domingo, 10 de agosto de 2014

O MELHOR CINEMA DO MUNDO É O BRASILEIRO? MESMO QUANDO NÃO É TÃO BOM?

Acabo de ver o consagrado “A Compadecida” (1969), versão cinematográfica primeva da célebre peça de Ariano Suassuna sobre a multiplicidade de defesas sobre o oportunismo sertanejo. Particularmente desaprecio muitas das soluções e/ou chistes espirituosos do texto original [o teor misógino e a insinuação de que a pele negra possui “a cor que não é das melhores”, por exemplo], mas não posso negar que, no geral, a peça em que o filme se baseia (escrita em 1955) não seja divertida.O melhor aspecto desta versão conduzida pelo húngaro naturalizado brasileiro George Jonas é justamente a sua emulação teatral, muito melhor desenvolvida na versão posteriormente realizada por Roberto Farias, em 1987, para o grupo humorístico Os Trapalhões [vide texto elogioso aqui].

Talvez o sucesso de público comandado por Guel Arraes em 2000 [“O Auto da Compadecida”] seja ainda melhor sucedido em sua comicidade – o que se deve a um excelente aproveitamento do elenco – mas, nesta arrítmica versão de 1969, o desempenho de Zózimo Bulbul como Jesus Cristo é primoroso. Armando Bogus como João Grilo e Regina Duarte como Maria de Nazaré também não decepcionam, mas a atuação de Antônio Fagundes como Chicó é vexatória, um horror. Minha mãe sorriu bastante durante a sessão, enquanto eu me exasperava, de tão impaciente que estava para que o filme acabasse logo. Muito ruim!

Soube a posteriori que os ótimos figurinos do filme foram desenhados pelo artista plástico pernambucano Francisco Brennand e que estes foram premiados em mais de um festival de cinema. Merecidamente, aliás. Mas que o filme é mal-feito, que a montagem é capenga, que as interpretações são descompassadas, ah, isto ele é. O que não me impede de admitir que os experimentos pioneiros do diretor com a aplicação da cor no cinema brasileiro devem ser laureados, nem tampouco de aplaudir a direção musical de Sérgio Ricardo. Porém, vou ter de concordar com o preconceito (ou pré-conceito) de meu melhor amigo acerca do recém-falecido Ariano Suassuna (1927-2014), considerado por ele machista e negativamente conservador. Em mais de um aspecto do texto contido no filme – e pessoalmente supervisionado pelo teatrólogo – ele se demonstra moralmente tacanho, urgh!

 Wesley PC>

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