Fui apresentado à artista de origem libanesa, filha de pais
palestinos, Mona Hatoum graças ao extraordinário livro “An Accented Cinema:
Exilic and Diasporic Cinema”, do iraniano Hamid Naficy. No quarto capítulo do
referido livro, “Epistolarity and Epistolar Narratives”, o autor lança mão de
uma descrição minuciosa do curta-metragem “Measures of Distance” (1988), no
qual a diretora reutiliza imagens de sua mãe despida, subpostas aos caracteres árabes
das cartas que ela lhe enviara durante a guerra civil no Líbano. No início, eu
estava incomodado com a excessiva “pretensão artística” do filme, que parecia
muito mais uma instalação que uma obra cinematográfica em si (por mais confusa
que seja esta diferenciação hoje em dia). Porém, de repente, a tela se escurece
por completo (a fim de metonimizar a destruição de uma agencia dos Correios) e
a voz embargada da mãe segue declarando o seu amor à filha artista e
emancipada: a mãe segue prisioneira (ao menos fisicamente) das opressões de seu
marido e sua cultura, que acham criminoso que ela tenha se exibido
completamente nua para alguém que não seu esposo (ou proprietário, segundo a
lógica local). De repente, minha mãe passa pela sala e pergunta, espantada: “oxente,
este filme não tem imagem, não?”. “Não”, respondi eu, brevemente. Nesse
instante, amor de mãe e filha (na tela) e filho e mãe (na sala) se equipararam
surpreendentemente: incrível este curta-metragem. Agora, recomendo-o de pé, com
o coração pulsando mais rápido!
Wesley PC>
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