Antes de iniciar a sessão, eu estava empolgado: veria o filme mais antigo do Brasil então disponível, com 101 anos de existência. Pensava que a sua trama seria uma espécie de translação das prestidigitações cômicas do Georges Méliès, mas tudo se passa tão rápido, em menos de cinco minutos: um garotinho peralta (ou melhor, “traquinas”, como diz um intertítulo) corre de sua mãe, que quer bofeteá-lo. Ele se refugia no colo do avô, que pede que sua filha telefone para um oftalmologista, pois ele teme estar ficando cego, o que muito o preocupa naquela idade. E, quando o médico chega para examiná-lo, o filme acaba. Tive de consolar-me tramaticamente com alguns curtas-metragens do Humberto Mauro após a sessão!
[Após ter escrito isso, soube que o filme a que tive acesso era, na verdade, apenas o fragmento sobrevivente do referido curta-metragem, o mais antigo filme ficcional brasileiro de que se tem notícia, que teria mais ou menos 15 minutos de duração: tudo se explica!]
Nunca conhecia meus avôs (nem tampouco meu pai). Fiquei pensando nisso enquanto a breve trama se deslindava. Na sala, minha mãe assistia a um gracioso filme do Hirokazu Kore-Eda. Os cachorros latiam, felizes. No quintal, um pinto piava. Vou telefonar para um rapazola, perguntando se ele quer me fazer companhia hoje à noite. Mesmo que fizéssemos sexo – o que seria um devaneio – não poderíamos procriar: não seremos avôs de um neto comum!
Wesley PC>
DOIS É DEMAIS EM ORLANDO (2024, de Rodrigo Van Der Put)
Há uma semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário