sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

SINTO-ME COMO UM LEGÍTIMO DELEUZEANO!

Conforme expliquei aqui, assisti a "O Perigoso Adeus" (1973, de Robert Altman) quase por acaso, mas, apesar de estar um tanto sonolento, não consegui dormir após a sessão, de tão impressionado que fiquei com o filme, com o modo genial como o diretor deixa de se preocupar com os percursos da imagem-movimento e fixa-se a um modelo de enquadramento múltiplo (tanto em nível imagético quanto sonoro) que antecipa o conceito de imagem-tempo, segundo diagnosticado pelo filósofo Gilles Deleuze. O fotograma anexado a esta publicação não deixa dúvidas acerca desta perspectiva diferenciada: tudo o que vejo agora é cotejado ao esquema teórico que relaciona o quadro cinematográfico (ou instante) ao "corte imóvel do movimento" e o plano a um "corte móvel na duração". É o caso, do mesmo modo que diversos casos subjacentes podem ser elencados nesta obra-prima. Pois eu precisarei pedir desculpas caso me ausente por alguns dias: estarei estudando, estarei amando, estarei em êxtase!

Wesley PC>

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

LEMBRAM QUANDO O PERSONAGEM DE ZÓZIMO BULBUL DIZ QUE O RACISMO NO BRASIL É TÃO DISSIMULADO QUANTO "UMA ARANHA CARANGUEJEIRA SOLTA NO SÓTÃO DE UM ORFANATO"? POIS ENTÃO, EU QUERO É MAIS!


Apesar de eu não saber cotar cabelo, sentir-me-ei honrado se dispor de novas oportunidades para dialogar com um mestrando em Sociologia - com interesse evidente e reiterado nas questões raciais que engendram opressão sociais classistas - sobre aquilo que sentimos durante a sessão do maravilhoso "Compasso de Espera" (1973, de Antunes Filho)... Em outras palavras: não tenho medo de ser idiota, muito menos de comportar-me apaixonadamente, além de interessar-me cada vez mais pela pesquisa do chamado "cinema negro brasileiro". Ele merece!

Wesley PC>

PARA QUE NÃO DIGAM QUE EU NÃO FALO SOBRE O QUE TODO MUNDO FALA...

Apesar de minhas críticas recorrentes, minha mãe insiste em ver o péssimo programa da TV Record "Balanço Geral", apresentado por uma criatura execrável cognominada Geraldo Luiz. Isto faz que, vez ou outra, eu saiba de alguma forçação de barra que esteja acontecendo no Brasil, como o que descobri hoje: o ex-galã das telenovelas da extinta Rede Manchete, Victor Wagner, hoje sobrevive vendendo coxinhas em São Paulo!

Apesar do tom supostamente escandaloso desta manchete (sem trocadilhos - risos), o próprio ator não considerava anormal o que fazia: havia comprado um bar em conjunção com um amigo e se divertia eventualmente autografado as fotografias nuas que lhe apresentavam suas clientes. Mas o ignóbil apresentador insistiu em fazer escândalo com a situação e entrevistou o personagem real, hoje com 54 anos de idade, de forma artificial: parecia que era tudo uma armação para o ator se promover, o que é lícito, visto que ele ainda está muito bonito e, confesso, gostei muitíssimo dele em "Bocage, o Triunfo do Amor" (1997, de Djalma Limongi Batista). Adiciono mais alguns degraus em minha confissão elogiosa: mesmo não tendo visto as elogiadas telenovelas "Tocaia Grande" (1995) e "Xica da Silva" (1996), já que a TV Manchete não era mais exibida em Sergipe quando as mesmas foram lançadas, masturbei-me bastante graças à exposição do corpo do ator em revistas sensacionalistas com que me deparava na adolescência. Revendo-o hoje, foi difícil controlar o impulso ejaculatoriamente nostálgico, visto que, insisto, considero-o talentoso, de modo que não descreio do depoimento de Tânia Alves adicionado a este ensaio fotográfico. Gostaria de conhecê-lo qualquer dia, ao lado do David Cardoso (risos)...

Enquanto isso, uma vizinha passa gritando diante de minha casa, dizendo que está indo comprar os convites para o aniversário do filhinho com fimose e, mais abaixo, um vizinho recém-saído da penitenciário repete à exaustão a mesma música brega, cujo refrão ameaça que vai desmascarar a sua amante adúltera: "a casa caiu, a festa acabou/ Pra mim e pra ele jurou o seu amor/ A casa caiu, perdeu o seu harém/ Queria os dois, ficou sem ninguém". Nada como observar a vida real!

Wesley PC>

MEU DINAMARQUÊS ESTÁ ENFERRUJADO, MAS, MESMO QUANDO O CARL THEODOR DREYER DERRAPA UM TANTINHO, ELE DEIXA EVIDENTE O QUANTO É GENIAL: UAU!

Este longo título que serve de epígrafe é uma espécie de pedido de desculpas para mim mesmo por não ter compreendido bem “Os Estigmatizados/ Amai-Vos Uns aos Outros” (1922). Justificativas para tal não me faltaram: além de a trama do filme ser confusa por si mesma – em sua mistura de subtramas que versam sobre anti-semitismo e outras que abordam os problemas desencadeados pelos atos estouvados de socialistas russos – tive acesso a este filme menor do cineasta numa cópia com péssima qualidade imagética e legendas em espanhol com atraso de mais de um minuto em relação aos intertítulos originais, sem contar que a versão que eu via divergia da remontagem sueca à qual as legendas estavam vinculadas. Mas, ainda assim, são diversos os bons momentos do filme. Um exemplo: o momento egrégio em que o fantasma de uma mãe judia recém-falecida conversa com o seu filho convertido ao cristianismo ortodoxo. Uma cena antológica!

Conforme dito anteriormente, não entendi direito as situações vinculadas às contingências do destino da protagonista Hanne-Liebe (Polina Piekowskaja), que estuda em um colégio russo na infância e peregrina por São Petersburgo antes de voltar ao seu vilarejo natal e ser acossada por revolucionários preconceituosos – num artifício maniqueísta e prejudicial do roteiro do filme – mas não é um filme a ser ignorado: deixo aqui firmado o meu compromisso de rever este filme com amigos o quanto antes!


Wesley PC> 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

E SE EU DISSER QUE, QUANDO FUI AO BANHEIRO, SENTI NOJO DE UM HOMEM CARECA QUE ESCARRAVA NA PIA?


Erca! Por sorte, as boas lembranças de "A Culpa é de Voltaire" (2000, de Abdellatif Kechiche), filme que vi - sem legendas! - antes de dormir, ainda me perseguiam positivamente: além de Sami Bouajila e Élodie Bouchez formarem um belo casal, a trilha sonora tunisiana do filme é maravilhosa. Por mais que, no geral, o que tenha sobrevivido com mais intensidade foi o clima de coito interrompido que rondava o protagonista Jallel, que, afinal, faz sexo com a doidinha que conhece num sanatório... Mas é preso e deportado! Pena...

Wesley PC>

"O GOSTO AMARGO É O DA MULHER, QUE SOFRE MAIS"...

Impulsionado pela decisão de um amigo, que dedicará os dias vindouros ao contato com as obras de Carl Theodor Dreyer, aproveitei o embalo para, também, conferir os filmes deste genial cineasta dinamarquês que ainda não me deslumbraram. Na manhã de hoje, portanto, estive em contato com "O Presidente" (1919), sue longa-metragem de estréia. E, caramba, que bênção em forma de produção cinematográfica!

O termo bênção, no parágrafo anterior, não está em negrito à toa: de fato, o filme é uma grande bênção, uma bonificação religiosa, um discurso sobre o perdão e o entendimento entre os seres humanos. Na trama, diversas narrativas paralelas chegam a uma mesma conclusão: mulheres são enganadas pelos homens, quando estes alegam que estão apaixonados por elas. No início, ainda no final do século XIX, um pai moribundo faz o seu filho jurar que jamais desposará uma mulher inferior a ele em classe social. Mais à frente, situações de abandono se repetirão, havendo um ciclo reprodutivo de mães solteiras, até que uma delas, expulsa da casa da mãe do homem que a engravidou e largou após infindas promessas de casamento, desmaia quando o seu filho nasce. Ele perece, por causa do frio, e ela é acusada de infanticídio. É condenada à morte, mas o seu pai, arrependido, se apresenta como tal, desobedece às suas obrigações judiciais e a ajuda a fugir da prisão, promovendo o encontro entre ela e um imigrante javanês, com quem se casa. O pai se suicida, obviamente. Mas, ao contrário de ser um final infeliz ou trágico, esta é uma declaração de que as pessoas têm direito a "segundas chances" na vida...

Acabo de sair de uma reunião de discentes de Mestrado: estou escandalizado com tudo o que ouvi sobre as relações de poder e de legitimação institucional do programa de pós-graduação ao qual estou vinculado, mas tenho certeza de que esta não é uma exclusividade minha e dos meus colegas: somos apenas joguetes num estratagema problemático de titulações combativas mais amplo. Preferirei focar no que o titio Dreyer me ensinou... Ufa!

Wesley PC>


domingo, 8 de dezembro de 2013

A NUDEZ MÓRBIDA DE PIERRE PERRIER... OU A BELEZA ONÍRICA E AS INTERRUPÇÕES DO CIÚME!

Na madrugada de hoje, sonhei que estava hospedado em Recife. Fui assistir a uma palestra de uma amiga que vive na Paraíba, se não me engano, e compartilhava o quarto com um ator muito bonito e meu melhor amigo: o primeiro tomava banho vestido e se ensaboava por cima das roupas (pude constatar isso bisbilhotando-o por debaixo da fresta da porta do banheiro); o segundo tomava o meu tempo tentando convencer-me a roubar um aparelho de som no quarto ao lado, ocupado por traficantes de drogas. Havia muito vermelho no ambiente e a minha visão era panorâmica, como se eu estivesse olhando tudo da janela de um avião...

Acordei. Fui a um supermercado, pagar uma conta, e me deparei com dois homens armados com metralhadoras ao meu lado, protegendo o estoque de um caixa bancário automático. Voltei suado. Foi bom caminhar...

Planejo ver o último episódio da extraordinária telessérie francesa "Les Revenants" (2012) em alguns minutos. Por enquanto, só existe uma temporada realizada, com oito episódios. No sexto, o atormentado Simon (Pierre Perrier) é assassinado pelo novo marido de sua amada (vivida por Clotilde Hesme). Aparentemente, ele havia se suicidado no dia de seu casamento, dez anos antes de seu retorno como zumbi bonito. Quando conta à sua esposa que atirara em seu rival, o policial (Samir Guesmi) ouve dela o seguinte questionamento em voz embargada: "ele morreu?". Com voz firme e decidida, ele retruca: "ele já estava morto!". Vemo-lo nu no necrotério. Ele é posto numa gaveta e, mais à frente, faz sexo com uma mulher estranha, que se apresenta como sua "fada-madrinha". Há um nu frontal. Mas a cena é triste, a situação é plena de melancolia...

Este seriado é um grande achado. De fato, tem muito a ver com o universo de "Twin Peaks"(1990-1991), idealizada por David Lynch. Porém, o tom desta produção mais recente é ainda mais taciturno e bem menos investigativo. Cada vez gosto mais da garotinha Camille (Yara Pilartz), que, morta aos 15 anos, num acidente de ônibus, ainda era virgem e alimentava uma paixão platônica intensa por um jovem que fazia sexo com sua irmã. Outro garotinho encantador é o pequeno Victor (Swann Nambotin), assassinado há trinta e cinco anos durante um assalto à sua casa. Sem mencionar Julie (Céline Sallette), enfermeira amargurada, que sobrevivera a um ataque de um assassino serial com tendências canibalescas (Guillaume Gouix). Muito bom este universo de personagens: sentirei falta deles, como se, de fato, eles tivessem morrido, retornado à vida e, logo em seguida, morrido novamente...

Wesley PC>

NÃO ERA TÉDIO! ERA CONCESSÃO DE LIBERDADE: É QUE, ÀS VEZES, AS DUAS SITUAÇÕES RIMAM!

À minha frente, amigos se divertiam altissonantemente, com instrumentos musicais. Ao meu lado, jogavam 'video game', num torneio virtual de futebol entre as seleções de Brasil e Argentina. Perto de mim, um frescor de ar condicionado indicava que a dona da casa conferia o estado de saúde de sua mãe, confinada ao leito, em estado vegetativo. E, de repente, sinto um beijo carinhoso em minha testa. Eu estava com fones de ouvido: via "Operação Concreto" (1954), o primeiro curta-metragem de Jean-Luc Godard. A qualidade do som estava péssima, não entendia nada (a cópia estava sem legendas, para piorar), mas deu para perceber que o filme abordava (politicamente, claro) a construção de uma barragem, cuja altura equiparava-se à Torre Eiffel. Mas, ao invés de aço e apelo turístico, encontrávamos concreto, muito concreto. E trabalhadores realizando as mesmas atividades enfadantes, horas após horas...

Não gostei muito do filme. Ele enfada, principalmente se comparado com o estilo genial e surpreendente dos posteriores filmes godardianos. Sentia amor pelos meus companheiros: gostava de estar onde estava, mas queria fazer outras coisas, o que pude pôr em prática tão logo a sessão do filme acabou. Dezesseis minutos e alguns segundos. E eu não gostei muito. A liberdade, enquanto concessão, tende a rimar com o tédio. Depois falo sobre isso, aliás. Muitas vezes. Muitas vezes...

Wesley PC>