domingo, 30 de março de 2014

“DEPOIS DE UMA PEÇA DECEPCIONANTE COMO ESTA, TU VAIS PRECISAR DE UM FILME SUBLIME PARA DORMIR BEM, NÃO É?”

A pergunta adveio de minha amiga Cleziane, após voltarmos do teatro, onde frustramo-nos diante de “A Grande Serpente”, peça representada pelo eficiente grupo Imbuaça, mas que foi sobremaneira prejudicada pela competição de talentos que se tornou o espetáculo: cada ator queria brilhar mais que o outro em cena, demonstrar-se mais visceral em sua entrega ao papel, de modo que as atuações soaram frágeis, inconvincentes. Uma pena!

 No texto de Racine Santos, os nomes bíblicos e/ou mitológicos dos personagens antecipavam os seus destinos: uma louca de nome Joana era atormentada por visões fantasmagóricas, desde que sua filha (na verdade, sobrinha) Tamar casou-se com o pai (sem que soubesse). Dois jagunços servem como alívio cômico às desventuras das aldeãs que constatam que a água do poço da vila secou, enquanto um cego deambulante baseado em Tirésias esforça-se para clarificar as razões da maldição que se assola sobre o lugar. Os figurinos são deslumbrantes e a encenação muito boa, mas, infelizmente, o trabalho capenga do elenco quase pôs tudo a perder...

Eu e meus companheiros de audiência ficamos a conversar sobre o que nos agradou e principalmente desagradou na peça e, quando cheguei em casa, surpreendi-me ao descobrir que “Cara ou Coroa” (2012, de Ugo Giorgetti) seria exibido na TV. Afinal de contas, os dilemas de um diretor de teatro eram centrais na narrativa. Pena que o filme fosse ruim também...

 Preguiçosamente interpretado por Emílio de Mello, este diretor vê seu casamento soçobrar por causa de seu vício em jogatina (corridas de cavalo e bilhetes da loteria esportiva). Seu irmão Getúlio (José Geraldo Rodrigues) é muito mais simpático, mas também padece da composição um tanto estereotipada que prevalece sobre quase todos os personagens. Estamos em 1971, fase mais dura do governo militar no Brasil, e o roteiro mostra-se surpreendentemente simpático a um general aposentado (Walmor Chagas, ótimo) que sempre fora muito exigente com seus recrutas, mas, seguidor extremado das leis que é, discorda das práticas de tortura praticadas por seus colegas. O ponto nodal da trama é quando Getúlio precisa pedir à sua namorada Lílian (Julia Ianina), sobrinha do General, que esconda em sua casa dois refugiados comunistas. Tudo termina de maneira desagradavelmente anticlimática, portanto. Caí de sono ao final da sessão!

Felizmente, a frustração dupla foi contornada por uma exigência premente: tenho a obrigação de, ainda hoje, conformar de uma vez por todas o meu texto dissertativo de Mestrado. Como eu disse antes, imitando um dos professores que comporão a minha banca de defesa: “agora vai!”. Tem de ir!

 Wesley PC>

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