Acabei de ver um filme dirigido por Ody Fraga, o genial roteirista
responsável pelo argumento da maioria dos filmes da Boca do Lixo. A produção em
pauta tem como título “Reformatório das Depravadas” (1978) e tinha tudo para
ser ruim e/ou aproveitadora, se não fosse o talento supremo por detrás de sua
feitura: a partir da oportunista idéia de uma prisão disfarçada de escola, no
qual uma professora nazista tortura garotas enviadas por suas famílias para
serem corrigidas moralmente, o diretor e roteirista incita as discussões sobre
democracia de uma forma absurdamente ousada, nos sentidos mais extremos de
ambas as palavras!
No filme, Frau Gelli (Lola Brah) é uma mulher fria que fora
educada entre 1935 e 1940, na Alemanha. Com a ajuda de dois capachos, ela
tortura as suas alunas, a pedido de suas famílias, a fim de obter os nomes dos homens
que as defloraram. Estes são posteriormente mortos em acertos de contas
pequeno-burgueses. Isso, porém, é o que menos interessa no filme. A alcagüete nipônica
interpretada pela bela Misaki Tanaki e a beleza de Nicole Puzzi se destacam
numa trama em que o inicialmente insípido personagem de João Paulo Ramalho
rouba a cena: ele é um professor que, quando interrogado por que leciona no
educandário da Frau Gelli, responde secamente que é porque lhe pagam muito bem.
A rígida diretora pergunta-lhe, então, se ele não ama a sua vocação, ao que ele
retruca: “amo-a como qualquer um ama os seus trabalhos, e pelos mesmos motivos:
pois gosto ainda mais de dinheiro”. Era uma bravata, que, mais à frente,
assumirá a faceta inconformista mais ostensiva, sendo o referido professor uma
espécie de anarquista, conforme a citação constante no título desta publicação
deixa evidente. Além de ter caso com uma professora omissa, ele é seduzido por
uma das lúbricas alunas, que, nos outros tempos livres, seduzem um empregado
deficiente do educandário para que este lhes consiga gigolôs, para que possam
saciar seus instintos sexuais animalescos. E eu impressionado com esta bagaceira
toda: é um filme genial, mesmo não sendo necessariamente bom!
Para piorar, a cópia do filme a que tive acesso tinha uma
particularidade tosca e inaudita: malgrado a ordem das cenas parecer correta, a
banda sonora estava remontada aleatoriamente, ou melhor, numa ordem proposital
mas incondizente com o que estava sendo visto. Por que fizeram isso? Reminiscência
da censura ditatorial, talvez, que ainda hoje se incomoda deveras com o pendor
contracultural deste filme? Vale a pena acrescentar que o desfecho é soberbo em
seu realismo: depois de assassinar Frau Gelli com um tiro na testa, uma das
alunas [Solange, a mais espevitada, claro! ( interpretada por Lucy Mafra)] foge
e permite que as demais colegas consigam também estar livres. Como cometera um
crime, entretanto, ela é presa pela polícia. Ody Fraga sabia brincar muito bem
com as exigências censório-discursivas e mercadológicas do período. Ele é um
gênio, pura e simplesmente!
Wesley PC>
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