sábado, 16 de novembro de 2013

"SEM SANGUE, NÃO SE FAZ HISTÓRIA"!


Afinal, consegui ver "Nosferato no Brasil" (1971, de Ivan Cardoso) na íntegra...

Achei o filme maravilhoso, uma verdadeira declaração de amor! Além de me emocionar com o ótimo uso da trilha sonora, que mistura clássicos 'hippies' com "Detalhes", de Roberto Carlos, e uma marchinha carnavalesca sobre um dia muito feliz (que, na tela, antecede um assassinato de uma rapariga de biquíni), excitei-me deveras numa seqüência em que um homem de cueca é morto numa espécie de sabá para o protagonista. Isso fez com que eu lembrasse que, na noite de ontem, experimentei o prazer de sentir um pênis intumescendo com a minha proximidade. Minutos depois, o portador do pênis em pauta desfilava de cueca à minha frente, diante de sua família. Tenho o maior tesão por homens vestindo cueca! E estou feliz por ter visto o curta-metragem que, de fato, é a obra-prima do Ivan Cardoso...

Wesley PC>

"ONDE SE VÊ DIA, VEJA-SE NOITE"!

Tentei ver o canonizado curta-metragem experimental "Nosferato no Brasil" (1971, de Ivan Cardoso) na manhã de hoje, mas o vídeo travou. A ansiedade para tal desejo, para além dos méritos indiscutíveis do filme em si, deve-se ao fato de eu querer conhecer mais sobre a obra de seu diretor, pois planejo ver o recente e menosprezado "Um Lobisomem na Amazônia" (2005), quando chegar em casa à noite.

Do diretor, já tive acesso ao irregular "O Segredo da Múmia" (1982), ao divertido segmento "Sábado Quente" em "Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez" (1985, co-dirigido por John Herbert) e ao péssimo "As Sete Vampiras" (1986). Tentarei ver "O Escorpião Escarlate" (1990) na manhã de hoje, mas não duvido que a obra-prima do diretor seja mesmo o curta-metragem que não consegui ver: ele se saiu muito melhor em situações curtas, visto que o seu estilo directivo é chanchadesco!

Os poucos minutos de "Nosferato no Brasil" a que tive acesso me encantaram: a versão tropical e alterada da Budapeste do século XIX, filmada em pleno Rio de Janeiro praiano, no século XX, num elenco em que Torquato Neto e Scarlet Moon se destacam, assegura a imersão tropicalista. Gosto muito da gana autoral do Ivan Cardoso, portanto!

Wesley PC>

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

"VOCÊS, HOMENS, SÓ GOSTAM DE LUTAS E MORTE; NÓS, MULHERES, PREFERIMOS UM PRATO CHEIO DE AMOR!"

Era evidente que um filme sobre 'kickboxing' realizado pela Boca do Lixo paulistana, por um medíocre realizador de filmes eróticos, seria ruim. Mas, ainda assim, a experiência de ver "A Gaiola da Morte" (1992, de Waldir Kopezky) não é desprezível: para além das ridículas cenas de luta e do roteiro canhestro, há uma involuntária defesa espectral do sexo enquanto instância unificadora...

No enredo, a inconvincente policial interpretada por Cláudia Abujamra une-se ao lutador Paulo Zorello para encontrar o seu irmão desaparecido. Também lutador de artes marciais, este irmão foi raptado por uma organização criminose que promove lutas ilegais até a morte. Inicialmente, o lutador Paulo reluta em acreditar no que lhe diz a policial, mas, subitamente, ele se apaixona por ela e resolve mergulhar na aventura, sendo também aprisionado no ringue fatal, onde eletrochoques antecedem declarações estapafúrdias ressoadas num alto-falante, como a que se segue: "a guerra é o caminho verdadeiro para a paz. Somente através do ódio se pode chegar ao amor!". 

Enquanto o filme, obviamente, é entulhado de seqüências de luta, músicas associadas a erotismo e um clima pornográfico rondam os personagens, que, a cada pretexto, dão a entender que foderão. Porém, quem faz realmente sexo no filme é uma assistente forçada de vilã (vivida por Daliléia Ayala), a personagem que pronuncia a declaração que intitula esta publicação: além de dopar os lutadores aprisionados, ela oferece-se sexualmente a eles antes de suas lutas derradeiras, quando supostamente serão derrotados e assassinados. No elenco, diversos lutadores famosos da época, como um tal de Mestre Maurício, que consegue fugir e ajuda os protagonistas a se safarem dos bandidos e policiais corruptos.

Cenas de humor involuntário não faltam, logicamente, mas o que mais me impressionou foi a referida onipresença de um erotismo interdito. Chutes e espancamentos são tolerados; beijos e alisamentos genitais, não. Estamos na década de 1990, após o fechamento da Embrafilme e em plena crise-mor do cinema brasileiro: não é casual que se perpetue o que o roteiro deixa nas entrelinhas, em seu afã imitativo pelos ganchos enredísticos caros às produções de Jean-Claude Van Damme que eram consumidos a rodo na época... Ai, ai!

Wesley PC>

terça-feira, 12 de novembro de 2013

NA VIDA REAL, O SOFÁ FOI RASGADO...

Apesar de não ter gostado tanto de "Os Bastardos" (2008) quanto gostei de "Sangue" (2005), a cena mostrada na foto me impressionou...

Tive acesso a ambos os filmes numa maratona com as obras do cineasta espanhol radicado no México Amat Escalante que eu e dois amigos empreendemos na madrugada de hoje. Além de aprendermos bastante sobre a vida e nós mesmos, sentimo-nos mutuamente apaixonados pelo que víamos. Num dado momento, entretanto, empolgado de tanto rir, eu rasguei - sem querer, lógico! - o sofá de nosso anfitrião goiano. Por sorte, ele não demonstrou ter ficado muito chateado comigo. Talvez seja fácil de resolver o problema, visto que, na manhã seguinte à maratona, ele seria justamente visitado por um marceneiro. Enquanto isso, eu sigo pensando nos filmes...

Por mais que "Os Bastardos" seja óbvio em suas reivindicações sociais e no apego aos imigrantes rudes interpretados por Jesus Moises Rodriguez e Rubén Sosa, fiquei encantado pelo olhar de perplexidade do segundo, que, na foto, está à esquerda, observando seu amigo (ou irmão) praticar sexo oral na dona-de-casa enfastiada (Nina Zavarin) que será terrivelmente assassinada em seguida... Esta cena me excitou!

Wesley PC>

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

“É BOM SENTAR NO ESCURO, ESPERANDO O MEDO CHEGAR...”

Assim propõe uma criança, não por acaso de nome Marcelo (Pedro Coelho), em “O Anjo da Noite” (1974), um dos poucos filmes de Walter Hugo Khouri que eu ainda não tinha visto. Acabo de sair da sessão e confesso: estou impressionado!

Pioneiro no subgênero de terror com ameaças telefônicas a babás, este filme é protagonizado pela magistral Selma Egrei, cujos olhos expressivos são utilizados à exaustão dramática pelo diretor, como é freqüente em seus filmes. Ela interpreta uma estudante de Psicologia contratada para cuidar de duas crianças numa fazenda, enquanto seus pais riquíssimos cumprem uma obrigação pequeno-burguesa. A mãe (Lílian Lemmertz) recebe a nova contratada nua; o pai (Fernando Amaral) a surpreende enquanto ouve músicas de Johann Sebastian Bach. O vigia da residência (Eliezer Gomes) a conforta: “há vinte e três anos que eu trabalho aqui”.Foi há vinte e três anos que eu nasci”, responde a babá, que, acostumada aos barulhos da cidade, estranha a calmaria do campo. O vigia, por sua vez, disse que esqueceu os ruídos urbanos e não faz a mínima questão de lembrar. Vendo que ela não consegue dormir, ele lhe oferece café com pão, queijo e goiabada. Ela aceita, relutantemente. Ela precisa estudar. Ele afirma que não sente medo da noite, mas antes uma ansiedade, uma tristeza que assombra...

No meio da noite, Marcelo acorda. Intimidado pela beleza da lua, ele aponta a sua metralhadora de brinquedo contra ela. Em plena madrugada, ele pede à sua babá e ao vigia que eles lhe permitam andar de motocicleta pelo jardim. Os ruídos do veículo, em mais de um instante, confundem-se com a trilha musical de Rogério Duprat, que também se mistura com os sons de cigarras. É um filme de terror, sem dúvidas: ao final, babá e crianças são mortos. Não é uma situação previsível – ou talvez o seja pela perturbadora obviedade dos fatos inesperados que se concatenam. Minha mãe não agüentou ver o filme até o final. O achou demasiado fúnebre. De minha parte, aqui eu entendi preciosamente o quanto o diretor é influenciado pelo Michelangelo Antonioni: os planos gerais que demonstram o quanto a arquitetura da casa é apavorante tem tudo a ver com o genial cineasta italiano. “O Anjo da Noite” é um filme maravilhoso. Uma jóia brasileira clamando para ser devidamente valorizada!


Wesley PC> 

domingo, 10 de novembro de 2013

"MEU MAIOR PESAR É NÃO TER ETERNIZADO NADA..."

Aos domingos, minha mãe faz questão de assistir a um seriado espanhol chamado "Hermanas" (1998-1999), exibido no Brasil pela TV Aparecida. As protagonistas são freiras e, entre elas, há o fantasma de uma freira falecida. No episódio de hoje, uma freira oferece ao fantasma um copo de licor. Esta retruca: "a pior coisa de não se ter mais corpo é não poder ceder às vontades". Para quem não sabe, a TV Aparecida é um canal católico. Como será que os administradores do mesmo reagiram a esta sugestão eclesiástica? Será que eles prestam atenção ao que exibem?

Pelo sim, pelo não, enquanto minha mãe via o referido seriado, eu rememorava em minha mente o filme "A Eternidade e um Dia" (1998, de Theo Angelopoulos), que vi na manhã de hoje, com o intuito de afastar as imagens tenebrosas do pesadelo com mortos-vivos que tive ao longo de toda a madrugada. Ao contrário dos demais filmes do diretor, entretanto, este me enfadou deveras. O problema talvez seja a sua exacerbada ênfase na questão da imigração, a partir da figura de um garotinho albanês que trabalha como flanelinha nas ruas helênicas e resolve vender algumas palavras nostálgicas ao protagonista, um poeta portador de uma doença terminal, maravilhosamente interpretado por Bruno Ganz.

Três eram as palavras vendidas: 'korfulamu' [que significa 'o coração de uma flor']; 'xenitis' ['um estrangeiro perpétuo']; e 'argathini' [que quer dizer 'muito tarde' ou, simbolicamente, 'o crepúsculo de uma vida']. Excetuando-se o uso poético destas palavras, as cenas no interior de meios de transporte (em especial, um ônibus) e o instante em que o título é explicado como sendo o tempo que falta para o surgimento do amanhã, o filme me deixou enfadado. Achei a produção menos interessante - de longe - de seu diretor. Quando eu tiver a oportunidade de revê-lo, talvez esteja mais preparado para enfrentar os temas que me incomodam, mas, por ora, mesmo não tendo apreciado tanto o filme, elogio-o deveras, visto que ele me fez experimentar novamente a plenitude da imagem-tempo. Eu estava precisando...

Wesley PC>