sábado, 22 de novembro de 2014

ÀS VEZES, QUANDO VAMOS LIMPAR A BUNDA, APÓS TERMOS DEFECADO, O PAPEL HIGIÊNICO SE RASGA, E NOSSOS DEDOS ENCONTRAM EM CONTATO COM A MERDA. ASSIM SE DÁ O PROCESSO DE RECONTAMINAÇÃO DE VERMINOSES!

Não obstante o título longo e um título chulo desta publicação, ela vem a calhar perante o desconforto (físico) que senti enquanto via o elogiado “A Tortura do Medo” (1960), longa-metragem deveras pessoal do diretor britânico Michael Powell, que, aqui, não trabalha com seu companheiro habitual Emeric Pressburger.

Infelizmente, à época de seu lançamento, este filme foi um terrível fracasso de público e crítica. Seu diretor foi relegado a um ostracismo ocasional por ousar ser genial e tocar em temas tão duros, ainda que o seu formalismo característico demonstre-se um tanto frio aqui, para além da inequívoca pujança conteudística.

Na trama, um homem atormentado pelos experimentos psicológicos de seu pai (interpretado em breves ‘flashbacks’ pelo próprio Michael Powell) torna-se um ‘voyeur’, que assassina mulheres apenas para vê-las experimentando um medo intenso, que provém da combinação entre um pé afiado no tripé de sua câmera e um espelho deformador. O que o interessa é o pavor extremo, a reação das fêmeas perante a iminência da morte. Até que ele se apaixona. E a relação – para além de sua máxima compatibilidade (a moça é uma escritora de livros infantis, um deles sobre uma câmera mágica, “que não pode funcionar sozinha”) – soçobra por conta da perversão dele, que se suicida, tal qual qualquer de suas vítimas...

Malgrado eu não ter gostado tanto deste filme quanto ele quase me obrigava (o roteiro é fabuloso, mas nem tudo funciona na encenação!), prometi a mim mesmo e a quem estava ao meu lado após a sessão que, da próxima vez que me apaixonar, exibirei este filme para o meu amante vindouro nos encontros exordiais, quando ainda estivermos analisando as nossas afinidades. Será um pacto: tomara que dê certo!

 Wesley PC>

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

EU TERIA TANTO A DIZER ACERCA DESTE LIVRO, MAS... DIGAMOS APENAS QUE EU O AMEI!

As primeiras cento e duas páginas da edição que possuo do romance 'noir' "O Longo Adeus" (1954), de Raymond Chandler, foram lidas no consultório público de um dentista. As demais duzentas e setenta e oito se espalharam por algumas semanas. Amei o tom melancólico e sarcástico do protagonista, que era, afinal de contas, um solitário, um devoto, um apaixonado. Tudo bem que, ao contrário do que ocorre na versão fílmica de Robert Altman, a afeição entre Philip Marlowe e Terry Lennox é muito mais rápida e fulminante no livro. Mas não é inconvicente nem num nem noutro caso...

Eu pensava em redigir uma resenha mais detalhada do que o livro me causou, de suas acachapantes reviravoltas, de seus personagens inesquecíveis, de seus diálogos sórdidos e realistas, de suas características literárias ímpares, mas... Fica pruma outra vez! Vou pôr a culpa na correria que me acometeu nesta semana... Mas o livro é excelente, ótimo para se dar de presente!

Wesley PC>

DISCO E FILME, AGORA, UM INSTANTE...

"De dentro da banheira eu tento entender 
O que sinto exatamente por você 
Faço muita espuma e no final 
Já não sei o que é sonho e o que é real 
Se eu sinto frio no sexto andar 
Eu me aqueço desenhando um sol 

A tempestade bate na janela 
Sem querer queimei o dedo e apaguei a vela 
Tento ler meu livro que ficou molhado 
Já não sei o que é presente e o que é passado 
Alguém me falou pra eu não cantar 
Mas se eu te enquadro num pedaço de ar 
Não posso ignorar os meus desejos 
Como faz pra continuar?
Como amar alguém que nunca vai merecer? 

 Enquanto alguns só pensam em morrer 
O diabo parece me temer 
Um homem bateu na minha porta 
Faz um tempo que eu não sei como chorar

 Nunca fugi, nunca escondi
 Os meus desejos por você
 Eu sempre fui o seu brinquedo
 Mas tudo tem um tempo pra durar

 Deito no tapete e sinto alegria 
Se alguém me liga a meia noite, me dá alergia 
Solto a fumaça em espiral 
Enquanto colo um adesivo no quintal 
A chuva fina me faz ficar longe demais 
Tenho medo de acordar e de olhar pra trás 

Sinto a pele enrugada dentro da banheira
 Já nem sei se ontem eu falei besteira
 Eu me perguntei pra sua mãe 
Se algum dia ela teve um anel
 E até comprei para o seu pai 
Um antigo LP
 Que embrulhei pra presente sem você perceber 

[...]

 E depois de um dia de sonho
 Você pode querer bem mais"...

Faz um tempinho que eu vi o filme do Sérgio Ricardo.  E ouço bastante o disco mais recente da Tiê nos últimos dias. Tudo porque o amor é livre. Mesmo quando é aprisionado por outrem...

Wesley PC>

ULYSSES GROSJEAN, MAL TE CONHECI E JÁ TE AMO!

Assuntos não faltaram para compartilhar, mas, sempre que eu vinha aqui, algo me interrompia e fazia com que eu me dispersasse, sem escrever o que eu tinha para dizer...

Seja como for, deixo agora, neste início de madrugada, um conselho: se, em algum momento, o filme "Depois do Sul" (2011, de Jean-Jacques Jauffret) estiver sendo exibido diante de ti, não perca a oportunidade: jogue-se que o filme vale muitíssimo a pena!

O modo como as tramas paralelas convergem para a tragédia cotidiana me fizeram pensar numa versão muitíssimo pessimista das obras da Agnès Jaoui. Este diretor tem estilo - e sabe escolher um ótimo elenco que é uma beleza. Deus benza!

Wesley PC>

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ALGUMAS BREVES PALAVRAS SOBRE O FILME DOMINICANO QUE VI ANTES DE DORMIR...

Quando me deparei com a sinopse de "A Filha Natural" (2011, de Letícia Tonos), exibido ontem à noite na TV Brasil, indiquei este filme a diversos amigos, visto que presumi que ele seria minimamente interessante enquanto exemplar do desconhecido cinema caribenho. Infelizmente, nenhum dos indicados pôde ver o filme até o final, o que é uma pena redobrada, pois, além de seus méritos eventuais, há muito o que ser discutido - num viés político - acerca do que este filme representa enquanto tentativa de visibilidade. Afinal de contas, quantos filmes produzidos pela República Dominicana costumam ser lançados anualmente?

Apesar de ser uma produção tipicamente centro-americana, a narrativa do filme lembra as tradições africanas [pensei especialmente no filme senegalês "Madame Brouette" (2002, de Moussa Sene Absa), muitíssimo divertido e dramático, que vi há bastante tempo, acompanhado por amigos], visto que fantasmas e crendices abundam...

Na trama, uma jovem órfã vai morar com seu pai - que não conhecia até então - depois que sua mãe é atropelada e morta, num acidente rodoviário. Este pai é assolado por uma suposta maldição, relacionada à sua falecida esposa e problemas de espólio territorial. Ele vive com um haitiano manco, saudoso de sua família e deveras crédulo acerca das supostas assombrações que circundam a residência. Até que a garota se apaixona por um belo rapaz tribal porto-riquenho, a quem é apresentada por uma dupla de moleques imitadores de jovens gangsteres: um garoto mudo, apelidado de Fera, e um guri de menos de 15 anos, que age como mafioso de gueto estadunidense. Só vendo o filme para crer: apesar de suas falhas e de atropelos audiovisuais, ele possui muito charme, uma ótima trilha sonora, atores bonitos e uma moral da estória conciliadora. Era do que eu estava precisando, antes de sonhar!

Wesley PC>