quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

IMPRESSÕES PESSOAIS SOBRE UMA QUARTA-FEIRA QUE PARECEU DOMINGO:


Por volta das 17h, resolvi ingerir Coca-Cola, refrigerante que costumeiramente evito, mas que, naquele momento em especial, servia como um indutor masturbatório, visto que a visão de uma bunda deliciosa, parcamente coberta com tecido alaranjado, me deixou simbolicamente excitado. Na TV, começava um filme muito elogiado por alguns conhecidos: “Heleno” (2011, de José Henrique Fonseca), sobre um famoso jogador do Botafogo, Heleno de Freitas, que, na década de 1940, brilhou nos gramados brasileiros, não obstante estragar a sua vida com empáfia, promiscuidade sexual e uso continuado de algumas substâncias tóxicas. Iria morrer na década seguinte, por conta das complicações de uma sífilis, odiado por alguns, esquecido pela maioria...

No filme – visualmente influenciado por “Gilda” (1946, de Charles Vidor), inclusive na escolha da fotografia em preto-e-branco e na vestimenta da cantora de tango com quem o jogador se envolve – há pelo menos uma seqüência maravilhosa: em sua narrativa alinear, vemos Heleno de Freitas passeando pela praia com um amigo, já decadente. Alguns garotos pedem-lhe um autógrafo, mas ele responde de forma ríspida, visto que, depois que sua esposa casa-se com outro homem, levando consigo o filho pequeno, o jogador passa a detestar crianças. O amigo insiste para que ele agrade aos meninos, o que leva Heleno a surtar: “darei um autógrafo àquele que conseguir me socar no queixo!”. Um dos guris, o mais alto, consegue, e Heleno lhe dá uma determinada quantia em dinheiro, com a seguinte recomendação: “gaste-o todinho com sorvete e cinema, não fique o dia inteiro jogando futebol. Há outras coisas além disso na vida – e elas são muito boas!”. Voltei a ficar excitado nesta cena, apesar de o filme ser insípido e de o protagonista Rodrigo Santoro está desenxabido, não obstante oferecer-nos uma boa personificação...

No quintal, enquanto eu via o filme, meu irmão gritava, embriagado: “quando eu estiver com o meu revólver, meto bala em qualquer viado que vier me chamar aqui em casa!”. Na varanda, nossa cachorra ‘poodle’ estava aprisionada, pois mordera o pé de minha mãe no dia anterior. O diretor do filme é filho do extraordinário escritor Rubem Fonseca, ao passo em que, do lado de fora, o portador da bunda deliciosa que me fez ingerir Coca-Cola após vários meses se embebedava, parecia feliz, cercado de amigos e uma mulher que o amava... Viver é bom!

Wesley PC>

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

“CUIDADO COM A ESQUERDA”: “DEPOIS QUE EU VIREI HIPPIE, NUNCA MAIS QUERO SABER DE GUERRA... SÓ AMOR!”

Os dois jargões intercalados no título estão contidos em “Se Meu Dólar Falasse...” (1970, de Carlos Coimbra), filme que vi por mero acaso, a fim de afastar o fastio natalino, mas que, ao término, será defendido entusiasticamente por mim como uma das melhores comédias do cinema brasileiro!

A trama, visivelmente inspirada no clássico hollywoodiano “Deu a Louca no Mundo” (1963, de Stanley Kramer) reúne diversos comediantes, numa produção faustosa da Boca do Lixo – antes de virar o pólo de produção erótico-contestatória que tanto me interessa – cujo roteiro é repleto de geniais e coerentes reviravoltas: logo no início, a costureira Madame Bisisica (Dercy Gonçalves) recebe a proposta de uma de suas clientes milionárias e repleta de neuroses (pois ela é chique, e “é chique ter neurose!”) de ajudá-la numa transação comercial, pois ela estará ocupada. Tudo o que Bisisica precisava fazer era receber uma estatueta das mãos de um negociante japonês e assegurar que, em sete dias, lhe pagaria a quantia de quinze mil dólares, afinal entregues pela cliente Verushka (Zélia Hoffman). O problema é que o dinheiro vai parar no lixão, por causa de um atabalhoamento familiar/empresarial na boutique de Bisisica, sendo o montante monetário encontrado por um grupo de mendigos liderado por um intelectual apelidado de Comendador (Borges de Barros, maravilhoso). Enquanto Bisisica, sua filha e seu genro (este último interpretado pelo galã David Cardoso, que, aqui, é também diretor de produção) vão à sede da prefeitura municipal descobrir o destino do caminhão de lixo e se deparam com um entulhamento burocrático, o Comendador e seus amigos Tisiu (Grande Otelo, soberbo como sempre) e Catifunda (Zilda Cardoso, hilária), além de outros dois, entre eles um profeta anti-luxo (Sadi Cabral), trocam as notas estadunidenses encontradas no lixão por um valor abaixo da taxa de câmbio, no boteco de um português oportunista (Manoel Vieira), mais tarde extorquido pelo detetive, “com cara de cangaceiro de filme nacional” (Milton Ribeiro), que Bisisica contratara numa roda de capoeira. A estória se complica ainda mais quando se descobre que a estatueta comparada era apenas um esconderijo para tráfico de cocaína, de maneira que, no desfecho da trama, inúmeros tiros serão disparados, até que o personagem de Grande Otelo, “em nome das setenta e uma comédias que fez”, exige que o final do filme seja também legitimamente cômico. A ação retrocede e, na derradeira imagem, a própria Dercy Gonçalves, apresentando um programa de TV, entrega à sua personagem uma estatueta similar à que causou toda a confusão como prêmio por sua desenvoltura aventureira. “Vai começar tudo de novo, ...”, congela a personagem, antes do derradeiro “pôrra!”. E eu extasiado, ouso dizer que o filme é genial! (risos)

Por mais que eu tenha detalhado o entrecho, tem muito a ser visto e gargalhado ainda, sem contar que as piadas metalingüísticas são ótimas e a homenagem de Sebastião Bernardes de Souza Prata (nome verdadeiro de Grande Otelo) ao companheiro Oscarito nos créditos finais é emocionante. Por falar em Grande Otelo, a cena em que ele experimenta LSD numa comida de boate e sai dançando ao som de “Se Não Tem Abelha, Não Tem Mel”, superposta ao som de uma canção psicodélica britânica, merece figurar entre as mais açambarcantes da filmografia tupiniquim. Absolutamente extraordinária. Quem diria? Amei este filme!

Wesley PC>

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O BELCHIOR É QUEM TEM RAZÃO!


"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos, lhe direi:
Amigo, eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português"

E, na última partida, eu venci. Bem diz a sabedoria popular: "sorte no jogo, azar no amor". E eu amo, eu amo, eu amo... 

Wesley PC>

"ELES SÃO MUITOS, MAS NÃO PODEM VOAR"...

Quando se ama, não se teme a humilhação: eu beijo pés, eu aliso joelhos feridos, eu limpo merda de cachorro, eu espero... e espero... e espero!

Nesta antevéspera de noite de Natal (sic), ouço o disco de estréia do Ednardo: "O Romance do Pavão Mysteriozo" (1974), baseado num livrinho de cordel que, obviamente, marcou a minha infância, como deve ter acontecido com muita gente. Conforme narro aqui, é neste disco que deposito a esperança de aprender algo que, neste ano de 2013, me capacite a enfrentar a tristeza tão inevitável quando intensamente vindoura...

Na porta de casa, mais cedo, eu fazia tocaia: esperava que "eles" fossem embora, mas eles não foram. Ao invés disso, "eles" que voaram com quem eu esperava... Minutos antes, eu sorrira, jogando Uno com seus parentes. "Arranca o meu sorriso do chão/ abre os meus braços na imensidão", canta o cearense Ednardo na nona faixa de seu belo álbum, "Alazão (Clarões)". E eu com fome, mais uma vez... Não importa o quanto comamos, sempre voltamos a sentir fome novamente. Com o amor é assim: o amor é fome!

Wesley PC>

"TEM MUITA COISA PIOR QUE SER BICHA: TER LEUCEMIA, POR EXEMPLO"...

Aproveitei uma escapadela de minha família para, finalmente, assistir a "O Exército Inútil" (1983), filme do Robert Altman cujo DVD eu havia comprado há alguns meses, mas, até então, não dispunha da oportunidade ideal para a sessão, visto que, além de ter quase duas horas de duração, eu tinha certeza de que o ritmo deste filme exigiria uma concentração redobrada, dada a sua origem teatral... Dito e feito!

Na trama, seis soldados (quatro recrutas e dois veteranos) compartilham um mesmo quarto: há a suspeita que um deles seja homossexual e os demais recriminam-no por conta disso. Um negro bêbado exaspera-se com ele e instaura uma situação de crise que desencadeará alguns assassinatos e a ameaça de sexo pederástico inter-racial, infelizmente não concretizado. Preferiram fazer a guerra ao invés de fazer o amor!

Durante a projeção, três personagens sexualmente insinuantes tomam banho: apenas Matthew Modine ousa mostrar o pênis sob uma cortina de fumaça. O clima sensual ronda todos os instantes, até que, numa situação climática, um dos personagens mais velhos pronuncia o chavão que intitula esta publicação: quem sou eu para discordar? Preciso ver uma jeba

Wesley PC>

domingo, 22 de dezembro de 2013

SÍNTESE PSICÓTICA DE DOMINGO À NOITE...


Triste, triste, triste, triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste,  triste, triste... Com fome também!

Eu já disse hoje que amava o Hal Ashby? E que mesmo um filme que não "funcionou" tanto comigo funciona bastante? E que, vendo o filme, me imaginei educando o filho de meu irmão mais novo, que nasceu com um restinho de dedo numa das mãos, além de ter os olhos num tom cromático que parece ser azul-marinho. Tristeza é algo que pode ser enfrentado com determinação e - quem sabe? - algum planejamento...

Wesley PC>

A INFELICIDADE JÁ FAZIA MORADA ANTES DO FILME DO HAL ASHBY... E CONTINUA!


É incrível como essa tal de infelicidade se assolou novamente, mas, sem querer forçar a barra, talvez uma jeba resolva o problema. Pena que não é algo tão fácil de se encontrar hoje em dia. Nem tampouco era na fase em que o Hal Ashby estava vivo e fazia seus filmes sobre virgens e/ou rapazes despreparados para a vida, como aquele que Beau Bridges interpreta em "Amor Sem Barreiras" (1970), filme de estréia do diretor, um tanto irregular, mas incisivo e contestatório. É o que fica enquanto lamento, por enquanto...

Wesley PC>