terça-feira, 4 de março de 2014

O CINEMA ESPANHOL CONTINUA A ME DAR RASTEIRAS POSITIVAS...

Quem acompanha este 'blog', pôde constatar que, desde que passei a desfrutar do canal estatal espanhol TVE dentre as emissoras disponíveis em meu pacote de TV por assinatura, passei a prestar atenção empolgada na premiação Goya, que antecede o Oscar. Minha empolgação não tem apenas a ver com a qualidade da cerimônia nem tampouco é um capricho de cinéfilo que crê estar reinventando a roda, mas, de fato, os filmes que costumam ser indicado a esta premiação espanhola são mui qualitativos: os filmes que tive o prazer de conhecer desde que passei a acompanhar regularmente a cerimônia quase sempre cumprem o que prometem, provam ser merecedores de suas láureas...

Na manhã de hoje, por exemplo, vi "Unidade 7 - Comando de Elite" (2012, de Alberto Rodríguez), péssimo título brasileiro oportunista para o original 'Grupo 7'. Do diretor, já conhecia os interessantíssimos "O Terno" (2002) e "Sete Virgens" (2005) e maior chamariz para que eu conhecesse o filme mais recente foi a presença do belíssimo Mario Casas. Não obstante insistirem em comparar o filme a "Tropa de Elite" (2007, de José Padilha), ele tem muito mais a ver com "Serpico" (1973, de Sidney Lumet), visto que o roteiro é bem menos laudatório em relação às atividades policiais do que espectadores afobados tendem a achar: não por acaso, os desvios morais dos protagonistas são tão acentuados, num viés completamente distinto da quase santificação do Capitão Nascimento, muitíssimo bem interpretado por Wagner Moura.

No filme espanhol, Mario Casas e Antonio de la Torre, dois de meus atores favoritos da atual safra ibérica, são os protagonistas: um é recém-casado e arrivista; o outro esforça-se para enfrentar o falecimento de seu irmão. Ambos descarregam nas operações policiais a sua fúria, a necessidade de exercer a justiça ao desbaratar as atividades do tráfico de drogas nos anos que antecedem a Expo '92, em Sevilha. Unem-se ao Grupo 7 do título original um homofóbico que adquire hepatite após ser mordido por um aidético e um gordinho que se apaixona por uma prostituta. E os informantes que abundam ao longo do enredo...

Eu poderia ser muito mais detalhista na descrição dos méritos roteirísticos, mas preferirei me abster desta tarefa, pois o que mais surpreende no filme não são as atividades policiais em si, mas o que é subjacentemente destacado, aquilo que confere a identidade moral (e/ou antiética) aos policiais. Só conferindo: é genial!

Mas, se atrevi-me a repisar este elogio ao cinema espanhol contemporâneo é porque insisto que ele tem muito a ver com o panorama comercial do cinema brasileiro hodierno, oferecendo uma contrapartida exitosa à subserviência mercadológica do Brasil: ou seja, os filmes espanhóis conseguem ser atrativos para o público sem abdicarem de suas características autorais, o que torna absurdo constatar que os filmes citados são parcamente comercializados no panorama internacional. É algo planejado, uma sabotagem proposital. Os principais indicados ao Goya nos últimos anos gozam de inúmeros atributos de bilheteria, além de seus atrativos de crítica. Sou um defensor apaixonado destes filmes, atrevo-me a confessar. Quem se dispuser a ler os meus relatórios sobre a premiação da Academia Espanhola de Cinema entenderá facilmente os porquês...

Wesley PC>

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