sábado, 10 de janeiro de 2015

DE QUANDO A ADESÃO PASSIONAL A UMA CAUSA REDUNDA EM COMPORTAMENTOS MERCENÁRIOS, POR FALTA DE ADESÃO...

Infelizmente, a versão do extraordinário "Carlos, o Chacal" (2010, de Olivier Assayas)a que tive acesso era deveras reduzida: o canal aberto Band exibiu a versão com pouco mais de três horas de duração, duas horas e meia a menos que o original. Seja como for, o filme estava muito bem remontado e compactado: fiquei impressionado com tudo o que senti durante a sessão!

Na obra, o ator venezuelano Édgar Ramírez interpreta o terrorista venezuelano que assume a alcunha do título. No primeiro terço do filme, ele deixa claro que age em nome de uma causa ideal antiimperialista. E está disposto a matar quem quer que seja (inclusive os amigos) por conta disso. No segundo terço, ele seqüestra importantes políticos que negociavam questões petroleiras mundiais. No terço final, ele adquire câncer testicular e é preso. Entre uma e outras partes, cenas de nudez (reduzidas na versão compacta, óbvia e infelizmente), sexo com armas, elã combativo, incompreensão, traições, desistências, vida real sendo reconstituída na tela...

Fiquei - muito mais que impressionado - escandalizado com o quanto me identifiquei em relação às contradições do personagem real, reiteradas pelo diretor, que ostenta um incrível viés politicamente autocrítico em suas obras recentes. Inspirado por uma delas, inclusive ["Depois de Maio" (2012)], agi impetuosamente no primeiro dia de 2014 e externei uma fúria que, incontida, desencadeou o fim de uma amizade relativamente harmônica perante diferenças de classe irreconciliáveis. Tudo indica que, neste ano conseguinte (vi os dois citados filmes assayasianos no primeiro dia de seus respectivos anos), rupturas semelhantes irão acontecer. Cabe a mim estar preparando para a inevitável solidão conseqüencial. Tal e qual ocorreu em relação ao protagonista do filme de 2010, aliás.

Vale acrescentar que a minha paixão extremada pelo personagem não deveu-se apenas à identificação com suas crises ideológicas nem tampouco com a atuação fortemente empática de Édgar Ramírez ou pelo tom aderente da direção, mas porque a personificação física de Carlos me fazia pensar com vigor nalguém que não vejo há mais de uma semana, por causa da rotina exaustiva (ao menos, em termo de horários) de meu novo trabalho como atendente de telemarketing. Estou sofrendo uma violenta crise de abstinência seminal, entre inúmeros outros problemas de readpatação. É hora de ser forte, Wesley. E de banhar-se também!

Wesley PC>