segunda-feira, 14 de abril de 2014

"A SANGUESSUGA É HERMAFRODITA"!

Apaixonei-me pela diretora Catherine Breillat desde que a conheci através do polêmico e gracioso "Romance X" (1999). Percebi imediatamente que havia, em sua obra, algo que tinha muito a ver comigo e meus dilemas pessoais. Os traços incestuosos e bizarros de "Uma Adolescente de Verdade" (1976); as discussões sobre virgindade em "Menina Tamanho G" (1988) e "Para Minha Irmã" (2001); os problemas relacionais do decepcionante "Sexo é uma Comédia" (2002); e a genialidade incandescente e extrema de "Anatomia do Inferno" (2004): sempre que eu me deparava com qualquer obra conduzida por ela, via a mim mesmo nalgum ponto, ansiando por uma expressão convertida em identificação. Assistindo ao telefilme "A Bela Adormecida" (2010), há pouco, tudo fez sentido: identifico-me porque sou virgem! 

No filme, absolutamente genial em sua releitura de contos infantis, uma princesa, condenada a adormecer perpetuamente na juventude, tem seu destino intercedido por três fadas-madrinhas, que preferem adormecê-la aos 6 anos, de modo que ela despertará aos 16. Daí por diante, portanto, somos cúmplices de um longo sonho da personagem, no qual, entre criaturas encantadas e elementos de pesadelo, ela encontra os dois seres que mais amará em sua vida: um garotinho que a acolhe como irmã até se apaixonar pela glacial (nos dois sentidos da palavra) Rainha da Neve; e uma cigana que prefere as raparigas aos rapazes e que, a posteriori, lhe ensinará sobre o amor...

Ao despertar, aos 16 anos, a protagonista, obcecada por dicionários e despertadores, reencontra um descendente de seu amado, depois de ter sido beijada e completamente tocada por sua amante fêmea. Ela a desvirginiza, a engravida, a obriga a conhecer "o mundo real". E, na derradeira seqüência, eu fui obrigado a conter o grito: caramba, é isso o que acontece comigo, talvez seja disso que eu tenha receio! Um filme genial, de uma diretora francesa absolutamente sublime!

Num dos inúmeros instantes geniais da película, o deflorador da princesa adolescente assiste a um filme da própria diretora ["Escândalos Noturnos" (1979)] entre amigos, visivelmente mais interessado em transar com a sua companheira de sessão que em prestar atenção ao que o filme clamava, não por acaso relacionado à situação que ele enfrentaria posteriormente, ao finalmente conseguir convencer a amada Anastasia a fazer sexo, a amar... Não vi este filme ainda, mas pressinto que me identificarei bastante também. Por enquanto, eu desejo!

Wesley PC>

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