segunda-feira, 9 de junho de 2014

“ESSAS MULHERES ESTÉREIS SÃO MESMO UMAS HISTÉRICAS!”

Fazia tempo que eu não assistia a algo do genial (e menosprezado) cineasta espanhol Eloy de la Iglesia (1944-2006),e hoje tive o privilégio de prestigiar logo dois! Quando o descobri, mergulhei de cabeça em sua obra, pesquisando todos os seus filmes disponíveis para ‘download’. Passados alguns meses, encontrei mais alguns, de modo que, se tudo der certo, antes de dormir, hoje, verei “Otra Vuelta de Tuerca” (1985)...

Antes, devo mencionar entusiasticamente os dois filmes que vi hoje: o primeiro deles, “La Otra Alcoba” (1976) surpreendeu-me desde a seqüência de abertura. Um homem (Patxi Andión, também responsável pela trilha musical do filme) caminha por uma borracharia, adentra o banheiro e começa a se despir, sem maiores explicações. Uma canção romântica irrompe, e a imagem é pausada de segundos em segundos. A sensualidade tipicamente iglesiana explode. Na seqüência posterior, deparamo-nos com o refinamento insípido da classe alta: um casal aparentemente não muito feliz busca uma criança para adoção. No último instante, a mulher desiste, alegando que seu sonho é o de gerar uma criança em seu próprio ventre. O marido, entretanto, é estéril, e hesita em contar-lhe. Numa virada propositalmente previsível, esta mulher, belíssima, conhece o mecânico que de despe solenemente no início e se apaixona. Ela engravida, aborta e o abandona. Ele é chantageado, espancado e abandonado. O enredo antecipa aquilo que veremos no impactante “Adultério por Amor” (1978, de Geraldo Vietri - comentado aqui). O tom lascivo e, ao mesmo tempo, socialmente combatente de Eloy de la Iglesia é deveras singular – além de homoeroticamente intensivo. No desfecho, a mulher assedia um belo nadador, com o consentimento de seu marido, interpretado por Simón Andreu, ator recorrente em sua filmografia. Em dado momento, o rico protagonista exclama: “somos todos peças da mesma engrenagem. Cabe a nós, ao menos, sermos peças importantes!”. Gostei bastante do que vi, ouvi e aprendi!

Ansioso por mais, aguardei alguns minutos e, de repente, estava vendo “La Mujer del Ministro” (1981), censurado à época por causa de suas cenas de nudez e do conteúdo explosivamente político. O roteiro se equivoca um pouco em seu pendor revolucionário contraditório e cindido, mas a subtrama romântica é interessantíssima; Rafael (Manuel Torres) é um jovem sensual que sobrevive com o dinheiro que recebe das mulheres ricas que o acolhem como gigolô. Uma delas, Leonor, a Marquesa de Montenegro (María Martín, excelente) – deveras simpática, mas que, ao final, é acusada de ser uma simpatizante política de extrema-direita – consegue-lhe um emprego como jardineiro na residência da personagem-título, vivida pela deslumbrante Amparo Muñoz (que também protagoniza o filme anterior). Ela se apaixona, em dado momento, mas sabemos que a mesma é atraída por sua ciumenta secretária. Tal qual acontece no filme anterior, ela engravida do amante, visto que seu marido passa mais de dois meses sem fazer sexo com ela. Enquanto isso, atentados terroristas varrem a cidade. Os separatistas do ETA (em prol da independência do País Basco) surgem como personagens conspiratórios, mas o roteiro se equivoca em suas tramas cruzadas, de maneira que a metade final do filme enfada um pouco. Mas é um filme muito cálido, como de praxe na filmografia deste gênio espanhol. Quero mais!

 Wesley PC>

Nenhum comentário: