primeira vez num sonho, tive uma impressão táctil muito vívida. Acordei emocionalmente motivado, disposto a ter um ótimo dia!

Oficialmente, eu teria aula com Baruc às 9h. Despertei às 9h18', visto que dormi às 2h38'. Saí de casa às 10h29' e resolvi mudar os meus planos. Gravei alguns filmes (muitos deles com erotismo ascendentes), abracei amigos e colegas, e, agora, apronto-me para ir ao cinema, ver o faroeste chileno e metalingüístico "Sal" (2011, de Diego Rougier), que parece ser bastante interessante em suas similaridades sinópticas com o ótimo "Conflito das Águas" (2010, de Icíar Bollaín). òtimo dia para nós todos!

Wesley PC>

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

PARA UM AMIGO DOENTE E CANSADO E OUTRO CANSADO:

Incrível como alguns filmes chegam no mais certo dos momentos sem que esperemos, sem que percebamos...

Optei por ver "Mamute" (2010, de Gustave de Kervern & Bênoit Delépine), na tarde de quinta-feira, por mera casualidade. Havia acordado, depois de passar a madrugada me divertindo, pouco antes de o filme ser exibido no Canal Arte1 e me interessei pela sinopse sobre as dificuldades enfrentadas por um funcionário de matadouro de porcos para se aposentar. Ele precisa visitar várias cidades da França, nas quais viveu e trabalhou em sua juventude, a fim de buscar documentos que ajudem a demonstrar o seu tempo de serviço. Lidando com as animosidades das pessoas com quem se depara no caminho, o rústico porém doce protagonista é assombrado por uma ex-namorada morta (Isabelle Adjani, linda e exuberante como sempre) e encontra tempo para masturbar um primo internado num asilo, encontrando carinho, compreensão e motivação graças a uma sobrinha com talento artístico vanguardista. Volta para casa e descobre que o amor de sempre necessitara sempre esteve lá... Um filme simples, mas lindo!

Enquanto me emocionava durante a exibição, lembrava de dois amigos particularmente afligidos pelo cansaço trabalhista: um deles adoeceu e, por conta disso, acentuou ainda mais o negativismo rabugento de seu comportamento tendente ao derrotismo voluntário; o outro enfrenta problemas familiares, horas extras em seu trabalho como terapeuta holística e preocupa-se com a violenta subsunção de alguns amigos próximos à cocaína. E eu pensava muito neles enquanto Gérard Depardieu, beirando os 61 anos de idade, percorria as estradas francesas em sua motocicleta antiga. O filme era dedicado a seu filho Guillaume Depardieu, que faleceu em 2008, aos 37 anos de idade, por conta de complicações de uma pneumonia. Segundo o apresentador da sessão televisiva em que o filme foi exibida, isto explica o tom amargo do filme. De minha parte, achei "Mamute" um verdadeiro estímulo à aceitação da felicidade cotidiana. Ao final, eu me sentia feliz... E desejoso de que meus amigos descansem, sorriam, assumam-se felizes!

Wesley PC>

TRÊS MASTURBAÇÕES NUM MESMO DIA!

Ruy Guerra é um cineasta que envelheceu mal. Não chega a ser um problema para quem realizou os magistrais "Os Cafajestes" (1962) e "Os Fuzis" (1964) em complicada época, sem contar o ótimo e incompreendido "Ópera do Malandro" (1985). Verdade seja dita, há de se mencionar que "Estorvo" (2000) e "O Veneno da Madrugada" (2004) são tentativas audaciosas de manter-se autoral num contexto em que o cinema brasileiro está entulhado de meras extensões televisivas amorfas. Porém, ao ver o filme mais recente há pouco, preciso tecer algumas considerações pouco elogiosas: baseado num livro de Gabriel García Márquez chamado "A Má Hora", o filme incomoda por suas indefinições tramáticas, pelos vais-e-vens nem sempre convincentes, pelo elenco travado, pela fotografia incômoda (excessivamente amarelada e chuvosa), pela lentidão... Alguns efeitos são propositais e dignos de aplausos intencionais, outros nem tanto. Gostei de ver o ótimo Zózimo Bulbul em cena e minha mãe se interessou bastante pelo universo místico do filme, mas fiquei agoniado durante os cento e dezoito minutos de duração. Ao final, a impressão de que tudo se estendeu por tempo demais, poderia ser mais sucinto, mas impactante!

Não que o filme não tenha bons momentos e ótimos personagens, mas o tom da encenação é equivocado, tanto quanto é incômodo o cheiro da vaca morta que encalha numa enchente. Terminada a sessão, tentei dormir. Conforme sói acontecer recentemente, enquanto estava deitado, tinha a impressão de que espinhos de diversos tamanhos e formatos saíam de meu corpo, inclusive das mucosas. Mais uma vez, acordei com os gritos de minha escandalosa cunhada, que se divertia na sala, antes de se angustiar por causa da bebedeira violenta de um de seus irmãos. Enquanto isso, a fim de justificar o título, nalgum lugar, um sociólogo de cabelos cacheados insistia em apregoar que, apesar de viciar, a masturbação é o melhor antídoto contra o mau humor. "Melhor que qualquer droga", dizia ele, em conversa automobilística na noite de ontem, acentuando o aspecto vicioso da situação. Não sei se o moçambicano Ruy Guerra concordaria com ele...

Wesley PC>

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

E A PERGUNTA QUE FICA É: COMO UM FILME QUE FEZ APENAS – DESCULPEM-ME PELO "APENAS", DEVERIA UTILIZAR UM ADVÉRBIO POLISSILÁBICO DE MODO AQUI – REITERAR AQUILO QUE JÁ HÁ EM MIM PODE TER MUDADO A MINHA VIDA? (ADAPTANDO UMA CONFISSÃO FACEBOOKIANA)

Saí da sessão de “Além das Montanhas” (2012, de Cristian Mungiu) em estado de choque. Literalmente! Tanto pelo que o filme em si me causou quanto pela minha inaptidão para caminhar sozinho pelo centro comercial da cidade de Aracaju à noite, eu estava correndo, caindo, desesperando-me pelas ruas. Adentrei às pressas o primeiro ônibus que apareceu diante de mim e, tão logo peguei o celular para suplicar a alguns amigos minuciosamente escolhidos para suplicar que eles vissem o mesmo filme, a mulher mal-encarada à minha frente deixa cair uma Bíblia. Eu a pego do chão e comecei a tremer... Não conseguia me libertar das imagens, textos, sons, sentimentos indefiníveis do filme... Deus agia em mim, o supra-sumo da sexualidade (poderia escrever aqui "amor", daria na mesma) também! Eu tremia!

 Para quem ainda não sabe do que se trata o filme, eis a sinopse: “Alina regressa da Alemanha para ficar com a amiga Voichita, a única pessoa no mundo que já amou e por quem foi amada. Mas Voichita encontrou Deus – e no amor é muito difícil ter Deus como rival”. Não é difícil imaginar o quanto uma trama como esta me afetaria, né? Religioso que sou, sexualizado que sou...

 Desci num terminal rodoviário e uma chuva súbita e intensa caiu... Eu tremia ainda mais! Subi num ônibus lotado de gente emburrada e molhada e admirei um belíssimo surdo-mudo que estava sentado no colo de um amigo e alisava o seu braço, alheio ao que pensavam dele, exceto que ele era bonito. Bonito não, lindo! Eu estava absolutamente encantando por ele, impressionado... De repente, vozes exaltadas: uma evangélica e uma católica brigavam. A última, ao descer do veículo, berrou: "os profetas vêm à Terra para abençoar e amaldiçoar". E, novamente, eu tremi, como se tivesse parado de fazê-lo durante o percurso epifânico...

 Cheguei em casa tremendo e fui repreendido por minha mãe: "para que tu foste ver um filme que te deixa assim tão angustiado?". Mal sabia ela (e eu não conseguia explicar) que a angústia que me tomava de assalto era a de ser feliz, dolorosamente feliz, por ser aquilo que eu sou, pensar aquilo que eu penso, sentir aquilo que eu sinto... O filme é soberbo!

 Obviamente, nesta noite eu não consegui dormir. Filme que me radiografou, naquilo que fui, que sou, que serei e no que se esgueira pelos três estágios temporais... Suplico que meus amigos vejam este filme: é soberbo, insisto! E eu estou na tela, subdividido em N partículas!

 Para além do ideal monástico e do extremismo homossexual, exacerbações sentimentais que se diferenciam apenas em objeto, não em grau de intensidade, impressionou-me a genialidade com que o diretor radiografou os traumas da burocracia, a inaceitação de ambas as exacerbações sentimentais anteriormente mencionadas pelo mundo pragmático que nos rodeia: ver um padre sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade para um delegado é algo que eu nunca imaginei, por mais realisticamente possível que tão ato simples seja! Estou me controlando aqui, aliás, para não revelar mais detalhes sobre o filme: ele precisa ser visto, compartilhado, sentido... Sinto-me diferente, transformado, por estar cada vez mais parecido com mim mesmo. Ave Cristian Mungiu, que já havia conseguido me deixar assim no magnânimo “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007). Deus existe! 

 Wesley PC>

terça-feira, 10 de setembro de 2013

“CÊ TÁ MELHOR?/CÊ TÁ TUDO EM PAZ?/ TÁ TUDO BEM?/ E O QUE QUE A GENTE FAZ DAQUELA ANGÚSTIA?”

Sim, estou a ouvir “Sábado” (2013), o disco mais recente e criticamente difamado do cantor carioca Cícero Rosa Lins, conhecido apenas pelo prenome. Não achei tão ruim quanto dizem. Na verdade, apesar de admitir que há um quê de repetitivo na emulação melancólicas do álbum, as faixas de abertura (“Fuga nº 3 da Rua Nestor”) e de encerramento (“Frevo por Acaso”, de onde extraí o título desta publicação) são muito boas. A letra de “Ela e a Lata” (faixa 03) também: “e a pouca vida desafiando/ a velha vila velha/ as pernas magrelas/ as pernas magrelas/ as pernas magrelas/ a bagunçar”... Ah, eu gostei!

“Se você não estiver amando
Deixa a gente amanhecer
Se você não estiver olhando
Deixa eu só olhar você

[...]

Mas se o tempo der
Posso avarandar seu tédio
Se você puder
Posso visitar seu prédio”...

(faixa 06, “Por Botafogo)

Estou ouvindo o disco pela segunda vez (ele tem apenas dez faixas, dispostas ao longo de vinte e nove minutos) e, apesar de ser inferior ao antológico “Canções de Apartamento” (2011), não merece ser desprezado. Junto à obra anteriormente resenhada do Placebo, este disco é aquele que dá a trilha sonora do meu atual estado de espírito, depois de ter superado uma barreira no Mestrado, dentre as várias que ainda me aguardam. O detalhe nestas barreiras: os meus supostos comportamentos imorais estando à frente de meus esforços intelectuais. Está tudo errado e, ao que parece, eu compactuo com o sistema ao insistir em permanecer na Universidade. Ou talvez não. Pelo sim, pelo não, juro fazer a minha parte...

Wesley PC>

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

UM SMS "FICCIONAL":


"Triiim, triiim, o telefone tocava... Era um agiota. 
- O que ele queria? Perguntou Valéria.
- Dois quilos de jaca e um sutiã.
Catarina chorava, Márcia sorria. Em breve, derrubariam a árvore do quintal. 
Choveu.
Margarete pariu suco de abóbora".

E foi mais ou menos isso o que eu enviei para diversos amigos na manhã de hoje.
Uma professora perguntou: "é surrealismo?".
Eu respondi taxativamente: "a vida real".
Quem diz que não?

Wesley PC>

UM DISCO “ALEGRINHO” DO PLACEBO? COMO ASSIM?!

Pois é... Recentemente, li uma entrevista com Steve Forrest, baterista atual do Placebo, que falou algo sobre “Loud Like Love” (2013), disco programado para ser lançado no dia 16 de setembro, e alguém perguntava qual era a expectativa dele acerca da reação do público quanto ao suposto otimismo contido no álbum, quiçá dissonante em relação aos trabalhos anteriores do grupo. Pelo que intuí, a provocação interrogativa dizia respeito tanto às reações pouco entusiasmadas de alguns fãs ditos depressivos a “Battle of the Sun” (2009, comentado aqui) quanto ao susto que os admiradores da banda Nine Inch Nails levaram diante de “Hesitation Marks” (2013), cuja primeira música de trabalho, “Everything”, realmente não traz a lugubridade intensificada nas célebres composições do Trent Reznor. Se me dissessem que é uma faixa esquecida e reaproveitada de “To Record Only Water for Ten Days” (2001), do músico John Frusciante, eu acreditaria, visto que o enfrentamento do vício em drogas é comum a ambos os trabalhos. Entretanto, se o disco que ainda não ouvi pode assustar por causa de felicidade justificada, “Loud Like Love” é puro Placebo!

 Na verdade, parecer demais com o Placebo é o maior problema e o maior defeito deste disco mais recente, o que nem de longe não o torna inapreciável, mas creio que não figurará em nenhuma lista que eleja o melhor álbum da banda. A obra-prima do álbum, em minha opinião, é a derradeira faixa, “Bosco”, a décima, cujos versos iniciais “I love you more than any man” já eram mais do que suficientes para me conquistar, bem como o título masculino exótico e o refrão atrelado aos problemas do sobejo etílico e da abnegação amorosa. Maravilhosa esta canção: quero-a para mim!


 “I ask you for another second chance, but then I drink it all away 
 And I get bellicose when you react, for love, frustration and dismay
 I was so delicate when we began, so tender when I spoke your name
 But now I'm nothing but a partisan, to my compulsion and my shame” 


 Mas vamos às demais faixas: a mais famosa do álbum é a terceira, “Too Many Friends”, também excelente e devidamente anunciada através de um magnífico videoclipe multinarrativo roteirizado pelo escritor Bret Easton Ellis. A abertura com “my computer thinks I’m gay” e o complemento posterior “what’s the difference anyway?” asseguram a perpetuação da faixa entre os devotos placebianos que nem eu. Só por essas duas faixas, aliás, o disco já valeria muitíssimo a pena!

 A faixa de abertura, aquela que recebe o nome do disco, é uma espécie de complemento do disco anterior, com um estilo mais entusiasmado e um excelente uso dos verbos “breathe” e “believe”, lado a lado, num pré-refrão. Ótima canção! A faixa 02, “Scene of the Crime”, infelizmente não consegue empolgar tanto, mas tem seus méritos eventuais, graças à repetição exaustiva da expressão-título durante a letra...

 A faixa 04, “Hold on to Me” parece ter sido composta na década de 1980 por Giorgio Moroder – o que pode ser tanto um elogio quando um demérito, a depender de quem estabelece a comparação – e a faixa 05, “Rob the Bank”, parece uma resposta a “Follow the Cops Back Home”, do ótimo álbum “Meds” (2006). São faixas interessantes, porém mais discretas em relação ao restante do álbum, o que também se nota em “A Million Little Pieces” (faixa 06) e “Purify” (faixa 08). A faixa 09, “Begin the End”, foi a que eu menos gostei, por causa de sua letra um tanto forçada em seu afã consolador para a tristeza do ouvinte [exemplo: “I tried, God knows I tried/ But there's nothing you can do to change my mind”], o que já se percebe desde o título, oportuno no que diz respeito à posição numérica da canção no disco, mas inespontaneamente antitético. Por fim, a graciosa “Exit Wounds” (faixa 07) deixa entrever o quanto o Brian Molko se influencia positivamente por David Bowie, possuindo um válido embasamento eletrônico que combina bastante com a dançante e mórbida “Julien”, do disco lançado em 2009.

 Oficialmente, só ouvi o disco integralmente duas vezes. Estou ouvindo-o novamente agora, não me proibindo de repetir as faixas de que mais gostei, aquelas que mais me emocionaram. Sou assim, fazer o quê? Num primeiro impulso, considero um álbum médio, mas com extraordinários momentos. Assim sendo, recomendo-o bastante. Quem é fã do Placebo não se decepcionará, insisto em antever!

 “But I got a reson to declaim 
 The applications are to blame 
 For all my sorrow an my pain 
 Of feeling so alone. 

 I got too many friends,
 Too many people
 That I'll never meet
 and I'll never be there for
 I'll never be there for
 'Cause I'll never be there”. 


 Obrigado, Américo, por ter me apresentado ao videoclipe desta excelente canção e, Renison, de coração, valeu por ter disponibilizado o disco em tempo recorde. Estou agradecidíssimo e emocionado por isso! Estas são apenas as minhas primeiras impressões...

 Wesley PC>

domingo, 8 de setembro de 2013

“A ALEGRIA DA MINHA ALMA MATA O MEU CORPO, MAS NÃO SE SATISFAZ” (ALGUMAS CONFISSÕES EXTRA-ACADÊMICAS E EXTRA-LITERÁRIAS)

Sempre tive muita vontade de consumir o famoso único romance lançado por Emily Brontë (1818-1848), um ano antes de morrer, aos trinta anos de idade, de tuberculose. Sempre cri que “O Morro dos Ventos Uivantes” seria uma impressionante história de amor, não obstante o filósofo francês Georges Bataille tê-lo incluído numa célebre compilação intitulada “A Literatura e o Mal”. Assisti às versões cinematográficas dirigidas por William Wyler, Luis Buñuel e Peter Kosminsky, sendo a primeira excelente e exuberante (o que justifica a inserção do meu rosto no cartaz do filme), a segunda exótica e provida de um certo charme latino e a terceira um tanto simplificadora, mas marcante por causa da impecável trilha sonora de Ryuichi Sakamoto que não me saiu da mente enquanto eu consumia o livro, ao longo das duas semanas que acompanham o tormento acadêmico descrito ao longo dos textos confessionais anteriores...

É neste ponto que eu me atrevo a incluir uma nova confissão: decidi-me a ler este romance durante esse estágio complicado de minha vida por saber que ele era um dos livros favoritos do querido pai de minha ex-orientadora. Mesmo que ela se recuse terminantemente a falar comigo por conta de um gesto universitariamente imaturo entendido como acinte traiçoeiro, fiz questão de enviar-lhe, via SMS, a primeira citação de destaque do primeiro capítulo: uma descrição do comportamento rabugento do protagonista Heatcliff pelo semi-narrador Lockwood, que alegava que a reserva solitária do mesmo tinha origem em “uma aversão a demonstrações efusivas de sentimento – a manifestações de gentileza recíproca”. Segundo o referido narrador, Heathcliff “ama e odeia, sempre às escondidas, e considera uma espécie de impertinência ser amado ou odiado de volta” (página 18 da edição que possuo). Minha ex-orientadora não respondeu à mensagem. Não esperei nem precisei disso...

Avancei a leitura do livro com avidez: percebi que ele era dividido em dois volumes e, por conta do intenso mal-estar que a trama me causou, conferi uma pausa de uma semana a mim mesmo entre um e outro volume – quatorze capítulos no primeiro caso; vinte no segundo, num total de trinta e quatro, distribuídos ao longo de trezentas e setenta e três páginas (incluindo-se as dez concernentes ao preâmbulo da edição da edição da L&PM Pocket publicada em 2011). Insisto: o livro me fez sentir muito mal (e mau também)!

Tanto por causa das similaridades entre as injustiças que envolviam os personagens e as conseqüências do ato imaturo anteriormente mencionado quanto por causa do descompasso entre a fama langorosa do livro e as suas qualidades intrínsecas e formalmente surpreendentes, o livro me fez mal. Troquei diversas mensagens com amigos durante a leitura, sendo que um deles – alguém rústico por quem sou eternamente apaixonado – apressou-se em defini-lo como “um livreco”. O motivo: o romance o fazia lembrar-se de uma namorada que o abandonou por motivos similares àqueles que se interpuseram entre os amantes da trama, os preconceitos sociais. Ele, inclusive, redigiu uma crítica estouvada do romance aqui, levando em consideração muito mais o bafafá posterior ao consumo ‘pop’ do romance que as inovações narratológicas que eu detectei no mesmo. Tratando de respeitar as opiniões divergentes e cuidando para não deixar vazar detalhes tramáticos que atrapalhem o (des)prazer de quem ainda não leu o romance, seguem algumas considerações analíticas, de minha parte:

Em relação à sinopse do livro, é dificultoso encontrar um ponto de partida, mas tentemos: tudo começa quando o fatigado Sr. Earnshaw, um viúvo que mora apenas com seus dois filhos, Hindley e Catherine, além dos vários criados, num local ermo e afligido por ventos lúgubres, traz para casa uma criança abandonada após uma de suas viagens. Catherine se encanta pelo garoto, Hindley torna-se extremamente enciumado. Todos são caprichosos e descritos impiedosamente pela autora, que não poupa os deméritos de nenhum dos personagens – absolutamente nenhum! Não é surpresa saber que Catherine e o garotinho, batizado apenas de Heatcliff, se apaixonarão. Mas serão impedidos de concretizar o ato. Mais tarde, ela se casa com um vizinho, Edgar Linton, e Hindley enviúva após o matrimônio, tornando-se um alcoólatra e negligenciando seu filho Hareton, que é cuidado (e tornado bruto) por um irascível e abandonado Heathcliff, eternamente apaixonado por Catherine, nas raias da loucura vingativa. O tempo passa e Heatcliff casa-se com a irmã de Edgar, Isabella, apenas para torná-la infeliz. Ela foge dele, morre, mas lhe concede um filho, Linton, o qual ele só conhecerá após a morte dela. Não apenas ele, como também o tio Edgar, que jurou nunca mais falar com Isabella, e a filha dele, Cathy (apelido de Catherine), que nasceu no mesmo dia em que sua mãe, Catherine, morreu, tornando os personagens do livro ainda mais amargos. Do meio para o final, os personagens tentarão sobreviver às desavenças, à ira e aos sentimentos vis que os guiam...

O detalhe que muda (quase) tudo: a trama não é narrada da forma como eu a descrevi anteriormente. Quem primeiro surge no romance é o inquilino do Sr. Heathcliff na velhice, Lockwood, que, escandalizado com o clima de discórdia que encontra na casa de seu senhorio, pede à sua empregada, Nelly, que lhe conte pormenorizadamente a história daqueles indivíduos. Estávamos em 1801 quando o romance se inicia, regredimos vinte e cinco anos, conhecemos tudo a partir do relato da onipresente Nelly, que descreve longuíssimos diálogos e missivas demonstrando uma memória irreprimível, e tudo termina em 1802, quando Lockwood volta ao local descrito no título do romance. ‘Flashbacks’ no interior de reminiscências, em meio a memórias mútuas e relatos epistolares, se misturam, configurando um estilo narrativo que, apesar de seu sobejo emocional descritivo (quase irritante, conforme destacou o mal-humorado resenhista Reinaldo), não merece ser descrito como menos que genial. Irritante, indignante, porém genial!

O porquê de tudo ser irritante: é visível que a autora compactua com os preconceitos que ceifam a tranqüilidade dos personagens. Em mais de um momento, ela utiliza a personagem da narradora intradiegética Nelly para tentar nos tornar cúmplice dos julgamentos injustos que se abatem sobre os membros das famílias Earnshaw, Linton e Heathcliff. Para a autora (através do que narra a serviçal), os ciganos são de má índole, as raparigas formosas têm razão de serem tão ríspidas e agressivas, e a ignorância e o analfabetismo são determinismos irrevogáveis. E, obviamente, tudo isso me fazia experimentar a raiva que abunda no romance. Não queria nem precisava sentir raiva – digo mais: temia senti-la, dada a minha fragilidade emocional hodierna – mas, nos derradeiros capítulos, o tom do romance muda, a ternura e o perdão parecem que ainda serão aceitos em meio àquele clima tétrico de tragédia coletiva e anunciada, que chega a beirar o sobrenatural de tão intensa. Mais do que isso, eu não conto. Leiam o livro: exaspera, mas, ao final, é maravilhoso e inteligentíssimo. Muito melhor do que dizem que ele é, aliás – por motivos completamente diversos daqueles que o tornaram famoso, inclusive. Frase final: “perguntei-me como alguém poderia conceber um sono intranqüilo para os que dormem no silêncio daquela terra”. E, algum dia, talvez a minha ex-orientadora volte a trocar alguma palavra comigo: quem sabe até ela me perdoa?


Wesley PC> 

“CHUPA, MAS NÃO ME BABA!”


“Vou mandar um papo reto,
 Você tem que saber
 Se esculacha as amantes 
Eu te pergunto o porquê

 Pelo que eu te conheço 
 Você não é grande coisa 
Seu ‘lulu’ é tão pequeno
 Pro comentário da outra 

Tu é racista, desnutrido 
A fiel não te alimenta 
Tu dependes das amantes
 Mas pra elas não compensa 

Tu calou, tu consentiu 
Quem gostou, grita ‘U’” 

 Oficialmente, eu nunca prestei a devida atenção ao ‘funk’ carioca. Por mais que o ritmo fosse constante nas festas da eterna Comunidade Gomorra, eu nunca dei muita trela para o que estava por detrás daquela sonoridade, não obstante me divertir bastante com os versos “Dako é bom/ Dako é bom/ calma, minha gente, é a marca do Fogão”... 

 Fiquei entusiasmado ao saber que, mesmo grávida, a cantora Tati Quebra-Barraco fazia seus ‘shows’ incitadores de sexualidade, conforme visto no documentário “Sou Feia, Mas Tô na Moda” (2005, de Denise Garcia). O problema é que este filme, por mais bem-intencionado que fosse e por mais sociologicamente exitoso que se mostrasse, era midiaticamente deslumbrado, não sabia estabelecer uma diferença entre tomada de partido (estabelecida sob o disfarce da objetividade documental, mas, aqui, os termos rimam!) e reflexão acerca dos pré-julgamentos difundidos. Não é o que acontece em “Favela Bolada” (2008, de Leandro HBL & Wesley Pentz), que, conforme anunciado pelo crítico Amir Labaki, oferece uma visão definitiva sobre o fenômeno...

 Vi o filme mais recente na tarde de hoje e, caramba, não consegui parar de dançar! Entretanto, a minha análise acerca do filme não ficará presa a este aspecto percussivo-somático. O filme é muito bom em sua generalidade: fala sobre o ‘funk’ ostentação, os “proibidões”, o “‘funk’-sacanagem” e as demais variações rítmicas. Os diretores entrevistam o onipresente DJ Marlboro, dão crédito aos atropelos discursivos do MC Serginho – que chega a afirmar que “sacanagem não ofende ninguém”, hã?! – e, esperadamente, utilizam um dos sucessos do Bonde do Tigrão (“Só as Cachorras”) durante os créditos finais. Gostei muito!

 Mais de um entrevistado falaram do ‘funk’ como algo que expressa as tensões típicas da favela, um deles [não lembro o nome, quem souber, comenta, por favor!] chegando a estabelecer uma rica comparação com as origens do samba, quando as reuniões em torno deste tipo de música eram precedidos de intervenções policiais, visto que a grande quantidade de negros reunidos num mesmo lugar era preconceituosamente atrelada à criminalidade. Em relação ao ‘funk’, o grau de rejeição e condenação é muito maior, de modo que um deles argüiu para a câmera: “como é que vocês querem que eu cante coisas como ‘alvorada, lá no morro que beleza...’ quando o que vemos da janela não tá pra brincadeira? Eu só fico com pena de ter esse tipo de inspiração, que não era pr’eu ter”... Tem como não concordar? Mesmo ainda sendo leigo em relação ao tema e ao contexto, comprei a briga dos favelados, dos funkeiros. E faço questão de adquirir um disco da Deize Tigrona (autora dos versos que servem de epígrafe a esse texto) o quanto antes. O que ela diz me representa, caralho! E, como canta a Gaiola das Popozudas, que também aparece no filme: "eu dou prá quem eu quiser, que a pôrra da buceta é minha!". Tenho dito!

 Wesley PC>