segunda-feira, 21 de abril de 2014

UMA DECEPÇÃO PASOLINIANA?

Nas páginas finais da edição de “Meninos da Vida” (1955), romance de Pier Paolo Pasolini (re)lançado no Brasil pela editora Círculo do Livro em 1991, há uma espécie de editorial biográfico em que esta obra é descrita como tendo sido escrita “como uma aventura, [já que] retrata um universo em que o vício e o abandono se exprimem em vivas palavras de gíria; e as doenças, a fome e a morte originam tristes comentários, sempre justapostos a belas canções e ao sol”. Pode até ser, mas... O romance me decepcionou sobremaneira!

Ganhei este livro de presente de um amigo que hoje vive em São Paulo. O referido livro, à época de seu lançamento, foi bastante premiado e fez com que o seu autor se tornasse deveras conhecido, antes inclusive de se tornar um dos melhores e mais inspirados cineastas de todos os tempos. Porém, não consegui mergulhar adequadamente nos oito capítulos do romance, que possui mais ou menos duzentas páginas. Muito chatas, aliás!

Em minha avaliação, o amor problema do romance é a superficialidade da constituição de seus personagens. Talvez no afã por criar tipos comuns e não necessariamente pessoas, o escritor impede que descubramos as inquietações interiores dos personagens. Acompanhamos de maneira cúmplice as suas orgias, suas jogatinas, suas evacuações, suas necessidades de foder, seus chistes, suas cagadas, suas agressões, seus roubos, algumas de suas mortes. Mas... Quem eram, de fato, Riccetto, Amerigo, Marcello, Lenzetta, Alduccio e Begalone? Em mais de um momento, até que eu tentei me apegar a eles (principalmente nas cenas envolvendo flertes oportunistas com bichas, não vou mentir), mas é tudo muito vago, muito evasivo. Tenho quase certeira que isso foi proposital, que faz parte do estilo seco do autor, que insere os diálogos no meio da narrativa, quase como o recurso da “subjetiva indireta livre” sobre o qual ele teorizaria tão bem no “cinema de poesia”. Sua literatura, entretanto, é de um cunho acentuadamente neo-realista que não me convenceu. Talvez por causa de uma desidentificação moral, não sei. Foi duro chegar até o final: achei o livro muito chato! Mas nem de longe recusarei a grandiloqüente experiência de descobrir mais uma faceta artística de um gênio. Sendo assim, muito obrigado por teres surgido em minha vida, Pier Paolo Pasolini!

Wesley PC>

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