segunda-feira, 23 de junho de 2014

“VOCÊ ACHA UMA SURUBA MAIS IMPORTANTE QUE O NOSSO FUTURO?”

Esta pergunta deixa óbvia a vertente “pimba” da produção pernambucana “Jardim Atlântico” (2012, de Jura Capela), que vi nesta noite de domingo. Na verdade, tal vertente era ostentada desde a seqüência inicial, uma exploração subaquática de um navio naufragado sob o arquipélago de Fernando de Noronha. De repente, um minotauro despido surge em meio aos destroços de navio afundado e emerge. Vemos, então, imagens carnavalescas, cenas de orgias, casais se formando... Um deles, composto por Pierre (Mariano Mattos Martins, ator lindo que, felizmente, aparece nu numa seqüência) e Syl (Sylvia Prado) será destroçado pelo ciúme. O pivô (in)voluntário deste sentimento é o pernóstico fotógrafo Hermes (Fransérgio Araújo, insuportável), que, numa cena praiana pretensamente divertida, incomoda a privacidade do cantor Otto, que se exaspera. Mais à frente, Céu aparece cantando – muito bem, por sinal – “Aquarela do Brasil”. Antes, Ava Rocha deu o ar da graça. Ao final, a execução do “Hino Nacional Brasileiro” antecipa a subida ao céu (ou o mergulho nas profundezas do oceano) da amante assassinada pelo namorado ciumento... Apesar das pretensões exacerbadas e dos defeitos conjunturais (principalmente em relação ao elenco), um filme de que gostei bastante. “Sou um fiasco!”, foi o que admiti para um amigo, quando me percebi deleitado frente à obra...

Antes de vê-la, muita coisa aconteceu. Houve uma briga horrível na rua em que moro: um policial furibundo agrediu o namorado de uma vizinha grávida, por causa de uma bobagem injusta. O filho do primeiro, recém-saído da prisão por assaltos praticados em ônibus, ameaçava matar o rapaz agredido. Gritava que, se voltasse para a cadeia, o seu pai o livraria da prisão, pois “ele tem dinheiro!”. Inúmeros vizinhos torciam para que o policial fosse espancado, mas este estava possuído pela cólera: quebrou os vidros do carro do rapaz com as mãos, quase faz despencar o portão da casa de sua namorada, atirou tijolos contra seus desafetos. Foi terrível! O pior: quando os policiais chegaram, muito tempo após serem convocados, sequer interrogaram o estulto colega policial. O poder coercitivo é, de fato, tendente às injustiças!

Tendo o clima se acalmado, aproveitei a deixa para assistir ao último capítulo da quarta temporada do excelente seriado de TV “Game of Thrones”. Pelo menos dois momentos antológicos e mui dramáticos devem ser destacados: o instante doloroso em que a ‘khaleesi’ Daenerys Targaryen (Emilia Clarke, extraordinária) precisa aprisionar seus enteados dragões; e o momento pungente em que, num paroxismo de tristeza e sentimento de que fora traído, o inteligentíssimo anão Tyrion Lannister (Peter Dinklage, magistral) assassina a sua amada Shae (Sibel Kekilli, soberba). Durante o homicídio, é óbvio que ele sofre, que ele ainda a ama. E eu senti na pele aquele sentimento intenso. Por mais que, do lado de fora da tela, o que me incomodava era a exígua quantidade de sêmen que fora emanada de uma felação emergencial, que me fez virar o rosto para a elogiada seqüência de luta entre Brandon Stark (Isaac Hempstead Wright) e um exército de esqueletos animados, que homenageia o sumo talento do recém-falecido Ray Harryhausen (1920-2013). Sem contar que o desfecho do episódio assegura que o meu alter-ego, o cínico lorde Varys (Conleth Hill) terá participações ainda mais relevantes na quinta temporada. Ôba! Tudo valeu a pena...

Wesley PC>

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