quinta-feira, 17 de outubro de 2013

DEFINITIVAMENTE, “MÁGICA PARA CEGOS”!

Este é o título de um livro aprisionado no rótulo de “paradidático” que descobri na noite de anteontem, graças a um rapaz de treze anos que queria que eu o ensinasse a jogar xadrez. Ele está na sétima série (oitavo ano do ensino fundamental) e elogiou bastante o referido livro durante a leitura, de modo que fiquei levemente curioso para saber do que se tratava, no afã por encontrar algum artefato literário juvenil que correspondesse à saudosa Coleção Vaga-Lume. Para a minha surpresa, não é que o livro é ótimo?

Em verdade, trata-se de uma coletânea de contos distribuídos em mais ou menos 80 páginas. Pensei em ler o primeiro deles, “Sobre a Minha Inexistência”, antes de dormir, e me apaixonei: o estilo do escritor Marco Túlio Costa é espetacular: o modo como o título é explicado (na prática metalingüística) durante o texto é genial!

Publicado em 2011, o autor refere-se a “Mágica para Cegos” como um conjunto de contos e contracontos que se interligam. O tema da loucura delirante é comum às oito estórias, sendo o conto que intitula o livro o mais inteligente e sensível deles: fala sobre uma cidade em que todos os habitantes, tanto humanos quanto animais, são cegos! E, de repente, aparece um mágico entre eles, encantando a todos com os seus truques espetaculares, que ninguém vê, apenas se ouve as descrições. Até que, numa legítima tática saramaguiana, um dos moradores recupera a visão e resolve desmascarar o mágico. O que acontece é elipticamente magistral!

No livro, encontramos também “Destinos Cruzados”, uma trama em que um caminhoneiro (que mais tarde sabemos ser imaginário) encontra um toxicômano pretensamente reabilitado que lhe confessa, aos prantos, o quanto o seu vício em ‘crack’ o levou a situações degradantes, como roupar o terno e os sapatos do pai de seu caixão, logo após o funeral, para vender e trocar por pedras da referida droga. Como experimento versões muito mais leves deste problema de “queimar a casa para usar drogas” em minha família, não pude deixar de me emocionar bastante com esta estória. Digo mais: não sei até que ponto consideraria este estilo juvenil. A maturidade autoral do escritor é impressionante. Recomendo alguns contos do livro para qualquer amante da literatura, sem receio de estar exagerando em minha empolgação.

Os demais contos do livro [“O Distrato”, “Sinal Aberto”, “Notícia Urgente”, “Vida de Mula” e “A Ratoeira”] também possuem seus méritos imponentes, mas os três que eu destaquei são excelentes e, só por eles, o meu espanto frente à qualidade discursiva do livro se instaura e justifica: ótima surpresa, quem diria?

 Cheguei a comentar com o garoto que mo emprestou que o considerei “muito difícil para a sua idade”. Ele concordou, mas não rejeitou a boa experiência de tê-lo lido. Fiquei contente. Apesar de temer admitir isso, acho que sou mesmo um homem esperançoso...


Wesley PC> 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“FAÇAMOS A REVOLUÇÃO ANTES QUE O POVO A FAÇA!”

Eu já disse que amo o cineasta sulista Sylvio Back? Apesar de sua obra-prima fílmica ser o clássico “Aleluia, Gretchen” (1976), ele é conhecido mesmo por seus documentários irônicos e desmistificadores. Já havia visto – e gostado muito – de “Rádio Auriverde” (1991) e “Yndio do Brasil” (1995). Na manhã de hoje, vi o melhor deles, o genial “Revolução de 30” (1980), montado a partir de uma trintena de filmes, inclusive ficcionais, previamente realizados. Historiadores consagrados como Boris Fausto, Paulo Sérgio Pinheiro e Edgard Carone faziam os providenciais comentários em ‘off’, visto que o filme rejeita a narração tradicional comum aos produtos do gênero lançados na época. Apesar de não ser muito “didático” em relação ao seu assunto titular (o filme está muito mais interessado em comentar criticamente os interesses escusos dos ditos revolucionários que em explicar para o espectador o quer houve), o roteiro é primoroso em suas contribuições discursivas, em especial quando um dos historiadores deixa bem claro que a revolução não fora efetivamente popular, “mas apenas a substituição de uma oligarquia por outra”. Gostei muito!

A participação mui relevante do político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque no levante retratado foi particularmente interessante para mim, visto que eu pesquisei um pouco sobre o assunto antes de viajar para o Estado natal deste político, assassinado em 26 de julho de 1930 por motivos internos que logo foram ressignificados pelo evento nacional mais geral. Interrompeu-se naquele ano a “política do café com leite” que conferia a presidência do Brasil apenas a políticos paulistas ou mineiros, produtores mais destacados dos víveres mencionados na antonomásia política. Se, um dia, eu tiver a oportunidade contratual de ser um professor, seja lá de qual disciplina, deixo firmado aqui o compromisso de exibir este documentário em sala de aula: ele é genial tanto enquanto aula de História quanto enquanto demonstração do potencial sarcástico do cinema. Uma pérola na cinematografia brasileira, uau!


Wesley PC> 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

E, SE ALGUÉM PERGUNTAR POR MIM, DIGA QUE EU SOU UM HOMEM QUE AMA!



Sim, senhor, eu sou um homem que ama! Isso tem tantas benesses quanto ônus, mas eu não renego nem umas nem outras: eu amo, simplesmente amo - e continuo a amar... Talvez isso me renda alguns centavos em ajuda monetária de custos de viagem, mas, se não for o caso, nem ligo: eu amei e sigo amando. É o que importa - e estou de volta!

Wesley PC>

UM DISCO, MAS NÃO APENAS UM DISCO...

Nunca tinha sequer ouvido falar do cantor britânico Fink, que já possui cinco elogiados discos de estúdio lançados, além de um ao vivo, “Wheels Turn Beneath My Feet” (2012). Conheci este artista, cujas músicas parecem uma mistura de Beirut com o havaiano Jack Johnson mais uma pitadela do galês Perry Blake, graças à quarta faixa [“Blueberry Pancakes”] de seu terceiro álbum, “Distance and Time” (2007). Esta era a canção favorita de um viajante espanhol que habitava a casa em que fiquei hospedado por metade de uma semana em João Pessoa, na Paraíba. Ouvi esta canção repetidas e repetidas vezes, emocionando-me por causa do trecho em que o artista canta algo sobre estar “sitting at the table where all began for us”... Oh, como este verso me diz respeito!

Baixei o disco nesta tarde de terça-feira e o ouvi na íntegra. Repeti a quarta faixa mais de uma vez e agora estou recomeçando a audição. A primeira faixa [“Trouble’s What You’re In”] é bem lentinha, mas a segunda melhor faixa do disco [a nona e última, “Little Blue Mailbox”] é interessantíssima. Numa primeira análise imediata, o álbum é apenas mediano, não obstante ser gracioso e carregado de paixão mnemônica. Far-me-á bem mergulhar nestes acordes suaves e voz grave ao longo de minha readaptação sergipana...


Wesley PC> 

ANÁLISE SEMIOLÓGICA DA FOTOGRAFIA DE UM JON JOSEBA QUALQUER...

João e José são nomes comuns em quase qualquer idioma. Devidamente traduzidos, eles batizam de pessoas ordinárias a celebridades. O prenome do rei da Espanha, por exemplo, é Juan.  Na Catalunha, na Andaluzia, em Bilbao, em Andorra, onde quer que se pense, tais nomes mencionados são freqüentemente ditados nos cartórios. Foi o que aconteceu com o rapaz da fotografia...

Nascido em Barcelona, no início da década de 1990, ele chegou recentemente ao Brasil, após diversas complicações para regularizar os documentos de seu visto provisório. Ele é estudante de Engenharia Civil e possui um sotaque muito carregado. Enquanto os seus amigos possuem traços lingüísticos latinos muito acentuados, o modo como ele tentava se expressar em português ostentava tantas dificuldades quanto aquelas sofridas por um anglo-saxão em passagem pelo Nordeste do Brasil. Mas, oh, como ele sabia sorrir: a imagem não nega!

Por mais carregada de elementos classista que seja (vide os barcos por detrás dos olhos arregalados do rapaz), tal fotografia é muito sintética no que diz respeito à demonstração da personalidade evidente do mancebo, que me fez sorrir de verdade quando pediu que eu digitasse o verbo ‘arreganhar’ em seu aparelho de telefonia móvel. Ele disse-me que gosta muito de bandas ‘indie’ espanholas como Vetusta Morla e Supersubmarina, as quais ainda não tive tempo de ouvir. Mas lembro como se fosse hoje da voz linda deste moço, de seu jeito desajeitado e encantador de pronunciar as palavras brasileiras para masturbação. Uma de suas amigas, inclusive, disse que iria tocar uma siririca pensando em mim. Fiquei deslumbrado. Na volta para casa, eu suspirava... Um colega disse que gostou muito dele, mas que o acho assexualizado. Eu o amei por uma noite, fantasiosamente, platonicamente... É como se fosse para sempre: ainda estou a sorrir!


Wesley PC> 

SÍNTESE DE UMA VIAGEM PARAIBANA (ATRAVÉS DA BOCA DO LIXO):

Minha mãe é paraibana. Um de meus vizinhos favoritos também. Por esses e muitos outros motivos, a minha recente viagem a João Pessoa foi permeada por impressões e sensações que antecipavam o que eu experimentaria academicamente, já que o meu intuito principal era participar de um congresso sobre sexualidade e defender a Boca do Lixo paulistana numa palestra improvisada com estudantes interessados da UFPB. Porém, em João Pessoa eu fui muito mais feliz do que previra...

 Além de ser magistralmente acolhido por dois ótimos e diferentes tipos de anfitriões, conheci uma turma engraçadíssima de espanhóis (um deles, um semi-basco belíssimo) e tive a oportunidade de assistir a dezesseis filmes, sendo quinze deles inéditos e vários pertencentes à Boca do Lixo. No ultimo final de semana da viagem, inclusive, mergulhei numa maratona fílmica ao lado de minha inteligente anfitriã, a fim de compararmos conjuntamente as pornochanchadas (cariocas) e os filmes de gênero da Boca do Lixo. Nesta maratona, dois filmes chamaram elogiosamente a nossa atenção: o primeiro deles foi o faroeste tupiniquim “A Filha do Padre” (1975), protagonizado e dirigido por Tony Vieira; o segundo foi o hilário “Hospital da Corrupção e dos Prazeres” (1985, de Rajá de Aragão, outrora assistente do Tony Vieira, coincidentemente).

 Terei mais de uma oportunidade para comentar os méritos do primeiro filme, deveras cultuado, mas preciso declarar o meu afeto risório pelo segundo, absurdamente crítico e brilhantemente ousado em suas cenas toscas de sexo explícito, que incluem desde a manipulação sensual de um cu com gonorréia até a escandalosa ejaculação sobre pedaços de carne bovina, que, assim, é anunciada “fresca e temperada” num açougue. Mas nada se compara à funcionária que engancha uma garrafa na vagina enquanto se masturbava com ela. Tragicomicamente hilário! E olha que o roteiro do filme é, de fato, uma denúncia ainda infelizmente atual à corrupção hospitalar, em que um paciente tem um quisto removido e é obrigado a declarar que teve a sua perna amputada. O desfecho anti-corrupto é primoroso, ainda que utópico. Terei muito a falar sobre este filme ainda...

Por ora, antecipo que esta postagem é uma declaração de que estou de volta! Não pude publicar nada neste ‘blog’ quando estive viajando, mas, aos poucos, recupero o ritmo. Ainda me sinto feliz, muito feliz por tudo o que experimentei na Paraíba. Ai, ai...

 Wesley PC>