Todos sabem o quanto temo ficar cego. Absolutamente ‘voyeur’ que sou e completamente apaixonado pelo cinema (arte da visão por excelência), demoraria bastante a me acostumar com o cotidiano caso deixasse de enxergar repentinamente. Por este motivo, “Música na Noite” (1947, de Ingmar Bergman) me perturbou tanto: além de ser protagonizado pelo belíssimo Birger Malmsten, que logo se tornou um de meus intérpretes favoritos, o filme é desolador em sua conjunção de desventuras, por mais que o desfecho seja, afinal, feliz...
Na trama, Bengt Vyldeke é um jovem que, durante um exercício militar, tenta salvar um cachorrinho de ser alvejado por tiros, acidentalmente. Ele é baleado e fica cego. Rabugento e desesperançado, ele é convocado emergencialmente para tocar órgão durante o funeral de do pai de uma rapariga (Mai Zetterling), que, trabalhando como sua empregada, logo se apaixona por ele. Ele, entretanto, desdenha de seu afeto, por considerá-la jovem demais, imatura. O tempo passa e a garota amadurece com louvor. Bengt, por sua vez, contenta-se com subempregos e desprezo. Após levar um soco de um rival, perceberá que tem direito de ser tratado como um homem normal. E eu tremia de gozo e temor concomitantes: o filme é extraordinário!
“Até mesmo a velhice e a solidão têm a sua beleza quando nos rendemos ao Grande Plano de Deus”, diz alguém numa carta. Neste mesmo plano, a dor e o sofrimento são incluídos como elementos constitutivos essenciais. A felicidade não prescinde destes elementos, portanto: o que interessa é o equilíbrio do ciclo!
Wesley PC>
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