Apesar de não gostar muito de chocolates, aprecio bombons. No
carnaval, minha mãe comprou duas caixas, pois ficamos apenas eu e ela em casa,
durante todo o feriado. Meu irmão e minha cunhada viajaram e, como tal, pudemos
degustar os bombons lentamente...
Ontem, enquanto eu comia quatro bombons de uma vez só, senti
que poderia ser bem-sucedido num flerte. Infelizmente, o rapaz cujo esperma eu
ansiava não ficou disponível (sua casa estava repleta de pessoas) e, como tal,
consolei-me em alisar as suas pernas, cheirar o seu cabelo, ouvi a sua voz,
sorridentemente direcionada para mim. A fim de me consolar genitalmente,
assisti a dois filmes do medíocre cineasta da Boca do Lixo Osvaldo de Oliveira:
o musical caipira “Luar do Sertão” (1971) e o tosco ‘sexploitation’ “Curral de
Mulheres” (1982).
O primeiro destes filmes só não foi pior porque eu estava ao
lado do espectador ideal: um rapaz que conhecia quase todas as canções que os
protagonistas Tonico e Tinoco cantam durante a projeção. O segundo filme,
entretanto, me surpreendeu: começou péssimo, com Maurício do Valle numa
interpretação constrangedora, mas, aos poucos, as inesperadas reviravoltas de
fuga de mulheres me escandalizaram: uma das fugitivas do curral titular é
picada por uma cobra, outra é estuprada pelos garimpeiros subjugados por um
padre despótico, uma terceira consegue sobreviver, beijando-se apaixonadamente
pelo homem bonito e rico (e anteriormente vilanaz) com quem se envolve. Enquanto
isso, eu sorria...
Prometi para mim mesmo que não comeria mais bombons – ao menos,
não daquelas duas caixas que minha mãe comprou no carnaval – na esperança de
que, tal qual um arremedo infantil do Bentinho que Machado de Assis celebrou,
eu consiga obter uma graça espermática. Se ela vier, maravilha. Se não, compro
outra caixa de bombons, um pote de sorvete ou qualquer outra guloseima que me
agrade. O mundo é bom demais para ficarmos perdendo tempo com frustrações
derivadas de escambos oportunistas com o destino. E viva a Boca do Lixo!
Wesley PC>
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